Pior escola de Lisboa só teve uma positiva

Responsável da EB Pintor Almada Negreiros diz que a escola "não consegue resolver problemas estruturais da sociedade".

30 de novembro de 2014 às 11:47
escola básica pintor almada negreiros, escolas, notas Foto: Jorge Paula
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Os piores resultados são quase sempre obtidos por escolas situadas junto a bairros sociais e explicam-se pelo facto de a população escolar ser oriunda de famílias carenciadas. Este ano não foi exceção. Nos rankings do CM de 2014, a Escola Básica Pintor Almada Negreiros foi a pior de Lisboa do 9º e do 6º ano.

"Não há milagres, basta olhar para a realidade que nos rodeia, pessoas carenciadas que viviam em barracas na antiga Musgueira ou no Bairro de Angola e agora vivem aqui em bairros sociais. Apesar das lutas diárias, os resultados tardam em aparecer, porque a escola não consegue resolver os problemas estruturais da sociedade", afirma ao CM Rui Paulo Job, subdiretor do agrupamento, situado na Alta de Lisboa, frisando que apenas um aluno conseguiu positiva no exame de matemática.

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O responsável nota que há alguns anos "havia professores que acumulavam aulas aqui e no Colégio S. João de Brito", escola habituada aos lugares cimeiros dos rankings, para sublinhar que o problema não está no corpo docente.

Rui Paulo Job gostaria de ter mais recursos e critica a opção do Governo de premiar escolas pelos bons resultados. "Quem não tem problemas fica com mais créditos, quando escolas como a nossa é que mais precisam, para dar apoio aos alunos", disse, frisando contudo que o facto de o agrupamento ser Território Educativo de Intervenção Prioritária (TEIP) garante alguns recursos adicionais.

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O Ministério da Educação também premeia escolas que reduzam o abandono escolar, mas Rui Paulo Job afirma que essa tarefa por vezes é inviável. "Basta uma escola ter predominância de alunos de etnia cigana, como é o caso da nossa, para ser impossível combater o abandono porque, por uma questão cultural, as raparigas abandonam a partir dos 12/13 anos e os rapazes um pouco mais tarde".

"Aqui não fazemos seleção, aceitamos todos, e trabalhamos tanto ou mais do que nas escolas de elite mas os resultados custam a aparecer. Os casos de sucesso são residuais e como a fasquia aqui é mais baixa os poucos que chegam a cursos superiores sentem dificuldades", afirma o subdiretor, frisando que muitos alunos "só andam na escola para as famílias receberem o rendimento mínimo".

"A escola faz um bom trabalho e tem excelentes professores, que conseguiram que a minha filha melhorasse muito", afirma Cidália Fonseca, encarregada de educação, criticando o facto de "alguns pais darem força à má educação das crianças".

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O subdiretor reforça a ideia de que para as famílias dos alunos o problema nunca está nelas próprias mas sim na escola e nos professores, que são sempre responsabilizados pelas situações negativas que ocorrem.

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