‘Rebelde Way’ sem rebeldes

Os rebeldes sempre foram aqueles que estão fora do sistema e que lutam contra ele. Em ‘Rebelde Way’ os únicos 'rebeldes' são filhos de políticos e de empresários que estão contra os pais porque não podem fazer festas para amigos, ir para a Polinésia e beber umas cervejas até caírem. Como 'rebeldia', o argumento é frouxo. Mas isso não é o mais grave em ‘Rebelde Way’. Os 'maus' da fita são os filhos de pobres, ou remediados, que usam todos os meios para subir na vida. Os jovens que estão bem na vida podem fazer todos os dislates porque são engraçados e amigos dos seus amigos. Como acontece com a jovem beldade que é amiga da personagem anafada que come muitos doces porque, coitada, não tem sorte ao amor.

A 'rebeldia' de ‘Rebelde Way’ esgota-se em algo que arrepia: as jovens adolescentes passam o tempo de biquini (até quando estão a falar com os pais, não vá não se sentirem à vontade…), numa forma incrível de exploração dos corpos juvenis como ainda não se tinha visto na televisão portuguesa. ‘Rebelde Way’ é a telenovela mais conservadora que já foi apresentada na televisão nacional, no seu elogio da futilidade e dos puros valores materialistas mais retrógrados que já se viram num programa para adolescentes.

Que – cúmulo – passa no ‘horário nobre’ da SIC. Não há em ‘Rebelde Way’ nenhuma ideia ética. Tudo se resume a devaneios, amuos e puro desfruto do corpo e do consumo. Não é que as séries não possam, e não devam, ser o retrato das sociedades. A questão aqui não é essa: ‘Rebelde Way’ promove os valores mais supérfluos que existem e, pior, tenta impor padrões de comportamento que degeneram no facilitismo e no consumismo de que falam os mais avisados. A rebeldia – a verdadeira – só está no título para ludibriar os distraídos.