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Agricultores de Alfândega da Fé começam a salvar terras ardidas com apoio do Governo

Carlos Almendra e o irmão perderam cerca de 80 hectares de olival, vinha e amendoal e tiveram uma perda total das colmeias.

23 de setembro de 2025 às 08:28

Alguns agricultores de Alfândega da Fé, que foram afetados pelos incêndios de agosto, já receberam os 10 mil euros de ajuda do Governo e planeiam começar a salvar as propriedades, adiantaram, à Lusa, os lesados.

Carlos Almendra e o irmão perderam cerca de 80 hectares de olival, vinha e amendoal e tiveram uma perda total das colmeias, uma vez que o fogo consumiu as cerca de 300 que tinham.

Face ao prejuízo, que Carlos Almendra disse que supera o meio milhão de euros, há duas semanas candidatou-se ao apoio simplificado do Governo, de 10 mil euros. Uma semana depois recebeu a ajuda.

O agricultor considera que 10 mil euros "é pouco" e "não chega", mas dá "alguma esperança" e servem "para começar a trabalhar e a reerguer aquilo que se estragou".

"É muito importante para poder começar a trabalhar a terra e fazer face aos prejuízos que tivemos. Vamos começar a compôr a rega, reabilitar todo o sistema de rega que estava na nossa exploração e também plantação de novas árvores", adiantou à Lusa.

Admite que foi "relativamente fácil" submeter o pedido de apoio e que "não estava à espera" que recebesse o dinheiro "tão rápido".

No entanto, Carlos Almendra aguarda que o Governo lance a "medida de apoio 6.2", como no ano anterior, que se destina ao restabelecimento do potencial produtivo e consiste em ressarcir 85% os lesados que tiveram prejuízos até 50 mil euros e de 50% para quem teve prejuízos superiores a 50 mil euros.

"Há uma sensibilização por parte do Governo para poder ajudar. Vamos ver como é que vem essa ajuda. Quem tem um prejuízo de 50 mil euros e é financido 85% é perfeitamente possivel para um agricultor reerguer-se. Acima de 50 mil euros, se vier com uma ajuda de 50%, quem perder meio milhão de euros e ir à banca pedir 250 mil, não dá, porque a agricultura não vai dar logo nesse ano, vamos ter de esperar três, quatro, cinco anos para poder voltar a dar dinheiro", explicou.

Carlos Almendra vive inteiramente da agricultura. Sem "boas ajudas" equaciona reduzir a produção e "redesenhar toda a estrutura".

"Vai ser uma luta muito grande. Os prejuízos foram muito grandes e vai ser preciso muito tempo e mais apoios para voltar a por tudo em condições", referiu à Lusa, explicando que seria importante que o próximo apoio do Governo "viesse rápido, porque a agricultura não espera".

Outro dos agricultores lesados foi Bruno Veríssimo. Os estragos não foram tantos como os de Carlos Almendra, mas o fogo ainda lhe destruiu cinco hectares de olival e amendoal.

Também já recebeu os 10 mil euros de apoio. À Lusa adiantou que este valor cobre apenas 25% do prejuízo e que terá de "penar 10 ou 15 anos para ter aquilo que produzia". Ainda assim, reconhece que o apoio "dá muito jeito" e é uma "grande ajuda", e está a permitir "avançar com as máquinas" e tratar a terra.

"Neste momento, iria vender a amêndoa que iria apanhar. Estamos a falar de uma média, anual, de oito mil euros. Este ano fiz zero. Neste momento, os 10 mil euros servem para colmatar os custos essenciais", explicou.

Por outro lado, receia que as restantes ajudas do Governo possam ser demoradas.

Além dos prejuízos causados, em termos materiais, Bruno Veríssimo lamentou que o fogo tenha provocado perdas genéticas. "Arderam-me oliveiras com mais de 500 anos. Arderam-me amendoeiras tradicionais com 60 ou 70 anos e não vamos recuperar estas amendoeiras. Vamos reduzir o nosso fundo genético", disse, acrescentando que possivelmente algumas variedades de plantas irão acabar.

O produtor é também bombeiro de profissão e reconhece que os incêndios deste verão vieram colocar em causa algumas práticas, como a rega gota a gota com mangueiras à superficie, e o errelvamento do terrenos, que serviria para proteger o solo e para promover a biodiversidade e a polonização, mas que não travaram as chamas.

"As práticas agrícolas vão ter de se adaptar às alterações meteorológicas", defendeu.

Ainda no concelho de Alfândega da Fé, em Vilarelhos, Pedro Morgado foi outro dos levados, com 50 hectares de olival, amendoal, vinha e floresta ardidos. Só em mangueiras de rega gota a gota, o prejuízo superior os 10 mil euros.

À Lusa avançou que na terça-feira vai receber a auditoria dos técnicos para confirmarem os estragos e poder receber o apoio. Da mesma forma que considera que o processo está a decorrer com rapidez, também espera que o dinheiro lhe será atribuído brevemente. "Os 10 mil euros fazem toda a diferença neste momento", vincou.

O incêndio que consumiu 1.500 hectares de Alfândega da Fé, segundo dados do município, começou a 18 de agosto em Mirandela e alastrou-se aos concelhos de Vila Flor e Alfândega da Fé no dia seguinte, afetando assim um dos corações da agricultura no nordeste transmontano, o Vale da Vilariça.

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