A pandemia já provocou mais de um milhão de mortos no mundo, incluindo 1.971 em Portugal.
A coordenadora da Unidade Cerebrovascular do Hospital São José, em Lisboa, afirmou esta quarta-feira que sobreviventes de AVC com "enorme potencial de recuperação" ficaram com sequelas "muito maiores" devido à paragem dos tratamentos de reabilitação devido à pandemia de covid-19.
"Não serve para nada mantermos a terapêutica de fase aguda toda a funcionar, e funcionou bem durante a pandemia e continua a funcionar, para depois não darmos o resto que o doente precisa que é a reabilitação", advertiu Ana Paiva Nunes na conferência online "Saúde Interrompida: o impacto da pandemia nos doentes não covid-19".
Segundo Ana Paiva Nunes, "a reabilitação parou por completo" durante o estado de emergência, o que fez com que doentes que ficaram "com incapacidades e que tinham um enorme potencial de recuperação" do AVC tenham ficado com "sequelas muito maiores".
"Isso vai ser um problema gravíssimo e se voltarmos a ter que fazer restrições no SNS, do ponto de vista da acessibilidade à reabilitação, não pode voltar a acontecer nós deixarmos os doentes perder o potencial de reabilitação que tinham", advertiu.
Segundo um inquérito divulgado pela Portugal AVC, 91% dos doentes com indicação para cuidados de reabilitação, entre 20 e 27 de abril, afirmaram ter sido obrigados a interromper os tratamentos ou não ter tido possibilidade de os iniciar.
Outro inquérito da Sociedade Portuguesa do AVC mostrou que de 32 hospitais portugueses metade viu o número de doentes com AVC reduzir entre 25% e 50%.
Ainda não se sabe qual foi o motivo, mas é curioso os casos terem diminuído durante a pandemia quando se sabe que "o vírus SARS-CoV 2 tem um potencial trombogénico importante e, portanto, até poderíamos ter mais AVC", observou a médica.
"Não sabemos se era porque as pessoas estavam em casa e tomavam os seus medicamentos de forma correta, se tinham menos stress do trabalho, o que sabemos efetivamente é que recorreram muito menos ao hospital e isso foi uma coisa um bocadinho assustadora para todos nós porque tratámos muito menos doentes", contou.
No seu entender, a pandemia foi "exacerbada de uma maneira tão assustadora" na comunicação social que "as pessoas ficaram com medo de ir ao hospital" e por isso houve menos ativações na via verde AVC.
"Qual é a consequência disto a longo prazo? Não sabemos qual vai ser, mas seguramente não vai ser boa", lamentou.
Rui Teles, cardiologista de intervenção do Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, também criticou como tem sido noticiada a pandemia. Os doentes com hipertensão foram, em termos estatísticos, os que mais se distanciaram dos hospitais, porque criou-se "uma postura de medo" devido à informação que circulou, o que impactou a mortalidade destes doentes face ao seu tratamento tardio, disse, defendendo que "é importante" partilhar mensagens corretas e incentivar o regresso dos doentes aos hospitais porque existem "vias seguras"
Segundo Rui Teles, houve "um acréscimo da mortalidade com menos doentes a serem tratados em patologias mais graves, doentes que têm descompensações insidiosas ou rápidas" e que se não tiverem resposta em dois meses morrem.
Subtraindo as 1.727 mortes por covid-19 ao total de mortes por causas naturais registadas desde 16 de março, verifica-se um valor de quase mais 2.600 óbitos relativamente ao mesmo período de 2019.
"Um cenário que, embora não tenha uma justificação fechada, pode estar relacionado com a redução de consultas presenciais não urgentes, aliada ao medo de contrair covid-19, que manteve certos doentes afastados do hospital, bem como à fragilidade de muitos deles", salientou.
A pandemia já provocou mais de um milhão de mortos no mundo, incluindo 1.971 em Portugal.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.