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Greve dos médicos encerra blocos operatórios e cancela consultas

Paralisação de três dias começou esta terça-feira e está a causar transtornos nos principais hospitais do país.

08 de maio de 2018 às 10:16

Blocos operatórios dos principais hospitais do país encerrados e consultas externas canceladas é o primeiro balanço feito pelos sindicatos médicos à greve de três dias que arrancou esta terça-feira.

Em declarações aos jornalistas à porta das consultas externas no Hospital São José, em Lisboa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Paulo Roque da Cunha, disse que os primeiros dados de adesão à greve se prendem fundamentalmente com os blocos operatórios, vão no sentido do que os sindicatos previam e demonstram "o grande descontentamento que existe entre os médicos".

Segundo Roque da Cunha, estão encerrados todos os blocos operatórios de Faro e Portimão, no Algarve, em São José e Santa Maria (Lisboa). No Hospital de São João e em Matosinhos, no Porto, está apenas um bloco a funcionar.

Em relação às consultas externas, o dirigente sindical disse que ainda é cedo para ter um ponto de situação, uma vez que decorrem ao longo do dia, mas os dados preliminares das unidades de saúde familiar (USF) e das consultas externas dos hospitais apontam para um número muito próximo dos 80% de adesão.

Os médicos iniciaram esta terça-feira às 00h00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela "defesa do Serviço Nacional de Saúde".

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é "a defesa do SNS" e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação - o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.

Depois de duas greves nacionais em 2017, os médicos paralisam este ano pela primeira vez, com os sindicatos a considerar que o Governo tem sido intransigente e tem desperdiçado as oportunidades de diálogo com os sindicatos.

Ansiedade e compreensão nas salas de espera em Lisboa

Muitos dos utentes chegaram antes da hora marcada da consulta com a esperança de serem atendidos pelo médico. Maria dos Anjos, na casa dos 60 anos, sabia da greve, mas arriscou ir ao Hospital de São José porque recebeu uma mensagem na segunda-feira a confirmar a consulta.

"Cheguei aqui muito cedo, mas já sei que vou ter consulta, tive sorte", disse Maria dos Anjos, enquanto aguardava na sala de espera, onde os utentes iam sendo chamados para as várias consultas de especialidade e outros eram informados que o médico não tinha comparecido.

Alguns queixavam-se de terem vindo de longe para ter uma consulta que aguardavam há meses, enquanto outros manifestaram solidariedade com a luta dos médicos.

No Centro de Saúde de Sete Rios, um panfleto fixado na porta anunciava a greve de três dias dos médicos. Houve utentes que não tiveram consulta como um casal de idosos que ia conhecer a nova médica de família.

"Era a primeira vez que íamos ter consulta com esta médica", disse António Marques, contando que esperava há mais de um mês pela consulta.

Disse saber da greve dos médicos, mas decidiu ir. "Também moro perto, volto noutro dia", disse resignado, comentando que está solidário com os médicos: "Prometem tudo e depois não dão nada, é sempre igual. Nunca mais voto".

Ao contrário deste casal, Luísa Santos foi atendida à hora marcada pela sua médica de família. "Sabia que havia greve, mas vim na mesma e tive consulta", contou à Lusa.

Sobre os motivos da greve, disse que se os médicos "reclamam as horas que não são pagas, fazem muito bem, porque o trabalho tem que ser pago".

"Quanto ao resto não sei", rematou Luísa Santos.

A greve dos médicos regista hoje uma adesão que ronda os 90% nos blocos operatórios, a nível nacional, atingindo os 100% em alguns locais, de acordo com os dados divulgados pelos sindicatos ao início da tarde.

Em declarações aos jornalistas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, os dirigentes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) frisaram que, durante os três dias de greve, hoje iniciada, centenas de médicos asseguram serviços mínimos como se um fim de semana se tratasse.

Nas consultas externas hospitalares, a adesão é de 75%, de acordo com as mesmas fontes, e, nos cuidados primários de saúde (centros de saúde), é de 85 por cento.

Canceladas consultas nos Açores

"Não tive consulta de reumatologia. Estava marcada há seis meses, mas foi cancelada por causa da greve", lamentou Luís Medeiros, à agência Lusa, frisando o transtorno que lhe causou este cancelamento, uma vez que se deslocou de Água Retorta "em vão" para a cidade de Ponta Delgada, ilha de São Miguel.Também João Silva viu a sua consulta "ao coração" ser adiada devido à paralisação dos clínicos.

