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Beijo gay continua adiado

'Afonso’, personagem bissexual interpretado por Hugo Tavares, é ‘apanhado’ no jardim, durante a sua festa de noivado, com o jardineiro. A cena foi para o ar ontem à noite, na novela ‘Tempo de Viver’ da TVI, mas, mais uma vez, o tão esperado beijo gay não aconteceu. Por isso é que a comunidade homossexual critica o conservadorismo das televisões.

27 de junho de 2006 às 00:00

António Serzedelo e Paulo Côrte-Real, presidentes, respectivamente, da Opus Gay e da Ilga, lamentam que a produção nacional ainda não tenha ‘saído do armário’ e não compreendem por que é que não exibem as imagens. Serzedelo considera muito importante que as TV e os media em geral se refiram às questões como a homossexualidade e bissexualidade “com seriedade, desmistificando-as. É pena que não mostrem as imagens. É o costume.... O beijo é visto como um acto de intimidade e as televisões ainda têm receio de o mostrar como teriam receio de mostrar um acto sexual” (ver caixas).

Paulo Côrte-Real diz que “já é tempo de haver uma representação fiel da realidade. Um beijo é uma demonstração de carinho”.

Rui Vilhena garante que a sua intenção nunca foi chocar ninguém. “Naquela cena [ a de ‘Afonso’] nem sequer havia necessidade de um beijo. A ligação do ‘Afonso’ com o jardineiro já passou. Não preciso de ter duas personagens aos beijos para passar o que quero”, salienta o autor adiantando: “Não me importava que houvesse um beijo se o ‘Afonso’ e o jardineiro estivessem apaixonados, mas naquele contexto não fazia sentido. Foi uma relação de momento.”

A bissexualidade, abordada pela primeira vez na TV portuguesa, junta-se a outro tema polémico, o ‘swing’, ou seja, a troca de casais, também em ‘Tempo de Viver’. Rui Vilhena aposta ainda em temas mais habituais nas novelas como é o caso do alcoolismo, das diferenças sociais e os triângulos amorosos.

‘Fala-me de Amor’, também da TVI, faz uma incurssão ao rapto de crianças enquanto que em ‘Dei-te Quase tudo’ se fala de cancro.

CENA 'CORTADA' EM SÉRIE DA SIC

‘Gustavo’ (Luís Gaspar) e ‘Fernando’ (Diogo Morgado) formam o casal homossexual da série ‘Aqui Não Há Quem Viva’, da SIC, que viu ‘cortada’ a cena em que ambos se beijavam.

No original espanhol, a cena do beijo aconteceu logo no primeiro episódio, mas por cá seria exibida mais tarde. No entanto, a decisão da estação foi a de não gravar, sequer, a cena.

Teresa Guilherme, responsável pela produção nacional da estação, disse na altura ao CM, que o ‘caso’ seria entregue à administração, mas que se fosse exibido “seria um beijo sem carga sexual”.

Os actores, esses, estavam mais que prontos para as gravações. “Para mim, isto é trabalho. É um beijo simples. Dar um beijo ou um estalo é a mesma coisa”, salientou Luís Gaspar, intérprete de ‘Gustavo’.

Glória Perez, autora de ‘América’, exibida em 2005 na SIC, criou a cena de um beijo protagonizada pelo casal homossexual ‘Júnior’ (Bruno Gagliasso) e ‘Zeca’ (Eron Cordeiro), mas a TV Globo acabou por não a transmitir, apesar de ter sido gravada.

A censura do primeiro beijo gay da TV brasileira levou ao protesto de várias associações homossexuais do país, da autora da novela e dos actores que encarnaram os personagens. “Não vou carregar essa culpa, é injusto”, afirmou Glória Perez, garantindo que a censura partira da Globo.

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