Mulheres de carreira, movidas pela ambição, lutadoras até ao fim. Elas são as verdadeiras heroínas das novelas
Com um público maioritariamente feminino, mas sem descurar o masculino, as telenovelas nacionais têm vindo a apostar cada vez mais em personagens de mulheres fortes e independentes. O alvo já não é apenas a típica dona de casa, mas também a mulher que aposta na carreira e está em pé de igualdade com os homens. Além disso, é comum a heroína da história assumir o papel de vilã, afastando--se da imagem de ‘boazinha’ e da fragilidade que esta acarreta. Quem não se lembra de Teresa Pimenta em ‘A Outra’ (Margarida Marinho), ou de Margarida Simões (São José Cor-reia) e Sara Varela (Sofia Alves) em ‘Fala-me de Amor’, da TVI?
Mas nem sempre foi assim: se hoje, mulheres com profissões liberais são uma constante na ficção televisiva, há 20 anos, a mulher submissa era regra.
"As pessoas estão muito mais abertas a estas personagens. Hoje é muito comum encontrar mulheres à frente de empresas. Contudo, também não é preciso ser líder de uma empresa para ter poder", diz Patrícia Müller, autora de ‘Rosa Fogo’ (em exibição na SIC), ‘Mar de Paixão’, ‘Deixa que Te Leve’ e ‘Fascínios’ (todas da TVI). "Temos de criar mulheres interessantes, especiais, intelectualmente evoluídas, cuja força e poder estão constantemente a ser colocados à prova", acrescenta, indicando o exemplo de duas personagens de ‘Rosa Fogo’: Gilda Mayer (Irene Cruz), dona de um império, e Alzira (Maria Emília Correia), proprietária da confeitaria Imperatriz. "A primeira gere um império e a segunda um negócio e uma família. Têm ambas um grande poder."
Pedro Lopes, da SP Televisão, autor de ‘Laços de Sangue’ (SIC) e de várias séries ricas em personagens femininas que exercem profissões liberais – como ‘Liberdade XXI’ (advogadas), ‘Maternidade’ (médicas) ou ‘Voo Directo’ (hospedeiras), da RTP –, considera que "houve uma mudança muito grande nos últimos dez anos". O guionista diz à Correio TV que esta evolução das personagens é "uma tentativa de retratar cada vez melhor a realidade". O autor recorda a malévola Diana (Joana Santos), a empreendedora Inês (Diana Chaves), a empresária Rita (Joana Seixas) e a excêntrica Gi (Custódia Gallego), personagens de ‘Laços de Sangue’, e aponta-as como casos de mulheres de sucesso, que dão "um sentido de identificação ao público".
Vencedor de um Emmy, António Barreira defende que "dramaturgicamente, o universo das mulheres é muito mais interessante do que o dos homens". O autor de ‘Meu Amor’ – "uma novela de mulheres emancipadas" – e de ‘Remédio Santo’ diz que a evolução das personagens femininas é "seme- lhante aquela que acontece na sociedade".
Uma ideia corroborada por Rui Vilhena, autor de alguns dos maiores êxitos da ficção nacional da última década, como ‘Ninguém como Tu’ (2005), ‘Tempo de Viver’ (2007) e ‘Equador’ (2009). "O universo feminino é muito mais interessante, as mulheres são mais conflituosas e competitivas; pelo contrário, os homens são introspectivos e algo monótonos". Mais que em mulheres fortes pela profissão e poder que lhes é conferido, Rui Vilhena prefere falar em "personagens femininas fortes, que tanto são protagonistas como antagonistas. Neste campo, o autor acredita ter "lançado a tendência com Luiza Albuquerque (Alexandra Lencastre em ‘Ninguém Como Tu’, TVI)". Actualmente, Rita Pereira, em ‘Remédio Santo’, e Sofia Ribeiro, em ‘Doce Tentação’, ambas da TVI, representam vilãs que acabam por se assumir como protagonistas. "O maior desafio não é criar personagens más e fortes, mas sim, não fazer da ‘boazinha’ uma chata de galochas", conclui.
Tozé Martinho, argumentista de ‘Dei-te Quase Tudo’ e ‘A Outra’, ambas da TVI, considera que "as mulheres têm uma presença no mundo contemporâneo diferente do que tinham à 30 anos" e, portanto, é natural que haja também uma evolução nas novelas. O autor recorda a personagem de Eunice Muñoz em ‘Todo o Tempo do Mundo’ (TVI) – uma pianista de fibra – como uma das que mais o marcou. Eunice Muñoz e Simone de Oliveira são exemplos de actrizes que chegaram à TV num tempo em que as matriarcas eram o expoente máximo do poder da mulher. Questionado sobre a possibilidade de vermos mulheres influentes há algumas décadas, Tozé Martinho diz que "iria chocar as mentalidades e teria de ser uma coisa muito moderada para não ofender a sociedade".
Já Moita Flores, autor de algumas das séries históricas mais populares em Portugal, afirma que as mulheres sempre tiveram pouca força na ficção porque "a história escreve-se no masculino". O autarca, autor de ‘A Ferreirinha’ (RTP), um dos mais fortes retratos de uma personagem feminina com poder, diz que "foi a força da série que devolveu a D.ª Antónia Ferreira [Filomena Gonçalves] um protagonismo enorme". Moita Flores acrescenta que, "na realidade, as mulheres só têm sucesso quando se apropriam do pensamento masculino".
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