"Estava à espera da consulta há um ano, agora remarcaram-me para junho", referiu à reportagem da Lusa, enquanto no exterior do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, o utente Luís Dias aguardava pela afilhada na esperança de que esta pudesse ter a consulta programada para hoje.Também à saída do Centro de Saúde de Ponta Delgada vários utentes garantiram à reportagem da Lusa que acabaram por não ter a consulta devido à greve.

"Não tive consulta. Mas, eles (médicos) estão no seu direito de fazerem greve", sublinhou Eduarda Ferreira.

Já o utente Carlos Lima acabou por receber tratamento de enfermagem, mas acrescentou que ouviu vários comentários de pessoas com "consultas desmarcadas".

Os médicos iniciaram hoje às 00:00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela "defesa do Serviço Nacional de Saúde", uma paralisação convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Segundo dados da secretaria regional da Saúde enviados à Lusa no total a adesão à greve situava-se nos 30% até às 13:00 locais (mais uma hora em Lisboa) no arquipélago.

No caso dos hospitais dos Açores de Ponta Delgada (São Miguel), Angra do Heroísmo (Terceira) e Horta (Faial) a adesão foi de 35% e 22% nos centros de saúde do arquipélago açoriano, acrescentou a tutela.

Os dirigentes sindicais nos Açores garantiram que "das seis salas de cirurgias programadas no Hospital de Ponta Delgada apenas uma estava em funcionamento", esta manhã.

O secretário nos Açores do SIM, André Frazão, referiu que nos Açores uma das reivindicações passa também pela questão dos inventivos para a fixação de "mais médicos" nas ilhas.

"O senhor secretário pode e deve fazer mais, com propostas inovadoras e descolar-se da incapacidade de um mau ministro", sustentou, destacando, no entanto, a disponibilidade do titular pela pasta da Saúde nos Açores para "o diálogo".

A dirigente da FNAM na região Anabela Lopes realçou que a greve "é uma luta pela manietação da qualidade dos serviços", também nos Açores, apontando que os clínicos "também estão desanimados no arquipélago".

"A lista de utentes dos médicos de família é de 1900 utentes para 40 horas de trabalho e isto é um acréscimo grande. E é um grau de exigência muito grande, porque às vezes ficamos além do nosso horário de trabalho e não conseguimos dar resposta a tudo", sustentou.

Utentes de Castelo Branco falam de normalidade

Sara Gestrudes deslocou-se de propósito de Lisboa a Castelo Branco, para acompanhar a sua avó, de 82 anos, a uma consulta de ortopedia, que decorreu dentro da normalidade.

"Vim de Lisboa de propósito para ir com a minha avó que é de Salvador (Penamacor) à consulta de ortopedia, que estava marcada para as 10:00. Funcionou tudo muito bem e inclusivamente fez um raio x", explicou à agência Lusa, Sara Gestrudes, de 37 anos.

Contudo, adiantou que vinha com algum receio, uma vez que fez mais de 200 quilómetros para acompanhar a sua avó e arriscava-se, por causa da greve dos médicos, a fazer uma viagem em vão.

A utente sublinhou ainda que na consulta externa do HAL estava tudo "muito normal", sem a presença de muita gente à espera das consultas.

Emília Barata, 53 anos, que tinha uma consulta de ortopedia marcada, também estava satisfeita por ter sido atendida e corroborou as palavras de Sara Gestrudes, confirmando à Lusa que tudo aparentava ser um dia normal na consulta externa do hospital de Castelo Branco, cidade onde reside.

Já Ana Antunes, que se deslocou de propósito da Sertã a Castelo Branco, com o seu filho Bruno Jorge, 16 anos, também manifestou satisfação pelo facto de o jovem ter sido atendido às duas consultas que tinha marcadas para hoje.

"O meu filho tinha uma consulta de desenvolvimento e outra de psicologia marcadas para hoje. Quer numa quer na outra foi atendido normalmente. Eu tinha recebido uma mensagem do hospital a confirmar as consultas, mas, mesmo assim, vinha com algum receio", disse.

João Fontainhas, 69 anos, reside em Castelo Branco e deslocou-se hoje ao HAL para realizar uma consulta de otorrinolaringologia.

"Recebi uma mensagem do hospital a confirmar a consulta. Hoje vim cá, vinha um pouco na expectativa, mas fui atendido normalmente", frisou.

A Lusa contatou o secretário regional de Castelo Branco do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que disse não ter ainda dados disponíveis sobre a paralisação.

Adesão de 86% no Alentejo adia consultas e cirurgias

Na região do Alentejo, "temos uma média de adesão à greve de 86%", disse à agência Lusa o secretário regional do Alentejo do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Armindo Sousa Ribeiro.

