Estudo alerta para violência no X contra mulheres em funções públicas em Portugal
Foram definidas cinco categorias de análise dos conteúdos agressivos e violentos.
As mulheres com funções públicas e atividade na rede social X em Portugal são frequentemente vítimas de violência, tanto com ataques pelas suas capacidades como pela filiação política, revela um estudo internacional apresentado esta segunda-feira.
Na análise para Portugal, foram monitorizadas 43 contas na rede social X (antigo Twitter), de "perfis de mulheres com atividade conhecida e recorrente", durante o mês de setembro de 2024, explicou Marta Silva, chefe de equipa do Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).
Foram definidas cinco categorias de análise dos conteúdos agressivos e violentos e o trabalho visou perceber se as interações violentas eram apenas violentas em si ou se eram violentas porque eram especificamente dirigidas a mulheres com visibilidade no espaço público.
As categorias dividiam-se entre ameaças, subestimação das capacidades, comentários ao corpo e à sexualidade, ataques baseados na identidade e ataques com base na filiação política.
"Das quase 600 mil interações que foram analisadas, um quinto revelaram de facto conteúdos agressivos e violentos dirigidos às autoras destas partilhas", revelou Marta Silva, acrescentando que as 43 contas analisadas incluem "mulheres de todas as filiações partidárias e de vários espetros de ativismo".
A responsável frisou que, pela sua natureza específica e por terem sido analisadas apenas 43 contas, os dados não podem ser extrapolados para a realidade nacional.
Em termos globais, Portugal aparece no meio da tabela, com o México em primeiro lugar (40,6%), seguindo-se a Bolívia (39,9%), Uruguai (26,9%), Portugal (20,4%), Espanha (12,1%), Panamá (10,9%), Andorra (6,7%) e República Dominicana (5,2%).
"Quando olhamos para a categorização destes ataques, destas interações violentas, predomina, no caso de Portugal, a subestimação das capacidades, muito ancorada em estereótipos de género, (...) com ataques também à sua idoneidade", adiantou.
De acordo com Marta Silva, "60% das interações violentas são ataques diretos e questionamento da sua capacidade para estar a exercer cargos e para ter voz pública", havendo 41% de ataques à filiação política e ao empenhamento cívico.
Foram identificadas 13.704 contas que interagiram com as mulheres selecionadas, tendo-se contabilizado 5.340 contas violentas.
Dez por cento das contas mais violentas foram responsáveis por 30% das mensagens violentas.
Para a presidente da CIG, os dados são "uma ponta do icebergue", tendo em conta o período curto de análise e a "quantidade enorme de interações violentas".
"É fundamental um esforço coletivo para lidar, gerir, prevenir, combater esta realidade da violência digital que assume muitas formas e muitos alvos", defendeu Carina Quaresma.
A secretária de Estado Adjunta e da Igualdade, por seu lado, apontou que "a violência digital contra as mulheres é uma preocupação coletiva que exige, não apenas reflexão, mas também ação concreta por parte de todas as instituições públicas".
"Os resultados obtidos são um pequeno vislumbre das interações violentas a que as mulheres e raparigas são sujeitas todos os dias, em todas as redes sociais, quer tenham ou não uma voz ativa na sociedade civil", defendeu Carla Rodrigues.
Disse ainda que o estudo é um apelo à ação e que a violência digital não se combate apenas com leis, mas com educação digital, responsabilização das plataformas e políticas públicas que coloquem a igualdade no centro da transformação digital.
O estudo, "Prevenir a violência digital contra as mulheres na ibero-américa", avaliou a realidade de oito países, nomeadamente Portugal, além de México, Bolívia, Uruguai, Espanha, Panamá, Andorra e República Dominicana, e é da responsabilidade da Secretaria-Geral Ibero-Americana, uma organização internacional que apoia 22 países.
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