No futuro, a internet poderá tomar o lugar da televisão, transformando o espectador em utilizador interactivo.
“Esqueça a televisão. O ecrã do futuro será a internet.” A frase é do director da AOL, Jonathan Miller, e foi proferida no início deste mês em Cannes, no MIPTV, o mercado mundial de conteúdos televisivos, onde a internet foi o tema em destaque.
Na mesma data, Ashley Highfield, executivo da BBC, afirmou: “É uma questão de colocar a decisão nas mãos do telespectador”, numa referência ao público que não assiste televisão de forma passiva e prefere escolher ‘online’ o programa que quer ver. O fenómeno despoletado pelo Live 8 (ver caixa) não se limita à emissão em directo de conteúdos televisivos.
A disponibilização na ‘web’ de programas ‘on demand’ pelas estações de televisão permite aos utilizadores assistir aos programas quando o desejarem. “Veremos o ‘video-on-demand’ tornar-se dominante ao longo dos próximos anos. O ‘horário nobre’ passará a ser o ‘meu horário’”, acrescenta Jonathan Miller.
Enquanto as televisões tradicionais se adaptam a esta realidade, surgem novos canais que emitem exclusivamente através da internet. “O panorama da indústria televisiva está a evoluir depressa e a ultrapassar o modelo de cadeia de televisão das últimas décadas”, é a opinião de Saul Berman, consultor da IBM para a área de media.
O DIGITAL EM PORTUGAL
Em Portugal, no entanto, a opinião dos responsáveis pelos departamentos de multimédia dos canais generalistas é que a revolução digital ainda está para chegar e, nesse momento, não vai ditar o fim da TV tal como a conhecemos hoje. A SIC que disponibiliza em directo (‘live streaming’) os seus quatro canais (SIC, Comédia, Radical e Mulher) e detém o ‘site’ televisivo mais visitado em Portugal está a preparar uma remodelação do mesmo.
O objectivo é, nas palavras do responsável da SIC Multimédia, Pedro Soares, “criar projectos que tenham resultados positivos”. O problema poderá ser o retorno obtido pelos conteúdos televisivos através da internet. “Procuramos modelos de negócio sustentáveis. Para isso queremos, no futuro, aproveitar mercados inexplorados”, diz. A NBC e a CBS poderão já ter encontrado o modelo: a última está a vender episódios de ‘C.S.I.’, enquanto a NCB disponibiliza as séries ‘A Empresa’ e ‘Médicos e Estagiários’ através do loja ‘online’ iTunes.
Do lado da RTP, Francisco Teotónio Pereira, responsável pelo Gabinete Multimédia, considera que “há factores de mudança que vão alterar a TV, uma vez que o formato digital permite uma televisão mais interactiva e com mais conteúdos”. A estação pública, apesar de ter sido a primeira a apostar na internet, é a única das três generalistas que ainda não oferece uma emissão ‘online’.
Francisco Teotónio Pereira explica que “o problema do ‘live streaming’ não é de tecnologia, mas sim de direitos. É uma limitação jurídica, não técnica”, afirma, frisando que a RTP está a preparar para breve essa aplicação. Refira-se que a RTP 1 inovou no panorama nacional ao realizar a antestreia do ‘Gato Fedorento’ através da internet, experiência já testada pela NBC com a série policial ‘Conviction’.
MEIO COMPLEMENTAR À EMISSÃO NORMAL
Da parte da TVI, José M. Louro, director da área multimédia, defende que “a internet serve como meio complementar à emissão normal do canal, permitindo adicionar outros conteúdos que não passam nos programas e outro conjunto de serviços, como arquivo de notícias, vídeos, passatempos e áreas de comunidade para discussão entre os nossos utilizadores”. No entanto, José Louro reconhece que a “emissão em directo é muito procurada, em particular pelos emigrantes portugueses”.
Outra parte interessada no negócio são as produtoras. Frederico Ferreira de Almeida, director da Fremantle e presidente da Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT), reitera que “a ‘net’ é um bom complemento sobre o que se passa nas televisões. É dessa forma que se deve olhar para a parafernália de ferramentas que permitem a exploração dos produtos televisivos”. E assinala que ainda está para vir “o tempo em que as novas plataformas vão receber conteúdos próprios”, pois “ainda não são rentáveis financeiramente”. No entanto, “a Freemantle tem já, nos EUA, um departamento de exploração de novos conteúdos para essa área”.
TV 'ONLINE' NO FUTURO
Fenómeno recente são as televisões que emitem exclusivamente através da internet. Em Portugal, o processo está a viver uma fase explosiva: dos oito canais que a Correio TV identificou, apenas um, a TV Ciência, começou a funcionar antes de Dezembro de 2005. “Nos próximos anos, a TV ‘online’ vai ultrapassar a rádio e tornar-se num dos principais meios de comunicação”, afirma Miguel Correia, responsável da TV Beja. O objectivo da generalidade destes canais é mostrar a realidade das regiões em que estão implantados. “Só vamos fazer a cobertura do Alentejo, com a única excepção de um programa sobre tecnologias”, anuncia Luís Lança Silva, da TV Alentejo.