Segundo o também médico, a adesão à paralisação nos hospitais e centros de saúde do Alentejo está a provocar, sobretudo, o adiamento de consultas e cirurgias e situa-se nos 92% no litoral alentejano, 87% no distrito de Portalegre, 83% no distrito de Évora e nos 81% no distrito de Beja.

No Hospital do Litoral Alentejano (HLA), em Santiago do Cacém, das três salas do bloco operatório só a de urgências funciona e várias cirurgias e consultas externas foram adiadas, disse Armindo Sousa Ribeiro.

No hospital de Évora, só duas das cinco salas do bloco operatório estão a funcionar, uma para situações de urgência e outra para cirurgias programadas, precisou, referindo que várias cirurgias e cerca de 80% das consultas externas marcadas para hoje deverão ser adiadas.

No Centro de Saúde de Évora - Extensão Norte, Patrícia Carapinha, que se encontrava à porta, disse à Lusa que contava ter consulta com a médica de família, referindo que já tinha "feito a ficha" e que não lhe tinham dito nada sobre a greve dos clínicos.

Uma funcionária da Unidade de Saúde Familiar (USF) Lusitânia, situada no rés-do-chão do mesmo edifício, adiantou que os médicos daquele serviço estavam a dar consultas.

No hospital de Beja, só duas das cinco salas do bloco operatório estão a funcionar, uma para situações de urgência e outra para cirurgias programadas, disse Armindo Sousa Ribeiro, referindo que várias cirurgias e cerca de 70% das consultas externas marcadas para hoje deverão ser adiadas.

A Lusa esteve hoje de manhã no serviço de consultas externas do hospital de Beja e, pela informação recolhida, muitos dos utentes presentes iam ter consulta.

Em Portalegre, duas das três salas do bloco operatório do hospital estão a funcionar, uma para situações de urgência e outra para cirurgias programadas, e várias cirurgias e consultas externas foram adiadas, disse Armindo Sousa Ribeiro.

Segundo o sindicalista, "a maioria" das cirurgias marcadas que não foram adiadas nos hospitais de Beja e de Portalegre estão a decorrer "com recurso a médicos tarefeiros e prestadores de serviços".

Adesão atinge quase 70% na Madeira

"Os dados são provisórios, mas a adesão é satisfatória e demonstra o descontentamento dos médicos face à falta de seriedade e à não-negociação do Governo", disse à agência Lusa Lídia Ferreira, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), estrutura que convocou a greve, juntamente com a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

A sindicalista informou que apenas duas das sete salas do bloco operatório do Hospital Central do Funchal estão a funcionar, ao passo que as consultas externas decorrem com "aparente normalidade", situação que a Lusa constatou no local, onde, no entanto, alguns utentes se queixavam de consultas adiadas sem aviso prévio e de falta de informação sobre a greve.

Em relação aos centros de saúde, o SIM não dispõe ainda de dados.

O Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM) também remete a divulgação de números para mais tarde.

O secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, mostrou-se esperançado de que os impactos da greve, que envolve um universo de 297 médicos hospitalares e 121 ao nível dos centros de saúde, "não sejam muito intensos", considerando que a responsabilidade destes profissionais "é acrescida".

O governante reconheceu, em declarações aos jornalistas no Hospital Central do Funchal, que qualquer cidadão tem direito à greve e realçou que os médicos estão a lutar por direitos que entendem que ainda não têm e que poderão, quando forem atribuídos, contribuir para uma prestação de cuidados melhor e mais segura.

Bloco central do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 90% paralisado

Já nos outros blocos periféricos de Coimbra, como no Pediátrico, a adesão situa-se na ordem dos 80%, disse à agência Lusa a dirigente do SMZC Luísa Isabel, acrescentando que nas consultas externas regista-se uma adesão entre "60 a 70%".

O caso das consultas externas, explicou, "é muito particular", porque há médicos que optaram por não fazer greve tendo em conta situações "limite e de vigilância apertada" dos seus doentes, que vêm de longe para consultas ou exames marcados.

"Se não fosse essa situação, a adesão seria de quase 100% e não haveria nem consultas, nem exames, nem cirurgias programadas", sublinhou Luísa Isabel.

Em declarações aos jornalistas, a dirigente sindical sublinhou que é esperada uma "grande adesão" a esta greve nacional dos médicos, que arrancou hoje às 00h00 e que dura três dias.

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é "a defesa do SNS" e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação - o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Apesar de não ter dados sobre a adesão nos centros de saúde, Luísa Isabel frisou que se há descontentamento no meio hospitalar, nos centros de saúde ainda "há mais".

