Têm havido "queixas de insónias relacionadas com ansiedade", afirmou a pneumologista do Hospital de São João, no Porto, Marta Drummond.
A pandemia da covid-19 também teve implicações junto de doentes com patologias respiratórias associadas ao sono, nomeadamente "queixas de insónias relacionadas com ansiedade", afirmou esta sexta-feira a pneumologista do Hospital de São João, no Porto, Marta Drummond.
"A ansiedade é própria deste tempo pandémico em que vivemos. Notamos que os doentes têm mais queixas de insónias relacionadas com ansiedade. Quer os que já eram seguidos, quer os referenciados de novo", descreveu a especialista, no âmbito do Dia Mundial do Sono, que se comemora hoje.
Responsável pelo Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) de Sono e Ventilação não Invasiva (VNI) do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), um serviço multidisciplinar e especializado numa determinada tipologia de doentes que foi criado em 2020, Marta Drummond contou à Lusa o trabalho levado a cabo neste centro, nomeadamente o estudo feito no primeiro confinamento.
"Telefonámos a todos os nossos doentes que estavam ventilados com patologia respiratória do sono para perceber o impacto da pandemia na qualidade do sono. Verificámos que larga maioria tinha impacto negativo com o reaparecimento de insónia, agravamento das insónias prévias, entre outros aspetos", descreveu.
Este serviço do Hospital de São João, o único do país a ter um CRI dedicado ao sono, nasceu em pleno período pandémico, há oito meses, mas antes existia já neste centro hospitalar um laboratório do sono e ventilação não invasiva.
Marta Drummond contou como os procedimentos tiveram de ser alterados, devido aos "cuidados acrescidos de higienização de espaços e equipamentos", algo que "influencia o número de doentes que podem ser vistos por dia".
"Os doentes precisam de fazer estudos do sono. Alguns dormem no hospital e tiveram de fazer testes covid-19. Quanto aos que levam equipamentos para fazer diagnóstico, temos de pensar que nessa casa pode alguém estar infetado. Quando o equipamento retorna, tem de ser higienizado ou fazer quarentena de 48 horas. A pandemia obrigou-nos a ter mais equipamento e mais tempo de higienização", descreveu.
Marta Drummond, que é também professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), admitiu que "de início" a pandemia se refletiu em menor procura, mas os números nunca chegaram a ter impacto no CHUSJ, porque "a lista de espera era de muito tempo".
"Notámos que no primeiro confinamento os médicos de família referenciaram menos. Acredito que quando o Serviço Nacional de Saúde deixar de ter alguns dos constrangimentos associados à covid-19, se venha a ter uma quantidade de pedidos superior ao habitual, mas neste momento é idêntica", analisou a médica.
Em causa está um centro com oito meses de atividade que, quando iniciou funções, tinha listas de espera de 3.000 doentes e mais de dois anos para consulta.
Atualmente, com listas de espera de 900 doentes, o tempo para aguardar consulta situa-se em menos de nove meses.
A meta é chegar a menos de três até ao final do ano, disse a responsável.
"Sentíamos uma necessidade enorme em dar resposta às necessidades da população no que concerne à patologia respiratória do sono. A patologia respiratória do sono tem uma prevalência elevadíssima e tem vindo a aumentar nos últimos anos, estimando-se que aumente nas próximas décadas", apontou a pneumologista.
Assim, são objetivos do CRI do Sono -- que junta pneumologia, neurologia, psiquiatria, estomatologia, otorrinolaringologia, cuidados paliativos, psicologia e nutrição -- aumentar a acessibilidade às consultas e dar resposta atempada.
"Temos uma abordagem multidisciplinar que nos permite melhor servir os doentes, porque às vezes o tratamento não passa por um só tratamento, mas pela complementaridade de várias medidas terapêuticas. E, por outro lado, podemos discutir entre nós casos mais graves em que o tratamento ou o diagnóstico são mais difíceis", descreveu.
À Lusa, Marta Drummond explicou que com o CRI "se ganhou multidisciplinaridade e capacidade", dando como exemplo o facto do CHUSJ passar a comparticipar a 100% próteses de avanço mandibular, um dos tratamentos para patologias associadas ao sono, ou a obrigatoriedade dos profissionais de diferentes especialidades cumprirem tempos máximos de resposta.
Neste Dia Mundial do Sono, a especialista alertou que "são referenciados cada vez mais doentes mais novos" e que "há cada vez mais doentes obesos".
"São precisas mudanças de estilo de vida: comida mais saudável, exercício físico regular, não usar bebidas alcoólicas à noite ou sedativos que possam agravar as doenças respiratórias", disse, enfatizando os malefícios do tabaco.
"Fumar duas horas antes de ir deitar agrava a roncopatia e a patologia respiratória do sono", frisou.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.682.032 mortos no mundo, resultantes de mais de 121,2 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.743 pessoas dos 816.055 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.