Médicos ameaçam deixar urgência do Amadora-Sintra

Excesso de trabalho e mudanças de horários sem aviso levam médicos a alertar para o risco de rutura no serviço. Administração garante estar a implementar medidas, "que mexem com alguns interesses instalados".

26 de julho de 2025 às 01:30
Hospital Fernando Fonseca tem problemas na urgência há vários anos Foto: Tiago Machado
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O excesso de carga de trabalho pode levar médicos a deixar a urgência do Hospital Amadora-Sintra. O alerta é da Ordem dos Médicos (OM) e dos sindicatos, depois de um alerta de 19 médicos, que em carta aberta à administração da ULS Amadora-Sintra (ULSAS), avisaram que o serviço corre risco de rutura iminente. A recente abertura do Hospital de Sintra levou à partilha de profissionais entre as duas unidades, sobrecarregando ainda mais a urgência do Amadora-Sintra.

Ontem, às 15h00, era uma das unidades com mais utentes no serviço: tinha 72 à espera de 1ª observação, com tempo médio de 4h54m para os pouco urgentes e de 3h25 para os casos urgentes.

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"O alerta não pode ser ignorado. O Conselho de Administração tem de falar com os médicos, tem que ouvir os médicos, e sobretudo, ser aconselhado pelos médicos", frisou Luís Campo Pinheiro, do Conselho Regional do Sul da OM, após reunião com a administração da ULSAS. Em causa estão medidas que não foram transmitidas aos clínicos. "Estão a acontecer subitamente sem aviso prévio, como mudança de horários, mudança do local de trabalho, e isso a Ordem não concorda e não aceita".

O conselho de administração garante que tem havido reuniões com os chefes de equipa, e que a partir de agora vai reunir-se individualmente com cada um dos médicos, para "encontrar soluções".  Em comunicado, o conselho de administração da ULSAS explica que está a implementar várias medidas para melhorar o serviço de urgência do Hospital Fernando Fonseca, como o "redireccionamento de doentes não urgentes e emergentes preferencialmente para o SUB do Hospital de Sintra".

Foi também contratada uma nova coordenação para a gestão conjunta das urgências dos dois hospitais. "Está em preparação a criação de um Centro de Responsabilidade Integrada para a área da urgência, uma inovação organizacional que trará vantagens significativas tanto ao nível da gestão como da compensação dos profissionais que trabalham nos serviços de urgência, com base em critérios de produtividade e qualidade assistencial", explica a administração liderada por Carlos Sá, que salienta que estas alterações "inevitavelmente mexem com alguns interesses instalados, o que pode gerar resistências como as que atualmente se verificam".

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No primeiro semestre foram contratados para a ULSAS 61 novos médicos para a área hospitalar e 31 para os Cuidados de Saúde Primários. A ULS Amadora-Sintra serve mais de 560 mil utentes (5% da população portuguesa), sendo que mais de 192 mil não têm médico de família.

Seis urgências encerradas 

Este sábado e no domingo há vários serviços de urgência encerrados, segundo as escalas divulgadas pelo Serviço Nacional de Saúde. Nos dois dias estão fechadas as Urgências de Ginecologia/Obstetrícia (UGO) dos hospitais de Leiria, Aveiro e Vila Franca de Xira, e a urgência de Pediatria de Vila Franca de Xira. As UGO dos hospitais de Setúbal e das Caldas da Rainha estão fechadas durante do dia de hoje. Amanhã estão encerradas as Urgências de Ginecologia/Obstetrícia dos hospitais do Barreiro e de Santarém. Na 2ª feira está encerrado o SUB de Peniche, no dia seguinte não há urgência de obstetrícia (UO) em Santarém, e a UGO do Hospital Garcia de Orta, em Almada, está encerrada na 3ª e 4º feira. Na 5ª feira, volta a fechar a UO de Santarém e a UGO de Setúbal.

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Administração quis cirurgias adicionais

Foi a administração do hospital de Santa Maria (Lisboa) quem pediu aos dermatologistas para realizarem cirurgias adicionais, de modo a aumentar o financiamento do Estado à unidade de saúde. Segundo o 'Expresso', os médicos alertaram os gestores para os valores elevados de algumas cirurgias. A ideia seria os dermatologistas realizarem as cirurgias durante as consultas, sendo contabilizadas como exames. Desta forma, o hospital recebia do SNS o pagamento de um exame e não de uma cirurgia, enquanto os médicos só recebiam o salário. Os elevados gastos no serviço de Dermatologia estão a ser investigados pelo Ministério Público e já levou responsáveis do hospital a serem ouvidos no Parlamento. As auditorias internas confirmaram irregularidades no serviço, e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde concluiu que o hospital gastou 40 milhões de euros em cirurgias adicionais desde 2022.

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INEM Faltam enfermeiros

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses pediu uma reunião urgente ao Conselho Diretivo do INEM para "saber que respostas" tem para a falta de enfermeiros no instituto, para o não pagamento do trabalho extraordinário e para o "alargado" volume de trabalho suplementar.

Almada Governo corrige

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O Ministério da Saúde corrigiu ontem a informação publicada na quinta-feira em Diário da República, que determinou que a ULS Almada/Seixal tem 9 vagas para médicos alvo de incentivos pecuniários e outros. A Declaração de Retificação esclarece que as vagas são todas apenas para a especialidade de Ginecologia/Obstetrícia.

900 nas urgências

A meio da tarde de ontem os hospitais do SNS tinham 899 utentes à espera de 1º atendimento médico após a triagem. O tempo médio de espera nos doentes urgentes era de 1h34m. Na Grande Lisboa, o hospital com o tempo médio em observação mais elevado era o de Cascais, com mais de 16 horas, seguindo-se o S. F. Xavier: os utentes estavam em média quase 12 horas na urgência, desde a triagem até terem alta. 

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