A TV Famalicão, por seu turno, restringe o seu “trabalho de informação e divulgação” ao próprio concelho, revela Paulo Couto, um dos dois jornalistas que lançaram o canal. Também a Portitv, de Portimão, que se propõe “divulgar e promover a região algarvia”. Há contudo canais que nasceram com outros pro pósitos. A TV Ciência, do Instituto de Investigação Científica Tropical, surgiu em inícios de 2003 e dedica-se à difusão de conteúdos científicos em língua portuguesa. Já a VTV tem como principal missão mostrar aos alunos do ensino secundário as possibilidades de formação proporcionadas pelo Instituto Superior Politécnico de Viseu. No campo desportivo, a BTT-TV, criada em Março, exibe reportagens sobre provas e outros eventos do desporto radical BTT.
- Maior Interactividade
- Mais diversidade nos conteúdos
- Grande oferta de temas locais
- Visionamento a qualquer hora
- Acesso em qualquer parte do mundo
- Reduzida definição de imagem
- Parte dos conteúdos são pagos
- Excesso de acessos bloqueiam ‘sites’
FRANCISCO T. PEREIRA, RTP
OFERTA VAI AUMENTAR
“O futuro da televisão passa pelo desenvolvimento de um conjunto de plataformas, não da internet em exclusivo. A questão não é onde [em que plataforma vai ser vista], mas sim como será a televisão do futuro. A facilidade de produzir conteúdos vai alargar a oferta. O aparecimento de televisões locais é disso exemplo.”
PEDRO SOARES, SIC MULTIMÉDIA
“MEIOS VÃO CRUZAR-SE”
“É natural que o futuro da televisão passe pela internet. Não só porque estão a ser desenvolvidas novas plataformas, mas também porque por trás de uma emissão televisiva há um suporte informático com muito peso. Considero que os meios se vão cruzar, não canibalizar. No entanto, isto ainda está longe de acontecer.”
FATIA PEQUENA DO NEGÓCIO
“O futuro passa pelas plataformas digitais, não só pela internet. Esta, aliás, deverá continuar a corresponder à fatia mais pequena do negócio das televisões. A principal desvantagem neste momento para uma maior conjugação encontra-se nas grandes restrições que as indefinições de enquadramento legal e de direitos impõem.”
CANAIS EXCLUSIVOS 'ONLINE'
TV NET APOSTA NAS NOTÍCIAS
Nos Açores funciona desde 16 de Dezembro de 2005 uma das emissões ‘online’ portuguesas cuja página inicial é mais elaborada. A TV Net, propriedade da Pangemedia, Produção de Conteúdos, emite diariamente um jornal às 21h30 (hora do continente), produzido por redacção própria. A maior parte dos temas é de âmbito nacional.
VISITAS ÚNICAS POR MÊS - 'CANAIS ONLINE'
TV Ciência: 70.000
TV Beja: 30.000
TV Net: 25.000
TV Alentejo: 15.000
TV Famalicão: 8.000
PortiTV: 4.500
660 MIL
É o numero de internautas que visitou os ‘sites’ da RTP, SIC e TVI durante o passado mês de Fevereiro. O valor é 8,4% superior ao registado no mesmo período em 2005.
500 MIL
A Mobi TV, fornecedora de TV para telemóveis, tem mais de 500 mil assinantes nos EUA. A TMN disponibiliza um serviço de transmissão de televisão para telemóveis, que inclui 21 canais.
1.220
É o número de canais de televisão de todo o mundo que emitem através da internet registadas no Mediahopper, um guia digital sobre emissões ‘online’.
90 MILHÕES
É o número de ‘downloads’ de excertos do festival Live 8 efectuados através do ‘site’ da AOL. O concerto foi visto ao vivo por 170 mil internautas.
50 MILHÕES
Facturação anual da Mobi TV.
BBC INTEGRATED MEDIA PLAYER
A BBC vai entrar no mundo da TV ‘online’, depois do promissor teste ao novo serviço da estação pública britânica Integrated Media Player. Quando o projecto for lançado, ainda em 2006, os internautas terão acesso aos programas de TV e rádio da BBC durante sete dias após a sua emissão.
DISNEY OFERECE SÉRIES
A Walt Disney anunciou esta semana que irá disponibilizar gratuitamente as séries ‘Perdidos’, ‘Donas de Casa Desesperadas’, ‘Commander in Chief’ e ‘A Vingadora’ a partir de Maio para ‘download’. Já a 17 de Abril, o grupo inaugura um canal de banda larga só para séries: o Soapnetic.
‘DOWNLOADS’ GRATUITOS
A AOL, o maior fornecedor de acesso à Internet nos EUA, em colaboração com a Warner Brothers, lançou o In2TV, um serviço de TV ‘online’ que disponibiliza o ‘download’ gratuito de grandes clássicos da televisão. O projecto é um dos frutos da fusão entre a AOL e a Time Warner em Janeiro de 2001.
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