Primeiro doente foi um jovem vítima de AVC.
O jogo de apostas Totobola foi inventado para financiar a construção de um centro de reabilitação para mutilados da guerra colonial, o Alcoitão, que faz hoje 50 anos e que teve como primeiro doente um jovem vítima de AVC.
Um homem de 32 anos, da região do Cartaxo, foi o primeiro internado no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA), faz hoje precisamente 50 anos, especificou à Lusa a administradora e diretora clínica do Centro, Maria de Jesus Rodrigues, acrescentando que hoje cerca de 60 por cento dos doentes internados são casos de acidentes vasculares cerebrais (AVC), bem diferente do que foi pensado em 1966.
1 / 6
O Centro seria inaugurado oficialmente em julho desse ano, na localidade do concelho de Cascais, pelo então Presidente da República, Américo Thomaz, mas "nascera" dez anos antes na cabeça do subsecretário de Estado da Assistência Social, José Guilherme de Melo e Castro, que, quando da inauguração, era já o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entidade envolvida no projeto desde o início.
"Era um visionário, na altura, porque o Centro mantém-se, em termos de estrutura, muito atual. E foi pioneiro. O Centro foi, durante 40 anos, único no país e foi criado para os doentes físicos essencialmente da guerra colonial, para dar apoio às incapacidades que [daí] resultaram", conta a responsável, salientando que, desde logo, foi pensado para outros doentes e que a criação do centro foi uma nova forma de se pensar nos incapacitados e na deficiência.
Maria de Jesus Rodrigues lembrou também outra curiosidade, o facto de o CMRA ter sido construído com dinheiro proveniente do Totobola, pensado por Melo e Castro e criado por decreto em 1961, sendo explorado e administrado pela Santa Casa e, com os lucros divididos a meio, 50 por cento para construir o Centro e 50 por cento para as federações desportivas e o fomento da educação física.
Ainda hoje o CMRA recebe uma percentagem dos lucros do Totobola, atualmente quase simbólica, disse a administradora, recuando depois de novo a 1963, para lembrar que toda a equipa técnica inicial foi formada nos Estados Unidos e que o Centro passou para o Ministério da Educação, em 1975, e que só regressou à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa nos anos de 1990.
Hoje, com meio século, o centro de Alcoitão está "muito motivado para as novas tecnologias", porque se quer "manter pioneiro". "Fomos durante 40 anos sozinhos no país, hoje há quatro centros, e queremos manter a excelência e o pioneirismo, e isso consegue-se com as pessoas e estar atualizado com as novas tecnologias", diz Maria de Jesus Rodrigues. Um robot de marcha para treino é a última aquisição.
Mas o que a entusiasma são as "residências assistidas", um "sonho antigo" e que são hoje inauguradas.
E explica assim o sonho: O doente vem sempre com expectativas muito altas, que sai daqui bom, e, infelizmente, na maior parte dos casos, tal não é possível. Depois tem barreiras arquitetónicas em casa, e na chegada a casa. "Por isso as residências são para se familiarizarem com o estarem sozinhos, estarem nas suas casas, no seu canto, e nos exporem as dificuldades que têm, que tentamos colmatar com uma equipa multidisciplinar, indo ao encontro do que o doente necessita, para regressar mesmo à sua habitação".
A diretora clínica diz, no entanto, que 60 por cento dos doentes que passam pelo Alcoitão são reintegrados na família e "uma grande parte" retoma a vida profissional. Mas admite que há também situações muito difíceis, como três casos recentes de AVC, com mulheres que acabaram de ter filhos, e garante que, para todos, estão preparados os cerca de 500 funcionários.
Na sala de Terapia Ocupacional, por exemplo, está um deles ao lado de uma mulher que tenta preencher pequenos buracos, outro ao pé da mesa onde se passam objetos de plástico de um lado para outro, por um tubo em arco, mais dois a ajudar um homem a construir palavras (uma espécie de jogo para crianças), mais um a ver outro doente simplesmente a movimentar um braço.
Maria de Jesus lembra os "três ou quatro" casos de pessoas amputadas de braços e pernas que conseguem hoje ser autónomas, muito graças à evolução na área das próteses, há 50 anos feitas de madeira e agora de fibra de carbono, ontem e hoje fabricadas no centro.
Neste meio século, também se evoluiu no número de camas, de 80 para 150, e na forma de tratar os doentes. "Há 50 anos a preocupação era a reabilitação motora, hoje também há um grande estímulo para a parte cognitiva".
Maria de Jesus não sabe quantas pessoas já passaram pelo centro. Mas sabe que são 700 internados, 10 mil em ambulatório e 600 mil tratamentos em cada ano.
De pessoas de 90 anos que saem de lá "a andar", a jovens com acidentes de mota. Para todos, o Centro tem o mesmo objetivo, nas palavras de Maria de Jesus: "Queremos restitui-los à vida".
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.