PNV foi determinante para a diminuição da taxa da mortalidade infantil, que foi de 2,98 óbitos por mil nados-vivos em 2024, quando em 1960 era de 76.
O Programa Nacional de Vacinação (PNV), criado há 60 anos, erradicou surtos de doenças como o sarampo, esvaziou enfermarias antigamente cheias de crianças com meningite e outras infeções graves e mudou o retrato da saúde infantil em Portugal.
O PNV, que faz 60 anos no sábado, foi determinante para a diminuição da taxa da mortalidade infantil, que foi de 2,98 óbitos por mil nados-vivos em 2024, quando em 1960 era de 76.
"É inegável o sucesso do nosso programa de vacinação", afirmou em entrevista à Lusa o pediatra Gonçalo Cordeiro Ferreira, antigo diretor de Pediatria no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, onde trabalhou várias décadas, até se reformar em 2023, e assistiu à evolução do programa e ao seu impacto na saúde infantil.
Quando iniciou o internato no Hospital D. Estefânia, em 1985, o cenário nos hospitais era bem diferente.
"Lembro-me de ir às enfermarias de doenças infetocontagiosas e estavam cheias de crianças com meningites", algumas com desfechos fatais e outras que ficavam com sequelas para toda a vida.
Na altura, o PNV não era "um programa vasto", mas incluía a maioria das vacinas fundamentais para prevenir "doenças gravíssimas" como o tétano, a difteria, a poliomielite.
O médico relatou que a vacina do sarampo era dada na altura após o primeiro ano de vida, por vezes aos 15 meses ou mais tarde, o que poderá ter contribuído para uma menor adesão à vacinação.
Recordou que, no início do seu internato, ocorreu "uma enorme epidemia de sarampo, com imensos internamentos e alguma mortalidade", o que levou ao lançamento de uma campanha de vacinação.
A campanha foi eficaz, mas cinco anos depois surgiu uma nova epidemia, embora menos grave do que a primeira. Só depois dessas duas "grandes epidemias" é que as pessoas começaram a vacinar-se sistematicamente e o sarampo foi praticamente erradicado em Portugal.
Apesar da elevada cobertura vacinal, Portugal tem registado casos importados de sarampo, pelo que a vigilância não pode abrandar: "O sarampo é muito perigoso, porque basta um pequeno descuido" para o vírus se espalhar rapidamente, alertou.
Para Gonçalo Cordeiro Ferreira, a introdução da vacina combinada do sarampo, papeira e rubéola foi "um passo em frente" na vacinação, seguida por outros marcos importantes que salvaram milhares de vidas.
Entre eles, destacou a progressiva inclusão de vacinas contra as várias formas de meningite bacteriana, que começou pela Haemophilus influenzae tipo b, depois o pneumococo e mais tarde os meningococos C e B.
Apontou também como "uma grande evolução" a vacina contra a hepatite B, lembrando que, quando começou a trabalhar em gastroenterologia pediátrica, havia muitos casos desta doença, sobretudo por transmissão da mãe para o bebé ao nascer.
"A vacina atual, que já é uma vacina de engenharia molecular, é fantástica, segura e eliminou praticamente a hepatite B em Portugal, na Europa, nos Estados Unidos e muito também na Ásia e em África", sublinhou.
Destacou ainda a importância da vacinação gratuita contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que desde o ano passado "modificou totalmente" o número e a gravidade dos internamentos, mas defendeu que deveria ser alargada a todas as crianças com menos de um ano.
Sobre vacinas que deviam ser incluídas no programa, Gonçalo Cordeiro Ferreira apontou a da hepatite A, sublinhando que já é comparticipada, pelo que bastava "um pequeno esforço" para ser incluída.
Também a vacina da varicela poderia ser incluída porque, apesar de ser "uma doença relativamente benigna", pode ter complicações sérias e obriga a criança a ficar em casa uma semana, o que tem impacto na vida das famílias.
O pediatra reconheceu, contudo, que Portugal é "um país limitado em termos financeiros": "Temos de escolher o que é melhor na relação entre gastos e vantagens e, portanto, também se compreende que não podemos ter tudo ao mesmo tempo, mas para lá caminhamos".
Apesar de todo o progresso alcançado, o pediatra afirmou que ainda há muito para fazer, pois muitas destas bactérias continuam a evoluir e escapam às vacinas.
"É uma luta constante (...), mas é uma luta que vale a pena", frisou.
Salientou que há doenças para as quais são urgentes vacinas, como o VIH - "talvez a mais importante" -, a malária, que seria "um bem para toda a humanidade", e a hepatite C, que continua a ser "um foco de infeção crónica hepática, apesar de haver tratamentos".
Para Gonçalo Cordeiro Ferreira, "o grande progresso" na saúde infantil resultou de dois fatores essenciais: "A melhoria das condições de higiene - águas canalizadas, saneamento, melhores estradas e melhores condições de habitação - e as vacinas que, mais até do que os antibióticos, revolucionaram de facto as doenças infecciosas".
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