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Farmacêuticos insistem que informação científica não sustenta relação entre paracetamol e autismo

Em causa está a declaração de Donald Trump que sugeriu que o aumento do autismo no país pode ter como causa o uso do analgésico paracetamol em grávidas e a vacinação.

23 de setembro de 2025 às 20:13

A Ordem dos Farmacêuticos defendeu esta terça-feira que não há informação científica que sustente a relação entre o uso de paracetamol na gravidez e alterações no neurodesenvolvimento na infância, admitida na segunda-feira pelo presidente norte-americano.

Numa informação interna a que a Lusa teve acesso, a Ordem dos Farmacêuticos (OF) refere que os estudos citados por quem relaciona o consumo de paracetamol na gravidez com alterações no neurodesenvolvimento na infância são de pequena dimensão e têm limitações na metodologia usada e nas conclusões, reconhecidas pelos próprios autores.

A OF sublinha que a revisão de investigação científica publicada, efetuada pelo Centro de Informação do Medicamento da Ordem dos farmacêuticos, não sustenta esta relação.

Na nota interna, a OF dá o exemplo do estudo de maior dimensão realizado sobre esta matéria - que analisou cerca de 2,5 milhões de crianças e recolheu dados de quase 186.000 que foram expostas ao paracetamol durante a gestação - frisando que "não encontrou evidência (prova) de risco aumentado quando, além da exposição ao fármaco, foram considerados fatores genéticos e ambientais, através da comparação de irmãos que não tinham sido expostos ao analgésico no período pré-natal".

Lembra que a associação entre alterações do neurodesenvolvimento, nomeadamente transtorno de hiperatividade e défice de atenção (THDA) e perturbações do espetro do autismo (PEA) e o uso de paracetamol durante a gravidez tem vindo a ser investigada desde há largos anos e que os estudos citados por quem faz essa alegação "não consideram adequadamente a presença de outros fatores que podem influenciar como os genéticos, ambientais e a condição clínica materna".

A OF reconhece que alguns estudos têm apontado para a existência de uma maior incidência de THDA e PEA em filhos de mulheres que utilizaram paracetamol durante a gravidez, mas insiste que os próprios autores reconheceram a existência de limitações que não permitem estabelecer uma relação causal.

"A análise da evidência (informação científica) atual permite concluir que é improvável que a exposição ao paracetamol durante a gestação se associe a um risco clinicamente significativo de desenvolver THDA ou PEA durante a infância", refere o documento.

A OF acrescenta que os estudos que sugerem a existência desta associação "são heterogéneos e apresentam importantes limitações metodológicas, enquanto os que têm uma estrutura adequada não o comprovam".

Com base nos dados atualmente existentes, a OF afirma que não existe qualquer fundamento científico para alterar as normas da prática clínica de tratamento da dor e da febre durante a gravidez.

"O paracetamol mantém-se uma opção de tratamento essencial em mulheres grávidas, observando o princípio da utilização da menor dose eficaz pelo período mais curto", refere

Reitera ainda o compromisso da instituição e dos farmacêuticos com uma prática sustentada na investigação científica e em defesa da saúde pública.

A OF lembra que os farmacêuticos, pela sua proximidade à população, são essenciais no esclarecimento de dúvidas, no combate à desinformação e na promoção da literacia em saúde, contribuindo para escolhas informadas e para o uso seguro e racional dos medicamentos.

Na segunda-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu esta terça-feira que o aumento do autismo no país pode ter como causa o uso do analgésico paracetamol em grávidas e a vacinação, sem apresentar provas científicas.

Esta terça-feira, o Infarmed esclareceu que não existe relação entre o uso de paracetamol por grávidas e malformações no feto ou nos recém-nascidos e informou que o uso deste analgésico durante a gravidez se mantém inalterado, insistindo na falta de provas que justifiquem mudanças nas recomendações relativas ao seu uso na União Europeia.

Acrescentou que, em 2019, a Agência Europeia do Medicamento ( EMA) reviu os estudos disponíveis que investigaram o neurodesenvolvimento de crianças expostas ao paracetamol 'in utero', concluindo que "os resultados eram inconclusivos" e que "não foi possível estabelecer uma ligação com perturbações do neurodesenvolvimento".

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