"Precisamos de ter mais médicos, menos doentes por médico de família e mais tempo para ver os doentes", defendeu, considerando que, face à falta de profissionais de saúde, os médicos trabalham "muitas horas extraordinárias para colmatar as falhas".

Segundo a dirigente, estes profissionais andam "mais cansados e mais stressados", estando em causa "o bom atendimento das pessoas e parâmetros de qualidade" do próprio Serviço Nacional de Saúde.

Rui Fernandes abandonava hoje de manhã o CHUC "incomodado".

Deslocou-se de Anadia até Coimbra para ter uma consulta de medicina interna, tendo estado à espera mais de uma hora para saber que, afinal, não teria consulta.

"Perdi meio dia de trabalho", disse à agência Lusa, sublinhando que há "muita gente a vir para trás".

Não foi o caso de António Chousa, de Oliveira de Bairro, que teve a consulta perto da hora marcada, mas, em vez de ser o médico que normalmente o atende foi outro profissional de saúde.

"Correu tudo dentro da normalidade", assegurou.

Já no Centro de Saúde de Celas, uma utente entrava na expectativa de saber se teria consulta.

"Vou lá ver se tenho ou não. Espero que sim", contouh

Blocos operatórios no Algarve a funcionar apenas para urgências

Blocos operatórios no Algarve a funcionar apenas para urgências

Os blocos operatórios dos hospitais de Faro e Portimão estão paralisados devido à greve dos médicos, estando apenas assegurados os serviços mínimos, que cobrem as cirurgias de urgência ou oncológicas, disse à Lusa fonte sindical. 

Segundo João Pinto, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), das seis salas do bloco operatório do Hospital de Faro "nenhuma está a funcionar", o que obrigou ao cancelamento de todas as cirurgias programadas, situação que se verifica também nas duas salas operatórias do Hospital de Portimão.

De acordo com o médico, a situação é transversal a todas as especialidades e, embora as reivindicações sejam comuns aos clínicos de todo país, as condições de trabalho são "mais precárias" no Algarve "devido ao quadro médico enfraquecido", uma vez que devia haver o triplo dos médicos.

"Temos apenas um terço do quadro dos médicos que era suposto", lamenta João Pinto, sublinhando que existe falta de incentivos para fixar médicos no Algarve, além do facto de os concursos para a colocação de médicos recém-especialistas demorarem muito tempo, o que também afasta os profissionais.

Em Vila Real de Santo António, o Serviço de Urgência Básica (SUB) também só está a atender as situações mais urgentes, garantindo serviços mínimos, enquanto nas duas Unidades de Saúde Familiares (USF) que operam na cidade apenas estava a trabalhar um dos cinco médicos que deveria estar de serviço no período da manhã, constatou a Lusa no local.

Tanto na USF Esteva como na USF Levante, que pertencem ao Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Sotavento, o cenário visível às 09:30 era de salas de espera sem utentes e funcionários administrativos e pessoal de enfermagem agrupados, com poucas pessoas ou sem ninguém para atender.

Na USF Esteva, estava previsto haver hoje três médicos de serviço durante a manhã, mas apenas um compareceu ao serviço, enquanto na USF Levante não estavam a ser realizadas consultas, porque os dois médicos que deveriam estar a trabalhar aderiram à paralisação.

Um dos utentes afetados foi João Santos, que disse à Lusa ter-se deslocado a uma das UFS de Vila Real de Santo António para uma consulta que estava "marcada já há algum tempo", mas "não sabia que havia greve".

"Não houve consulta, mas tinha também que pedir medicamentos e acabei por fazer esse pedido, embora a senhora do balcão me tenha dito que não sabia quando me iriam passar a receita, porque a greve se prolonga por mais dias", disse.

Lágrimas e alguns finais feliz no Santo António do Porto

A consulta de cardiologia de Margarida Ribeiro, 72 anos, estava marcada para hoje no Santo António do Porto às 08h30, mas às 09h15 os seus olhos azuis lacrimejavam pelo transtorno de o cardiologista ter aderido à greve dos médicos.

"É um grande transtorno. Os médicos deviam ter mais respeito pelas pessoas, porque vou ter de fazer 60 quilómetros para ir e vir de Santo Tirso para uma consulta marcada há um ano", desabafou à Lusa Margarida Ribeiro, na sala de espera das consultas de Cardiologia do Santo António, ao lado do filho, igualmente indignado pela "falta de respeito dos médicos".

A consulta de Margarida Ribeiro estava marcada há um ano: "Tenho de ser seguida", afirma a doente com problemas cardiológicos.

