Mais de 400 idosos desabafam pelo telefone
Projeto da Câmara de Lisboa.
Mais de 400 idosos são acompanhados em Lisboa pelo projeto de Teleassistência da Câmara Municipal, no qual voluntários, a maioria dos quais também seniores, telefonam semanalmente para ouvir desabafos ou saberem se está tudo bem.
As pessoas a quem Manuela O., reformada, chama de os "seus meninos" têm entre 73 a 94 anos.
Aos 65 anos, a ex-funcionária da TAP é voluntária desde há dois anos e meio no serviço de Teleassistência da Câmara de Lisboa, um serviço telefónico gratuito que apoia sobretudo idosos, mas também portadores de deficiência.
O serviço entrega aos utentes um telefone simplificado e um colar com um botão de pânico, que permite uma ligação direta aos bombeiros a qualquer altura, para que os beneficiários se mantenham o mais autónomos possível nas suas residências.
Os voluntários como Manuela ligam uma vez por semana, em dia determinado, à lista de idosos que acompanham, para ouvirem as suas histórias, os seus lamentos, os seus desabafos e fazerem-lhes companhia.
Este serviço tem um total de 24 voluntários, 20 deles com mais de 60 anos (dos quais 12 têm mais de 65).
Os "meninos" de Manuela são sobretudo mulheres, mas há também quatro homens e alguns casais.
"Tenho casais em que eles tomam conta das mulheres. Normalmente, é ao contrário. Nos 'meus meninos' tenho um casal em que ela tem alzheimer e é ele que trata de tudo. É um bocadinho triste para quem quer uma companheira e não a tem. Quando o outro tem alzheimer não se tem uma companhia", disse.
Solidão
Muitos dos idosos com quem Manuela fala precisam apenas de ouvir e de falar com alguém. São pessoas que vivem sozinhas, muitas delas nunca tiveram filhos ou não têm família por perto, e ficam à espera que o telefone toque, para aqueles minutos de conversa.
Entre estas pessoas está o senhor que conta mais coisas à voz do outro lado do telefone do que à própria família, a senhora que mal falava, mas que agora quer saber tudo acerca dos netos da voluntária, à idosa de "90 e tal anos, acamada apenas porque cegou, mas que tem uma cabeça fantástica".
"Recita-me páginas do Eça de memória e isto é fabuloso. Mas são casos excecionais. A maioria das pessoas não é assim. Há pessoas com muito pouca cultura, alguns analfabetos, e a única companhia que têm é a televisão", contou.
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