Trabalhadores da recolha de lixo levam para casa pouco mais de 600 euros, sentem-se pouco reconhecidos, mas continuam a fazer um trabalho que não pode parar.
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Os trabalhadores da recolha de lixo de Loures e Odivelas levam para casa pouco mais de 600 euros, sentem-se pouco reconhecidos, mas continuam a fazer um trabalho que não pode parar, num esforço contínuo para manter as ruas limpas.
Das instalações dos resíduos urbanos dos Serviços Intermunicipalizados de Águas e Resíduos (SIMAR), localizadas no Juncal, todos os dias partem para as ruas de Loures e Odivelas cerca de 150 profissionais - divididos por três turnos de trabalho -- metade do que seria normal fora do contexto da pandemia de covid-19.
Ao fim de sete dias, estes trabalhadores vão para casa descansar, dando lugar a outros 150 funcionários, com o objetivo de preservar o efetivo de um serviço que "não pode parar" e cujo grupo profissional "não é reconhecido ponto de vista social", nem do "ponto de vista salarial", diz à Lusa Paulo Piteira, administrador dos SIMAR e vice-presidente da Câmara Municipal de Loures.
Segundo Paulo Piteira, os trabalhadores dos diferentes turnos nunca se encontram, os balneários são sempre desinfetados à mudança de cada turno e, "em todos os edifícios, há reservatórios de utilização alcoólica para se poder utilizar".
Os trabalhadores também estão munidos com o devido material de segurança e todas as viaturas têm um recipiente com desinfetante.
São cerca das 13:30 de um dia de semana. Está calor, mas o céu encontra-se instável. A maioria dos camiões já partiu e outros estão a ultimar os procedimentos de higiene antes de rumarem à estrada para mais uma jornada de trabalho. Este é o segundo turno do dia. Já houve um de manhã e à noite há outro.
Rui Carrondo e João, um com 14 anos de casa e outro com 26, vão na parte de trás do camião que faz um circuito que percorre as zonas de Santo Antão do Tojal, São Julião do Tojal e Zambujal. As ruas estão aparentemente limpas, há poucos cafés e restaurantes e os que existem estão de portas encerradas. Praticamente não circulam automóveis e também não se veem muitas pessoas.
"Neste momento não há reciclagem, nós estamos a levar tudo a eito. É lixo, é cartão, é embalagens. Porque nós estamos a trabalhar 50/50, metade do pessoal, para não estarmos todos juntos e é lógico que temos o dobro do lixo. Mas não é nada que nós não possamos fazer, como é óbvio", conta Rui Carrondo, em declarações à agência Lusa.
Questionado sobre as questões de segurança, Rui defende que, mesmo com todas as medidas extraordinárias tomadas pelos SISMAR, não há segurança garantida.
"Mesmo 50/50, nós estamos ali mais de 20 pessoas, não é? Mas os balneários são desinfetados todos os dias várias vezes ao dia. Portanto, eles estão a fazer o máximo que podem e, olha, o resto compete-nos a nós", diz.
"Em relação ao reconhecimento social, eu penso que ainda não existe. Quanto ao estar na linha da frente, quem está na linha da frente são realmente os médicos e os enfermeiros. Nós estamos na retaguarda. Não deixamos de ser linha, mas é uma linha mais recuada", salienta Rui Carrondo.
Já o colega João acredita que o seu trabalho vai sendo mais reconhecido pela população. "Tanto que temos aqui, num contentor ou outro, um cartaz a dizer (...) que somos uns heróis", justifica, lamentando, porém, o facto de não ter direito ao subsídio de risco.
Este funcionário destaca também o aumento de resíduos, notando que as pessoas têm aproveitado para fazer arrumações já que não podem sair de casa. "E então, a gente olha... Vamos fazendo assim o que podemos. Um bocadinho aqui, um bocadinho ali. Vamos tentando fazer o nosso melhor", afirma.
Para o administrador dos SISMAR Paulo Piteira, "esta é uma boa altura para finalmente se legislar uma coisa que há muito tempo se exige que é a criação do subsídio de insalubridade, penosidade e risco para ser aplicado a todos os trabalhadores dos resíduos sólidos e não apenas a uma ou outra câmara municipal como é atualmente o enquadramento legislativo".
Relativamente às principais dificuldades sentidas pelos serviços de resíduos, o também vice-presidente da Câmara de Loures (PCP), realça o desafio de trabalhar com metade dos operacionais, mas alerta que "ainda há algumas pessoas que não respeitam regras" que deviam ser tidas em conta, especialmente no atual contexto.
De acordo com Paulo Piteira, tem sido apelado aos cidadãos que desmontem as embalagens de plástico e de cartão em casa e que não sejam "depositados na rua monos e resíduos verdes".
"Porque são objetos de grande volume que não ajudam em nada à limpeza dos pontos de deposição e, neste momento, nós não temos condições para tirar da rua. Portanto, não é boa ideia fazer a limpeza à garagem e fazer aquelas coisas que se andaram a adiar durante muitos anos lá em casa para pôr no lixo umas quantas coisas que não nos fazem falta", explica.
A recolha de resíduos orgânicos, vulgarmente conhecidos como "restos de comida", está suspensa, tanto para os restaurantes como para clientes residenciais. Quanto à reciclagem, fonte dos SISMAR admite que é feita apenas quando há condições. Caso contrário, todos os contentores são despejados juntamente com o lixo indiferenciado.
Para já, estes funcionários continuarão a trabalhar com o seu efetivo reduzido, num esforço acrescido, uma vez que a quantidade de resíduos removida da rua tem sido superior em relação ao que era recolhido antes do estado de emergência, garante Paulo Piteira.
"Trabalhar com 50% das pessoas para conseguir remover aquilo que é superior em termos de produção ao que havia anteriormente significa que esta gente tem um enorme empenhamento do ponto de vista profissional e uma enorme capacidade de trabalho que temos todos que reconhecer como sendo muito importante", conclui.
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