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Desinformação em 2025 centrou-se na imigração e visou sobretudo muçulmanos

Nesta matéria "o que há de comum é a imigração e o foco num tipo específico de imigrantes", diz Gustavo Cardoso.

18 de dezembro de 2025 às 09:31

A imigração, em particular associada a comunidades muçulmanas, foi o principal foco da desinformação em Portugal ao longo de 2025, afirma o coordenador do projeto de combate à desinformação Iberifier em Portugal, Gustavo Cardoso.

Contactado pela agência Lusa, no âmbito deste projeto, o professor do ISCTE afirmou que o principal tema de desinformação em 2025 "tem a ver com a imigração, com foco essencialmente na ideia de que os imigrantes têm uma religião em comum, que é o Islão".

"A violência, a criminalidade, algum tipo de caos social, mas também acusações falsas de que os imigrantes são privilegiados no acesso à saúde, à educação, que recebem benefícios sociais e mesmo habitação, são diferentes exemplos do que é construído em torno na desinformação sobre a imigração, essencialmente imigrantes muçulmanos", explica o sociólogo.

Gustavo Cardoso menciona ainda a "ideia de substituição demográfica pelos imigrantes e a consequente perda da identidade portuguesa" enquanto narrativas construídas a partir de episódios reais, como as questões do Martim Moniz.

Apesar de todas as narrativas e especificidades desinformativas, o académico refere que nesta matéria "o que há de comum é a imigração e o foco num tipo específico de imigrantes, que não são brasileiros ou ucranianos, mas os muçulmanos".

"Este ano fica marcado por esta tipificação do imigrante", sublinha.

Além disto, para o coordenador do Iberifier existem alguns aspetos que marcaram 2025 em termos de desinformação.

Em primeiro lugar, há uma continuidade da politização da desinformação, sobretudo associada aos ciclos eleitorais e em trono da temática da imigração, como já foi explicado.

"Não mudou a politização, que é assente em termos de imigração e potenciada pelos ciclos eleitorais que ocorreram durante o ano", explica o sociólogo.

Por exemplo, no caso das eleições legislativas, nas redes sociais a imigração alcançou 21 milhões de visualizações, cinco vezes mais do que a corrupção, o segundo tema mais comentado.

Em segundo lugar, continua a verificar-se a internacionalização das narrativas comuns em todos os sítios, mas que tem uma reinterpretação para o contexto de cada país.

"Existem narrativas que vêm de fora, mas que são utilizadas em Portugal para focar determinadas temáticas", refere o académico.

Em terceiro lugar surge "a normalização da Inteligência Artificial (IA) generativa, utilizada para fraudes e essencialmente com o objetivo de ampliar o alcance e a credibilidade daquilo que se pretende que as pessoas façam".

Em quarto lugar, elenca Gustavo Cardoso, o uso sistemático de crises reais, como o apagão ou os incêndios, enquanto plataformas para criar "indignação emocional que serve para gerir outro tipo de desinformação".

Desta forma, "a desinformação está sempre presente no quotidiano, embora não se dê conta. Ainda assim, quanto mais eleições existirem, maior é a probabilidade, em termos de fenómeno desinformativo", rematou o universitário.

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