Finanças encontraram mais de 75 mil documentos relativos a pagamentos do INEM a bombeiros por validar

IGF alerta ainda para a possibilidade de incumprimento contratual por parte dos parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).

29 de setembro de 2025 às 11:25
Bombeiros INEM Foto: Direitos reservados
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A Inspeção-Geral de Finanças (IGF) encontrou no INEM mais de 75 mil documentos por validar relativos a pagamentos a bombeiros e Cruz Vermelha e aponta falta de transparência, deficiente prestação de contas e risco de duplo financiamento.

Na auditoria pedida pelo Governo ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), a que a Lusa teve acesso, a IGF fala de falta de transparência, deficiente prestação de contas por parte dos beneficiários dos apoios financeiros (bombeiros e Cruz Vermelha) e da ausência de "uma avaliação efetiva dos serviços prestados/resultados alcançados".

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Alerta ainda para a possibilidade de incumprimento contratual por parte dos parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).

A auditoria da IGF, que analisou sobretudo o período 2021/2024, diz que o financiamento dos bombeiros e Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) assentou em protocolos e despachos avulsos e regimes diversos, incluindo casos "sem evidente enquadramento normativo" e aponta "fragilidades relevantes" no processos de conferência dos subsídios pagos pelos meios protocolados.

Sobre os 75.492 documentos (verbetes) pendentes de preenchimento pelos parceiros ou de conferência/validação pelo INEM (69.512 e 5.980, respetivamente), indica que os mais antigos datam de 2022 e que o instituto se comprometeu a desenvolver uma plataforma para resolver e evitar estas situações.

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Diz ainda que não estão previstos mecanismos de comunicação com outras entidades públicas que também concedam subvenções aos bombeiros e CVP, apesar do "risco de duplo financiamento e sobreposição de apoios financeiros".

Segundo o documento, as transferências correntes do INEM aumentaram nos quatro anos analisados, representando no ano passado 53% (89,2 milhões de euros) da despesa total.

Estas transferências referem-se maioritariamente aos pagamentos associados à constituição e manutenção de Postos de Emergência Médica (PEM) e Postos de Reserva (PR), sendo as Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários (AHBV) as principais entidades destinatárias (74,9 milhões, em 2024), comparativamente aos outros intervenientes, como os municípios e a CVP.

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Considerando os dados dos primeiros quatro meses deste ano, a IGF admite que poderá vir a ser necessário um reforço do financiamento público ou, em última instância, uma alteração normativa que aumente a percentagem atribuída ao INEM sobre os prémios de seguros, para garantir o equilíbrio orçamental.

"Face à atual tendência da execução da despesa de 2025 e aos novos encargos assumidos, a estimativa da receita própria atualmente prevista (2,5% dos prémios ou contribuições relativas a contratos de seguros, conforme estipulado na respetiva Lei Orgânica) poderá revelar-se insuficiente para cobrir todas as necessidades financeiras do INEM, incluindo as decorrentes do reforço previsto de recursos humanos", refere.

A utilização dos saldos de gerência anterior também poderá revelar-se essencial para garantir o adequado equilíbrio orçamental, acrescenta.

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Segundo a IGF, o custo do INEM para cada cidadão português aumentou mais de 45%, ao passar de 11 euros (2021) para 16 euros (2024). Por sua vez, o custo por doente socorrido aumentou 29%, ao evoluir de 91 euros, em 2021, para 117 euros, no ano passado.

Sem alterações significativas na evolução da demografia portuguesa, a tendência crescente do custo 'per capita' do sistema de socorro pré-hospitalar resulta, em grande parte, das atualizações dos protocolos com a Liga dos Bombeiros e dos aumentos dos preços dos bens e serviços, refere a IGF, que aponta a necessidade de identificar poupanças para "uma gestão de meios mais económica".

Quanto ao novo acordo de cooperação assinado já este ano com a Liga dos Bombeiros Portugueses, a IGF estima um impacto financeiro de 25,2 milhões de euros, sublinhando que não está totalmente acomodado no orçamento de 2025, podendo ser necessário um reforço orçamental.

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Lembra igualmente que este acordo está dependente da realização de estudos e da adaptação dos registos e sistemas essenciais, como a aplicação das penalidades previstas".

Quanto aos requisitos da tripulação e à certificação de ambulâncias, aponta a falta de procedimentos sistematizados e regulares para a avaliação da atividade dos PEM e PR, incluindo quanto à eficácia e qualidade do socorro pré-hospitalar.

Acrescenta que em 2023 e 2024 houve mais de 2 mil recusas de acionamento de meios e mais de 18 mil casos de inoperabilidade, referentes a falhas no cumprimento dos protocolos, que não previam quaisquer penalidades para estas ocorrências.

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