Graça Freitas defende vacinação e combate à desinformação

Para e especialista, "única forma" de contrariar estes movimentos "é provar com transparência, com clareza, em diálogo constante com a sociedade, a vantagem das vacinas.

03 de outubro de 2025 às 07:59
Graça Freitas Foto: DR
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A ex-diretora-geral da Saúde Graça Freitas defendeu o combate à desinformação sobre a vacinação, lembrando que se espalha de forma viral e esconde a importância das vacinas, que se "tornaram vítimas do próprio sucesso" ao erradicarem doenças letais.

Em entrevista à Lusa por ocasião dos 60 anos do Programa Nacional de Vacinação (PNV), que se comemora no sábado, Graça Freitas disse encarar com "bastante preocupação" o crescente discurso antivacinas, inclusive por responsáveis políticos, como o presidente norte-americano, Donald Trump.

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Fazendo uma analogia com os vírus, a especialista em Saúde Pública afirmou que "há uma espécie de um contágio relacionado com a má informação, com a desinformação, com a criação de medos e de mitos que não são de facto verdadeiros, não são sustentados na ciência".

No seu entender, a "única forma" de contrariar estes movimentos "é provar com transparência, com clareza, em diálogo constante com a sociedade, a vantagem das vacinas (...) que são vítimas do seu próprio sucesso".

"No momento em que deixamos de ter as doenças, também não há perceção do risco que elas constituem", disse, lembrando doenças mortais como a difteria, cujo último caso ocorreu há mais de 30 anos em Portugal e no qual Graça Freitas trabalhou.

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A médica, responsável pelo PNV desde que ingressou na Direção-Geral da Saúde em 1996, reconheceu ser difícil as pessoas perspetivarem que estão a vacinar-se contra doenças erradicadas no país, mas salientou que é fundamental estarem cientes de que essas patologias que podem voltar a surgir.

"A vacinação é como alguém que tem miopia e usa óculos. Quando pomos os óculos, estamos bem. Se os tirarmos, estamos desprotegidos, não vemos. Com as vacinas é a mesma coisa", ilustrou.

Reforçou que as vacinas devem ser mantidas e atualizadas, e as gerações seguintes devem vacinar-se para garantir proteção de grupo: "Esta é uma das belezas da vacinação", comentou.

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"É um orgulho estar num país que aceita, adere e tem confiança na sua vacinação e faz parte deste projeto que ultrapassa os serviços de saúde. É um projeto da sociedade para o bem da sociedade", admitiu.

Mas, insistiu: "Para discutirmos este assunto temos de ter capacidade de comunicar, de informar e de ser completamente transparentes em relação aos resultados da vacinação, comparando o que foi a era antes da vacinação com a era da vacinação".

Para Graça Freitas, combater a desinformação passa também por reconhecer que "as pessoas têm medos e receios" e que "há mitos" e questões religiosas e filosóficas que exigem "um esforço bem feito por parte das autoridades de saúde e da sociedade" para garantir a continuação da vacinação.

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Graças Freitas comparou a vacinação ao acesso à água potável: "Não creio que ninguém estivesse disponível para abrir uma torneira e não ter água potável e adoecer por isso".

Enfatizou ainda que a vacinação representa "uma vantagem enorme" para a saúde individual, para a saúde pública, e para o progresso de um país" e, avisou, não se pode "andar para trás".

Portugal mantém-se como referência internacional na vacinação, com 98% a 99% das crianças vacinadas no primeiro ano de vida, segundo o relatório anual 2024 do PNV.

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O documento destaca que "as coberturas permanecem muito elevadas até aos seis anos de idade, atingindo ou ultrapassando, no geral, a meta dos 95%".

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