Estatísticas entre 2022 e 2024 dão conta de que a associação apoiou 10.261 pessoas, o que representa um aumento de 23% no decorrer destes três anos.
Por cada homem vítima de violência que pede ajuda, estima-se que haja pelo menos outros dois que não denunciam a situação, disse à Lusa o psicólogo e assessor da direção da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
As estatísticas mais recentes da APAV sobre vítimas no masculino, relativas ao período entre 2022 e 2024, dão conta que a associação apoiou 10.261 pessoas, o que representa um aumento de 23% no decorrer destes três anos.
Em entrevista à agência Lusa, Daniel Cotrim explicou que esta evolução tem a ver com uma maior consciencialização para o tema da violência, mas lembrou que "há sempre o outro lado da moeda".
"Por cada uma destas vítimas apoiadas, destas 10.200 vítimas do sexo masculinas apoiadas, nós sabemos, porque é o que os estudos de incidência e prevalência nos dizem, que há sempre pelo menos duas pessoas, dois homens, que não vão denunciar a situação", revelou.
Significa que o número de vítimas masculinas a pedir ajuda à APAV poderia ultrapassar as 30.700.
"Temos sempre a noção de que a realidade é muito superior àquela que nós vemos através dos números que nos são apresentados através dos pedidos de ajuda que nos chegam", afirmou, apontando que, por esse motivo, "é sempre complicado" afirmar que a violência está a aumentar.
Segundo o responsável, esta dificuldade em pedir ajuda tem também a ver com a "ideia profundamente estereotipada" e "cheia de preconceitos" que a sociedade ainda tem sobre a condição de vítima, em que "vítimas são as mulheres" e a "palavra vítima está muito conotada, de forma errada, com uma ideia de fragilidade e vulnerabilidade".
"O que a sociedade percebe é que os homens não são frágeis nem são assim tão vulneráveis e o que estes dados nos vêm mostrar é exatamente o contrário disto, ou seja, os homens são tão vulneráveis a situações de vitimação como as mulheres, portanto não é uma questão de género", salientou.
Por outro lado, explicou que a vergonha e o medo do julgamento de terceiros também dificultam falar sobre violência, o que, defendeu, remete para as questões da masculinidade e do que é ou não é ser-se homem.
Apontou que os três crimes mais denunciados à APAV remetem "para questões de fragilidade e de vulnerabilidade", desde logo violência doméstica, com 11.906 crimes denunciados, mas também crimes de ofensa à integridade física (885) e crimes de ameaça/coação (731).
Por outro lado, 36,6% das vítimas masculinas que pediram ajuda à APAV foram alvo de violência continuada, um dado explicado pelo facto de "a grande maioria dos pedidos de ajuda de homens acontecerem no âmbito da violência doméstica" e de a "violência doméstica ser um crime continuado".
Daniel Cotrim explicou que, no caso da violência doméstica, "a escalada da violência é muito rápida", com casos de homicídios, e que é esse ciclo de violência que está por trás da demora na apresentação de denúncia, havendo registo de 19,8% de vítimas que demoram entre dois e seis anos e 10,9% que precisa de doze anos ou mais.
Associada à escalada de violência vem também a vergonha: "não é natural na cabeça dos homens uma mulher ser agressora, portanto um homem tem a capacidade alegadamente de se defender, mas isto é o mito, é o estereótipo", sublinhou.
A mesma ideia de masculinidade explica que o primeiro contacto destas vítimas com o sistema de proteção seja através da APAV e não com a polícia ou com um tribunal, tendo Daniel Cotrim admitido que o sistema "não é condescendente com os homens" e ainda tem "muitos preconceitos à mistura".
Para o responsável, o trabalho para o futuro tem de continuar a passar pela educação e pela prevenção, investindo na igualdade de género nas escolas e falando sobre o que são os papéis dos homens e das mulheres, de como eles se complementam, ao mesmo tempo que é preciso encarar "a figura masculina como vítima e olhar para isto de forma perfeitamente natural" e "desmontar as ideias erradas da masculinidade tóxica".
Para Daniel Cotrim, este é um trabalho que tem vindo a ser feito, mas que tem de ser continuado, salientando que os discursos de misoginia estão cada vez mais presentes e alertando para os jovens adolescentes que têm "acesso direto a este tipo de discurso".
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.