Portugal gasta em saúde menos 22% do que a média europeia

Relatório da OCDE revela que País não sabe quantos médicos tem no ativo e que falta de profissionais leva a 19,8 milhões de horas extraordinárias anuais.

12 de dezembro de 2025 às 01:30
Relatório da OCDE revela problemas graves da Saúde em Portugal Foto: Pedro Catarino
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Portugal gastou 3001 euros por pessoa em saúde em 2023, menos 22% do que a média da União Europeia, apesar de a despesa pública em saúde ter aumentado quase 30 % em termos reais entre 2015 e 2023. Os dados do relatório ‘Perfis de Saúde dos Países’, divulgado pela OCDE, indicam que, ainda assim, Portugal gasta em saúde 10% do PIB e 15,9% da despesa pública. O documento alerta que “apenas 62% da despesa é financiada por fontes públicas”, enquanto 29% é suportada diretamente pelas famílias, o que revela “uma proteção financeira frágil, sobretudo para pessoas com menor rendimentos”.

O relatório alerta que “esta situação é preocupante, num contexto em que se projeta um regresso aos défices orçamentais a partir de 2026 e em que outras áreas competem pelo orçamento público”.

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A falta de profissionais e o envelhecimento das equipas é um dos maiores problemas, sendo Portugal “um dos três países da UE que não consegue reportar o número de médicos no ativo”. O estudo garante ainda que os dados oficiais de 5,8 médicos com autorização para exercer por 1 000 habitantes incluem reformados e médicos que não exercem, o que sobrestima a capacidade real do país.

“Um terço dos especialistas do SNS e um quinto dos enfermeiros têm 55 ou mais anos, 12 % dos médicos têm mais de 65 anos, cerca de 1,6 milhões de pessoas (15 % da população) não têm médico de família atribuído, as necessidades não satisfeitas de consulta de medicina geral e familiar são cerca do dobro da média da EU”, refere o documento, acrescentando que “as necessidades médicas não satisfeitas devido a listas de espera triplicaram desde 2014 e quase 10 % dos residentes estão numa lista de espera para consulta de especialidade”.

Para colmatar a falta de profissionais, houve “19,8 milhões de horas de trabalho extraordinário” e “volumes elevados de trabalho contratado a prestadores de serviços externos em 2022”. Isto tem conduzido a um “absentismo mais elevado no SNS do que no mercado de trabalho em geral, com mais de metade dos médicos internos a terem “sintomas de burnout após cargas significativas de trabalho extraordinário”. Um quarto das vagas de internato em medicina geral e familiar ficou por preencher em 2024, uma vez que “muitos médicos mais jovens optam por trabalho ‘à tarefa’ melhor remunerado, apesar dos novos contratos de Dedicação Plena e dos aumentos salariais”.

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Por outro lado, Portugal construiu “um dos sistemas de saúde digitalmente mais avançados da UE”, mas há também “vários desafios”, devido aos ciberataques que tornaram a cibersegurança uma prioridade central do sistema.

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