A adesão à greve de três dias, que hoje se iniciou, também se fazia sentir nas consultas de Otorrino do Santo António.

Bárbara Mendes, 34 anos, tinha consulta às 08h15 e às 09h00 ainda aguardava para saber se ia ter consulta, porque o médico ainda não tinha comparecido.

"Tenho a consulta marcada há um ano e causa sempre transtorno, porque perco tempo e não sei se posso continuar com a medicação", reage Bárbara Mendes.

Entre o desânimo e desespero com consultas adiadas, esperas a bater uma hora, na expectativa de ter consulta como sucedia a Maria Teresa Gonçalves, 78 anos, que aguardava saber se ia ser atendida em cirurgia vascular, havia, no entanto, alguns casos com final feliz, em que os pacientes foram informados nas receções das várias especialidades da consulta externa que um determinado médico estava a trabalhar.

Maria Emília Silva, 69 anos, tinha consulta de Oncologia marcada para hoje às 09h00 e estava satisfeita por a sua médica oncologista não ter "furado a greve".

"Já me avisaram que a médico veio", declarou Maria Emília. A frase é repetida também pela paciente Júlia Teixeira, 45 anos, doente oncológica, que afirma que também vai ter hoje a consulta que foi marcada há oito dias.

Na Unidade de Saúde Familiar do Covelo (Porto), estava "um médico a trabalhar" e estavam sete médicos em greve".

No hospital de São João havia "apenas uma sala das 11 do bloco operatório central a funcionar" e no Hospital Pedro Hispano "só funcionavam duas salas de nove no bloco operatório central e uma sala de urgência.

No Hospital de Santa Luzia em Viana do Castelo, segundo o SIM, aquela unidade hospitalar estava "totalmente parada".

Utentes queixam-se de transtornos em Vila Real

Ao início da manhã, o cenário na unidade de Vila Real do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) era igual ao de outros dias: parque de estacionamento cheio e salas de espera também com muitos utentes, sentados ou em pé.

O cancelamento de consultas foi precisamente o efeito mais visível deste primeiro de três dias de greve dos médicos, embora outras consultas tenham também decorrido com normalidade.

Luísa Viana, 15 anos e natural de Celeirós, concelho de Sabrosa, esperou um ano pela consulta de oftalmologia e até teve de faltar um teste que tinha marcado para hoje. Esta manhã, ao chegar ao hospital, foi surpreendida pela greve.

"Disseram-me que o médico não veio. Tinha teste e já não vou conseguir fazê-lo, se soubesse da greve tinha ido ao teste", salientou.

Agora, Luísa teme ter de esperar "mais um ano" por uma nova consulta. Dentro do serviço contou estar "muita gente", a maior parte da qual "não vai ter consulta".

João Cardoso veio também de Sabrosa e de propósito para uma consulta de fisiatria e, à saída da unidade hospitalar, disse estar "um pouco revoltado" por ter visto a consulta, "marcada há mais de meio ano", cancelada devido à greve.

"Não tivemos um aviso prévio para evitar a deslocação. Tive que pedir o dia no trabalho para vir aqui. Agora, disseram-me que me enviavam uma carta para casa a avisar da nova consulta", afirmou.

Maria Júlia Guedes fez mais de 50 quilómetros desde Santo Aleixo, concelho de Tabuaço, até Vila Real para a consulta de otorrinolaringologia que tinha agendada desde setembro.

"A gente sabia que havia greve, ouvimos no noticiário, mas resolvemos arriscar. Os transtornos são mais pelas despesas, porque estamos reformados e o tempo não se conta para nada", acrescentou o marido, Urbano Santos.

Teresa Lopes acompanhou o marido para uma consulta de otorrinolaringologia que estava marcada há três meses e foi adiada. Vieram de Penajoia, em Lamego, e apesar dos transtornos de uma viagem " de cerca de 30 a 40 quilómetros em vão", Teresa disse compreender os direitos dos médicos à greve.

"Quando cheguei percebi que alguma coisa de anormal se passava e lá dentro é que me disseram que havia greve", referiu.

Maximino Silva acompanhou a sua sogra desde Chaves, a mais de 60 quilómetros, para dois exames, uma mamografia e uma ecografia, que foram cancelados.

"O médico fez greve e ficamos agora a aguardar uma nova marcação destes exames que já estavam marcados há algum tempo", salientou.

Maximino Silva afirmou que esta situação lhe provocou "transtornos" até porque teve que "faltar ao trabalho" e terá que "faltar outra vez" para regressar a Vila Real.

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