Fisiatra do Sta. Maria aponta falhas na rede de reabilitação para a duplicação de cadeiras de rodas no caso das gémeas

Em Alcoitão houve uma primeira prescrição dos dois equipamentos destinados às gémeas, que foram entregues em março de 2023.

10 de janeiro de 2025 às 22:40
Hospital de Santa Maria Foto: Direitos Reservados
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O diretor do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Santa Maria apontou falhas na comunicação da rede de reabilitação, e atribuiu responsabilidades aos pais das gémeas por não informarem sobre as cadeiras de rodas prescritas em Alcoitão.

Ouvido esta tarde na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas como medicamento Zolgensma em 2020, o médico Francisco Sampaio detalhou a sucessão de acontecimentos que levaram a que o Estado adquirisse em duplicado cadeiras de rodas elétricas destinadas às duas crianças.

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De acordo com Francisco Sampaio, as gémeas luso-brasileiras foram atendidas na Unidade Local de Saúde de Santa Maria tendo sido, ao abrigo de um protocolo previsto para casos mais graves, referenciadas para o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.

Em Alcoitão houve uma primeira prescrição dos dois equipamentos destinados às gémeas, que foram entregues em março de 2023, à qual se seguiu também a do Hospital Santa Maria, sem que a mãe, nesse segundo momento, tivesse informado a médica responsável pelo caso de que esse equipamento já tinha sido prescrito.

O médico explicou que as cadeiras de rodas prescritas pelo Santa Maria acabariam mesmo por chegar ao hospital, após concurso público, no final de 2023, depois de falhas de comunicação entre o centro de Alcoitão, que funciona sob a tutela do Ministério da Segurança Social, e o Santa Maria, do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

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"Se nós tivéssemos sabido, nessa altura, que tinha sido feita essa entrega, ainda estaríamos a tempo de suspender a continuação deste concurso, mas como nada nos foi dito e como a última interação foi de que aquela era uma necessidade imperiosa e era por causa de duas crianças gémeas, o processo decorreu", detalhou Francisco Sampaio.

Questionado pela deputada socialista Ana Abrunhosa sobre se responsabilizava os pais das crianças pela duplicação de pedidos, o diretor do Santa Maria respondeu que "de certa forma, sim", explicando que na relação entre o médico e o doente espera que o paciente diga "exatamente o que se passa" e sublinhou a insistência da mãe para obter o conjunto de equipamento necessários para as filhas.

Responsabilizou também as limitações do sistema de comunicação entre as diferentes redes e, especificamente, do Instituto Nacional de Reabilitação que, disse, permitem a duplicação de pedidos.

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O médico disse que esta duplicação de pedidos é um problema importante na área da saúde, que é alvo recorrente de críticas dos profissionais, uma vez que permite a sobreposição da requisição de equipamento sem que os médicos disso se apercebam.

Perante esta duplicação, as crianças acabariam mesmo por perder o direito às cadeiras prescritas pelo Santa Maria, tendo essa decisão recebido respaldo jurídico do hospital, e os equipamentos ficaram à guarda do serviço de medicina física e reabilitação para lhes dar "melhor uso em situações que fossem necessárias", após uma deliberação do conselho de administração nesse sentido.

O médico revelou ainda ter sentido a necessidade de entender o que estava a acontecer perante o que caracterizou como um "inusitado caso" também depois de ter visto que, no Brasil, as gémeas dispunham já de cadeiras de rodas com objetivos semelhantes aos que viriam a ser prescritas em Portugal.

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O diretor do serviço de medicina física e reabilitação do Hospital Santa Maria garantiu, numa declaração inicial, não ter tido conhecimento de qualquer tipo de pressão para atender as gémeas luso-brasileiras.

Em fevereiro do ano passado, de acordo com uma notícia adiantada pela CNN Portugal, a família das gémeas luso-brasileiras perdeu o direito às cadeiras de rodas que lhes estavam destinadas no Santa Maria, no valor de 26 mil euros, porque nunca as chegaram a levantar.

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