Gripenet volta permitir à população participar na vigilância das infeções respiratórias
Plataforma eletrónica que monitoriza a ocorrência de infeções respiratórias agudas com base em informação autorelatada por residentes em Portugal, estava parada desde 2020 devido à pandemia de covid-19.
O sistema de vigilância participativa Gripenet volta esta sexta-feira a funcionar, permitindo à população colaborar na monitorização e investigação das doenças respiratórias e contribuindo para uma visão epidemiológica mais completa dessas infeções na comunidade, anunciou uma investigadora do INSA.
A plataforma eletrónica que monitoriza a ocorrência de infeções respiratórias agudas - https://gripenet.pt/home -, com base em informação autorelatada por residentes em Portugal, estava parada desde 2020 devido à pandemia de covid-19, contando em 2019 com mais de 2.000 participantes voluntários.
"A grande vantagem do Gripenet é que complementa os sistemas tradicionais de vigilância em saúde" ao incluir casos ligeiros de infeções respiratórias, como gripe e covid-19, de pessoas que não recorrem aos cuidados de saúde e que, normalmente, não entram nas estatística oficiais, disse à agência Lusa a investigadora Verónica Gomez, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
Além disso, permite estudar fatores associados à toma de vacinas ou procura de cuidados de saúde.
Dados recolhidos pelo Gripenet entre 2011 e 2017 indicam que cerca de 70% das pessoas com algum sintoma gripal ou sinal de infeção respiratória não recorrem aos serviços de saúde.
"Isto é um sinal de que a grande maioria das pessoas não recorre aos cuidados de saúde quando tem uma gripe. É uma grande fatia de pessoas" que se perde e que fornece informação essencial para compreender como as infeções respiratórias circulam na comunidade e como a população reage, seja indo ao médico, contactando o SNS 24 ou ficando em casa.
A investigadora explicou que a plataforma teve "uma pausa" a partir de 2020, coincidindo com o início da pandemia de covid-19, "onde todos os esforços em termos de recursos humanos e outros tiveram de ser alocados para o combate à pandemia, nomeadamente no Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge".
"Este período serviu para reformular totalmente a plataforma, porque assim conseguimos incluir outras infeções respiratórias, que não só gripe, que era o grande foco do Gripenet", sublinhou a investigadora do Departamento de Epidemiologia.
Por outro lado, também permitiu uniformizar a metodologia com os parceiros do consórcio europeu Influenza Net, para conseguir ter "uma visão também europeia do que se anda a passar em termos de infeções respiratórias e melhorar a plataforma".
Segundo Verónica Gomez, o registo 'online' é simples, sendo atribuído a cada participante um código de modo a que os investigadores não tenham acesso à sua identificação.
"Os pais ou tutores legais podem preencher questionários em relação aos seus filhos menores", explicou.
Cada participante inscreve-se na plataforma eletrónica, preenchendo um questionário de caracterização e semanalmente recebe um breve questionário para comunicar o aparecimento de algum sintoma respiratório durante a semana.
Este questionário demora cerca de três minutos a preencher se houver sintomas e apenas alguns segundos na ausência de sintomas.
Os resultados são apresentados semanalmente na plataforma e permitirão complementar a informação colhida através dos sistemas clássicos da vigilância da gripe e outros vírus respiratórios.
O Gripenet foi criado pelo Instituto Gulbenkian Ciência em 2004, inspirado num sistema holandês criado em 2003.
Em 2015 foi transferido para o INSA, que coordena a vigilância da gripe e outros vírus respiratórios em Portugal.
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