Mais uma novela brasileira
‘Fina Estampa’ tem os tiques e truques de todas as melhores novelas. Não traz nada de novo. Aguinaldo Silva sabe que novelas têm sempre os mesmos temas e por isso apropria- -se de tudo o que já fez no passado sem problema
‘Fina Estampa’ é, muito provavelmente, uma das novelas que mostram que um ciclo foi encerrado e que agora a ficção deste tipo necessita de abrir novas janelas para se inspirar.
De outra forma, continuará a copiar-se até à exaustão. No Brasil, a novela foi criticada porque pareceu ser uma fotocópia de tudo o que já foi feito. A questão é exactamente essa e Aguinaldo Silva, um dos grandes autores brasileiros de novelas, sabe isso, mas não se importa.
A novela, na forma como nasceu e cresceu, vive de dramas que acabam por ser semelhantes uns aos outros. E aqui, eles são os do costume: a mulher que veio do nada e que subiu na vida, a paixão que cruza pessoas ricas com pessoas pobres, a traição e as questões sociais do momento. ‘Fina Estampa’ não procura inovar: o seu autor, criador de tantas novelas, foi ao passado e recuperou imaginários antigos, escrevendo-os de outra maneira.
A novela brasileira não se pode inventar de novo: tem de beber no mesmo rio. Especialmente agora que, com uma economia pujante e uma crescente classe média que procura outros divertimentos, quem vê novelas são os mais pobres, que continuam a buscar na televisão o fascínio do mundo dos que são ricos. Tudo na novela é caricatura. O mesmo se conta com Christiane Torloni, Eva Wilma, José Mayer, Júlia Lemmertz ou Carolina Dieckmann. Ter excelentes actores para se caricaturar a história da novela brasileira é um luxo. E é isso que Aguinaldo Silva faz: ri-se da história da novela e faz-nos rir com ele. É isso talvez que faz muita confusão às pessoas, que julgam que o autor de ‘Fina Estampa’ está num beco sem saída.
Ele está, mas caricatura isso. Sabe que é com polémica que as pessoas ainda olham para as novelas. E foi isso que ele fez. Tudo ali é profissional, da realização, ao argumento e aos actores. Mas, no fundo, ‘Fina Estampa’ mostra que os temas das novelas estão gastos. Escreve-se sobre as mesmas coisas de forma diferente. Porque já não há mais nada para inventar.
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