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Excrementos com 300 milhões de anos recriam vida antiga a nível molecular

Estudo descobriu que as moléculas foram preservadas graças a minúsculos grãos de carbonato de ferro espalhados pelo fóssil.

23 de setembro de 2025 às 07:44

Fósseis de excrementos com 300 milhões de anos forneceram informações sobre a forma como certos minerais preservaram a informação biológica ao longo da história da Terra, segundo um estudo.

Um estudo liderado pela Universidade de Curtin, na Austrália, publicado na revista Geobiology, examinou coprólitos, principalmente do sítio fóssil de Mazon Creek, nos Estados Unidos.

Já se sabia que os coprólitos continham derivados do colesterol, fornecendo fortes evidências de uma dieta à base de carne.

No entanto, a nova investigação explorou como estes delicados traços moleculares foram preservados e sobreviveram à passagem do tempo.

Normalmente, os tecidos moles fossilizam devido aos minerais de fosfato, mas o estudo descobriu que as moléculas foram preservadas graças a minúsculos grãos de carbonato de ferro espalhados pelo fóssil, que atuam como cápsulas do tempo microscópicas.

Madison Tripp, líder do estudo e investigador associado da Escola de Ciências da Terra e Planetárias de Curtin, afirmou que as descobertas acrescentam uma nova dimensão à compreensão científica da preservação molecular, crucial para uma melhor compreensão do mundo antigo.

"Os fósseis não só preservam as formas de criaturas há muito extintas, como também podem conter vestígios químicos de vida", destacou Tripp em comunicado.

Mas a forma como estas delicadas moléculas sobrevivem durante centenas de milhões de anos é um mistério há muito tempo.

Como os minerais de fosfato ajudam a preservar a forma e a estrutura do fóssil, seria de esperar que também ajudassem a preservar as moléculas, mas os investigadores descobriram que era o carbonato de ferro que protegia os vestígios moleculares no seu interior.

"É como descobrir um baú de tesouro --- neste caso, fosfato --- mas o verdadeiro ouro está escondido nas rochas próximas", exemplificou.

Para determinar se esta associação mineral/molécula era exclusiva do sítio de Mazon Creek, os investigadores expandiram a análise para incluir uma vasta gama de fósseis que abrangem diferentes espécies, ambientes e períodos.

Kliti Grice, diretora fundadora do Centro de Geoquímica Orgânica e Isotópica da Austrália Ocidental de Curtin, sublinhou que esta parte da investigação revelou resultados consistentes em todas as amostras.

"Esta não é apenas uma descoberta única ou casual --- é um padrão que estamos a começar a ver repetir-se, dizendo-nos que os minerais carbonatados têm preservado silenciosamente a informação biológica ao longo da história da Terra", apontou Grice.

"Compreender quais os minerais que têm maior probabilidade de preservar biomoléculas antigas permite-nos ser muito mais precisos nas nossas buscas por fósseis. Em vez de dependermos do acaso, podemos procurar condições específicas que nos dão a melhor hipótese de descobrir pistas moleculares sobre a vida antiga", acrescentou.

A professora realçou ainda que, ao revelar como as biomoléculas são preservadas, os cientistas ganham novas ferramentas poderosas para reconstruir o mundo de há centenas de milhões de anos.

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