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"Achar que o Facebook é um espaço de liberdade é errado"

Exemplos de censura na rede social são vastos.

01 de março de 2018 às 16:44

Primeiro foi o quadro da Origem do Mundo a ser censurada pelo Facebook. Esta semana, a rede social e Zuckerberg voltou à carga ao eliminar a imagem de uma escultura com mais de 25 mil anos, defendendo que se trata de uma representação de cariz pornográfico. Em Novembro último, a imagem de um parto natural numa banheira de água quente transparente sob o olhar da irmã seguiu o mesmo rumo. E os exemplos de censuras são vastos e relatados numa reportagem da revista SÁBADO: vão da histórica e premiada fotografia da Guerra do Vietname aos mais recentes anúncios a criptomoedas. "Criámos uma nova política que proíbe anúncios que promovam produtos e serviços financeiros que são frequentemente associados com práticas promocionais enganosas, como opções binárias, ofertas iniciais de moedas e criptomoedas", revelou aquela rede social numa mensagem, a 30 de Janeiro deste ano.Em Setembro último, foi a vez de um grupo de activistas se insurgir contras as políticas do Facebook. A página do grupo de insurgentes Arankan Rohingya Salvation Army (Arsa), que pretende lutar pela liberdade da minoria étnica muçulmana dos Rohingya, foi considera como "organização privada". O Facebook defendeu-se argumentando que as políticas adoptadas pela rede social proíbem publicações de apoio a estas organizações, sendo que são definidas como grupos que podem estar envolvidos em terrorismo, violência e crime organizado, assassínio em massa ou manifestações de ódio.Na altura, a activista e jornalista Mohammad Anwar disse "acreditar que [o Facebook] está a tentar reprimir a liberdade de expressão e dissidência em conluio com os genocídios no regime de Myanmar". Outra polémica da rede criada por Marck Zuckerberg remonta a Maio de 2017, quando a página de um jornalista premiado com o Pulitzer, Matthew Caruana Galizia, foi bloqueada, após quatro publicações sobre o envolvimento do presidente da Malta em esquemas de corrupção. A controversa política de censura A política interna do Facebook defende que nem todos os vídeos violentos e tentativas de auto-mutilação devem ser apagados. De acordo com uma investigação do The Guardian, há imagens perturbadoras que são deixadas naquela rede social para criar consciência. Vasco Marques, com formação em e-Business (negócios online) e marketing digital, defende em declarações à revista SÁBADO que as políticas de censura do Facebook são "muito rígidas", afirmando que no que diz respeito aos "anúncios" a maior rede social do mundo é ainda mais dura. "De facto já tive uma experiência com um cliente. O Facebook bloqueou-lhe os conteúdos e as páginas. São muito exagerados e muitas vezes caiem no exagero", afirmou Vasco, acrescentando que na área comercial daquela rede social os critérios são ainda mais austeros. O fundador da empresa Web2Business - que promove e procura soluções na área do marketing digital - explica que, por exemplo, os anúncios de tratamento e spa são, por defeito, censurados. Depois da reprovação, segundo Vasco, o processo não é fácil. Questionado sobre se há um exagero em relação à política de censura no Facebook, o autor do livro Redes Sociais 360 considera que terá de haver sempre uma filtragem, sublinhando que isso implicará sempre a existência de erros. "Tanto o algoritmo do Google como do Facebook estão em constante evolução e, por isso, há erros que vão sempre acontecendo". "Que se conheça há duas formas de censura no Facebook: conteúdos que vão contra as regras e que não se podem publicar podem ser detectados automaticamente. Uma outra forma é reportar os conteúdos inapropriados", referiu Vasco Marques, sublinhando que o utilizador pode pedir "para repor a página", sendo que "é difícil ter apoio do Facebook".Nos últimos tempos, assume Vasco Marques, têm-lhe sido reportadas mais queixas em relação aos anúncios, sendo que de uma forma geral "ha mais censura e mais controlo". No entanto, acrescenta, este tipo de filtragem é necessário, nomeadamente "na nudez, pornografia ou em casos de violência extrema". Questionado sobre a diferença de políticas de censura no Facebook e noutras plataformas, o especialista considera que nesta rede social as notícias de censura têm mais eco por se tratar da maior rede social do mundo e da que permite ver e colocar mais tipos de conteúdos (vídeos, imagens, notícias, publicações escritas) - sendo que no caso do Youtube é mais conteúdos à base de vídeo e no Instagram só imagens e vídeos."O Facebook é uma empresa privada e como tal tem as suas próprias políticas"João Miguel Tavares, jornalista e comentador, vê as políticas de censura de Facebook com alguma naturalidade, sublinhando que "não se tratando de um empresa pública" tem as "suas próprias políticas". E quem não concorda? "Só tem duas hipóteses: uma é criticar, a outra é abandonar o Facebook". O comentador do programa Governo Sombra, da TVI24, esclarece que o problema da sociedade é "apropriar-se" das coisas, sendo que a maior rede social é apenas uma ferramenta, com regras próprias. Sobre a censura à escultura com mais de 25 mil anos pela empresa de Zuckerberg, João Miguel Tavares não tem dúvidas: "é um absurdo. Não li o suficiente mas claro que é imbecil. É indiscutível". "Resta saber se é 'imbecibilidade' de um algoritmo ou de alguém", acrescentou. O escritor João Tordo segue a mesma linha de raciocínio. "A sociedade não é nem nunca foi o Facebook. O Facebok tem as suas regras e achar que é um espaço de liberdade é errado", frisou o escritor. "Ir para o Facebook refilar com o Facebook é irónico", acrescentou, referindo-se à polémica com a estátua Vénus de Willendorf.  Analise você mesmoPara fazer uma auto-avaliação daquilo que considera ser censurável ou não, o The Guardian disponibilizou um quiz com imagens para fazer o teste. Veja aqui

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