Milhares de professores não chegam para encher o Terreiro do Paço
Docentes ameaçam greve às avaliações se o parlamento chumbar recuperação do tempo de serviço.
Milhares de professores manifestaram-se este sábado em Lisboa, num protesto liderado por um boneco cabeçudo que pretendia representar o primeiro-ministro António Costa, com um cartaz a dizer "Roubo 6,5 anos", o tempo de serviço congelado a esses profissionais.
No final da manifestação Mário Nogueira, da Fenprof ameaçou com uma nova greve às avaliações a partir de junho, se, até lá, o decreto em vigor que prevê a recuperação de dois anos, nove meses e 18 dias de serviço não for corrigido no Parlamento. Os professores exigem recuperar nove anos, quatro meses e dois dias e preparam novo protesto para 5 de outubro, véspera das eleições legeslativas.
Terreiro não encheu
A manifestação terminou por volta das 18h15 no Terreiro do Paço, em Lisboa mas falhou o objetivo de encher a principal praça da capital. Os sindicatos chegaram a falar de 80 mil pessoas, mas segundo o que o CM conseguiu apurar, estiveram presentes cerca de metade do número anunciado pela organização do protesto.
Ficou assim por alcançar o objetivo de Mário Nogueira, da Fenprof. "É um espaço enorme. Evidentemente que poderíamos ir para um espaço mais pequeno, para a Assembleia da República, que é mais apertado, mas quisemos mostrar ao Governo, ao poder e aos portugueses que a indignação dos professores este sábado é igual à que tiveram quando lhes tentaram dar cabo da carreira. Portanto, o Terreiro do Paço é como o algodão, não deixa enganar. Ou está cheio ou não está cheio", disse à agência Lusa o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores.
Greve às avaliações se "decreto do roubo" não for alterado
Os professores vão fazer greve às avaliações e uma manifestação nacional na véspera das eleições legislativas caso a recuperação de anos de serviço prevista no que consideram o "decreto do roubo" não seja alterada no parlamento.
Os docentes protestam contra o decreto-lei do Governo que veio devolver dois anos, nove meses e 18 dias de serviço congelado, por entenderem que o diploma "apagou" os restantes seis anos e meio de serviço que trabalharam.
Para secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, o Governo aprovou um "decreto do roubo", diploma que acabaria por ser promulgado pelo Presidente da República e publicado na semana passada em Diário da República.
Descida desde o Marquês
A manifestação começou pelas 15h00 com a concentração na Praça Marques de Pombal e cerca de meia hora depois iniciou-se o percurso em direção à Praça do Comércio, de milhares de professores de todo o país, que exigem a contagem integral do tempo de serviço: nove anos, quatro meses e dois dias.
No início deste mês, o Governo aprovou um diploma que contabiliza menos de três anos de serviço, para efeitos de progressão na carreira.
O diploma já levou PCP, BE e PSD a anunciarem que vão apresentar uma apreciação parlamentar dentro de um mês.
Em declarações aos jornalistas, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, apontou 16 de abril, dia da apreciação parlamentar do diploma, como um ponto crucial na luta dos professores.
O diploma do Governo que aprovou a contagem de dois anos, nove meses e 18 dias de serviço, é, segundo Mário Nogueira "um roubo aos professores".
O protesto é organizado pelas dez estruturas sindicais, que durante mais de um ano tentaram negociar, sem êxito, a recuperação do tempo de serviço, segundo fonte sindical
"Teste do algodão"
Os professores fazem este sábado o "teste do algodão" à luta pela recuperação total do tempo de serviço congelado, levando uma manifestação nacional para o espaço em Lisboa que "não engana" quanto ao nível de adesão - o Terreiro do Paço.
Há recados a passar aos partidos, dos quais os professores esperam uma solução via Assembleia da República, mas "também há um desafio aos professores".
"Se há um desafio aos partidos de que compreendam a indignação e a justiça da reivindicação dos professores, que é contarem-lhes o tempo que trabalharam, também há um desafio aos professores, que é encher o Terreiro do Paço sob pena de se passar uma mensagem de fragilidade, e isso pode ser muito complicado", disse Mário Nogueira.
Os sindicatos não se comprometem com números, mas querem uma manifestação a fazer lembrar aquela em que contestaram, em 2008, as mudanças na carreira propostas pela então ministra, também socialista, Maria de Lurdes Rodrigues, e são esperados em Lisboa centenas de autocarros vindos de todo o país.
Para a manifestação os sindicatos levam os resultados dos inquéritos colocados aos professores nos plenários das últimas semanas, e dos quais saíram dados como cerca de 96% dos docentes mantêm a exigência de ver todo o tempo de serviço contado e cerca de 88% não estão dispostos a um faseamento dessa recuperação que ultrapasse o prazo adotado na região autónoma da Madeira, ou seja, 2025.
Mostraram-se ainda dispostos a nova manifestação nacional a 05 de outubro, dia Mundial do Professor que este ano coincide com a véspera das eleições legislativas.
Os professores deverão também marcar presença na Assembleia da República a 16 de abril, data da apreciação parlamentar anunciada já por BE, PCP e PSD ao decreto do Governo que apenas recupera dois anos, nove meses e 18 dias, uma solução unilateral do executivo com base em argumentos de sustentabilidade financeira e tomada depois de falhadas as negociações com os sindicatos.
Do resultado dessa apreciação parlamentar ficam pendentes novas ações de protesto no 3.º período escolar e período de exames e avaliações: convocação de nova manifestação; greves de um dia em diversas semanas; greve coincidente com o período de avaliações a partir de 6 de junho; greves coincidentes com dias de exame e provas finais; greves por regiões ao longo de diversas semanas podem avançar se os partidos não se entenderem numa solução que vá ao encontro das reivindicações dos professores, podendo mesmo a luta estender-se ao arranque do próximo ano letivo.
"Se todos os partidos forem coerentes com a afirmação de princípio que têm feito e o PS com aquilo que tem sido a sua prática nas regiões [autónomas] até poderá ser encontrada uma solução por unanimidade. Era bom, era o consenso absoluto. Se não for, a luta vai estar aí", disse Mário Nogueira.
O secretário-geral da Fenprof, que tem falado em nome da plataforma sindical, disse ainda que seria "muito agradável" ver partidos e centrais sindicais na rua, ao lado dos professores, mesmo não tendo sido feito nenhum convite nesse sentido.
"A rua é aberta e era muito agradável que todos os partidos estivessem na rua, não necessariamente a desfilar, mas a pelo menos a manifestar a sua solidariedade com os professores e estarem ali presentes e serem visíveis. Era muito bom que as centrais sindicais também o fizessem".
Até ao final do dia de sexta-feira, estavam confirmadas as presenças dos líderes nacionais do BE, Catarina Martins, e do PCP, Jerónimo de Sousa, assim como do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
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