Sala de consumo vigiado de drogas com o triplo de utentes

Consumo de drogas voltou a subir por efeito da pandemia.

21 de novembro de 2021 às 10:07
Espaço lisboeta é a primeira sala de consumo vigiado de drogas no País e é visitado diariamente por 200 pessoas
Utentes estão satisfeitos Foto: ANTÓNIO COTRIM/lusa

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Em seis meses, a primeira sala de consumo vigiado de drogas do País regista 862 utentes: o triplo do estimado. O número surpreende Elsa Belo, diretora técnica da Ares do Pinhal, associação dedicada à recuperação de toxicodependentes e gestora do espaço, instalado em Alcântara, perto do antigo Casal Ventoso, Lisboa.

“Inicialmente tínhamos feito um diagnóstico da zona e imaginávamos que poderiam circular aqui neste bairro cerca de 300 consumidores”, diz a responsável à Lusa, acrescentando que em três anos, dado o impacto da pandemia, muitos utilizadores que tinham deixado as drogas voltaram a consumir. Em causa está uma “franja da população” que, numa crise, é das primeiras “a ser excluída” porque “tem empregos sem proteção social”, ligados à restauração, aos táxis e aos ubers.

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Dos 862 utentes (200 dos quais frequentadores diários da sala), a maioria são homens (85%) e a média de idades está nos 44 anos, com o mais novo a ter 20 e o mais velho 70. Segundo dados da associação que gere o projeto tutelado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), ali fazem-se sobretudo consumos fumados (72% do total) e trabalham 19 pessoas, entre enfermeiros e técnicos de acompanhamento psicossocial. Poucos para os quase 900 utentes, que se deslocam ao espaço para consumir sob vigilância, sabendo que serão socorridos em caso de overdose e que podem também recorrer a tratamentos e rastreios médicos, serviços de enfermagem, higiene pessoal ou refeições.

Elsa Belo diz que a comunidade acolheu bem o projeto, por ter retirado o consumo da rua, e até se mobiliza, fazendo doações para o banco de roupa.

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Consumidores dizem-se “acarinhados”

Ricky R., de 44 anos, vive no Campo Pequeno e é um dos 862 utentes registados na sala de consumo de droga vigiado de Lisboa, perto do antigo Casal Ventoso. Diz que frequenta o espaço todos os dias, “de manhã, à tarde e à noite”, por razões de “higiene” e de “segurança”, mas também porque ali encontrou um espaço de respeito e “carinho”. “Sinto-me confortável dentro desta casa, porque aqui não somos discriminados”, diz ele, que consome drogas desde os 16 anos. “Toda a gente que trabalha cá nos dá conforto. Não nos sentimos lixo.”

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