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"Vocês que nos aplaudiram também nos apunhalaram": Médica partilha drama vivido nos hospitais portugueses

Texto de Andreia Castro, com o mote "Estamos exaustos", expõe as atuais dificuldades dos profissionais de saúde perante a pandemia.

29 de janeiro de 2021 às 19:19

As redes sociais tornaram-se, desde o início da pandemia, numa espécie de "diário" para os profissionais de saúde exporem algumas das suas visões e desabafarem sobre o dia-a-dia da pandemia nos hospitais portugueses.

Muitas vezes são os primeiros a apelar à população para que os ajude a lidar com o crescente aumento de casos da Covid-19.

É o caso da médica portuguesa, Andreia Castro. 

"Pensei muito antes de escrever um post sobre aquilo que mais é falado, quando parece que nada mais há a dizer. São 6 da manhã e continuo serviço pela 2ª noite consecutiva. Quando dou por mim, são 4 noites numa semana. É só mais uma, e nós achamos sempre que aguentamos. O serviço precisa. A equipa precisa. O corpo não precisa há muito, e a alma fica todos os dias um bocadinho mais despida, um bocadinho mais deixada para trás nos corredores do hospital. Ontem ao chegar a casa após mais uma noite, as palavras do meu namorado foram apenas - "estás destruída", começa por escrever Andreia Castro na legenda de uma fotografia publicada na sua conta na rede social Instagram.

 "Me Across the World",

"Não sabemos mais a quem nos virar por apoio quando os principais pilares somos nós e todos nos querem arrancar um pedaço, à velocidade do freguês que chega com pressa para almoçar. Sim, vocês que nos aplaudiram também nos apunhalaram pelas costas.. e agora estamos nisto", acusa a médica, que apesar de querer ajudar todos por igual, não consegue.

Perante as queixas de espera de várias horas de espera, Andreia relembra que os profissionais de saúde não podem prometer o "dever de final feliz", apesar de viverem uma realidade "24 horas sobre 24 horas há 12 meses". Mesmo neste ritmo, a médica admite que não é possível chegar a todos.

"As pessoas não param de chegar. Telefonamos para aqui e para ali, envergonhados por pedir mais uma transferência de um doente grave. A maioria volta para as suas casas, mas muitos vêm diariamente para as nossas - de cabeça na almofada, revemos abordagens em que podiamos ter sido melhores, mais calmos, mais disponíveis, mais pacientes. Mas já não temos gás (e por vezes até cortesia, arrisco-me a dizer). Nós frontliners estamos exaustos, física e sobretudo emocionalmente", desabafa.

Só assim podemos voltar a ter uma vida normal", assegura.

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