page view

HERMAN RECEBE ACTIVISTA E FADISTA VALERIA

A fadista madeirense Valeria Mendez é uma das convidadas do HermanSic de hoje. A cantora vai falar da sua cirurgia de reajustamento sexual e do processo de mudança oficial de sexo e de nome. O amor pelo fado, a sua ligação com Amália e a participação de Valeria numa organização da Libertação da Palestina vai ser um dos outros assuntos presente no serão de domingo no canal de Carnaxide.

10 de maio de 2003 às 18:53

“Tive uma infância lindíssima”, referiu Valeria Mendez, de 39 anos, ao CM reconhecendo que nunca tinha percebido que tinha nascido com uma deficiência sexual, chamada de hermafroditismo. Registado como Ruy Valério, somente durante o tempo de Liceu é que Valeria começou a verificar que era diferente dos outros rapazes da mesma idade. Tinha pénis mas não tinha testículos, o que levou a escola a proibi-la de fazer qualquer actividade física. “A Madeira é um meio fechado, cheio de preconceitos”, afirmou Valeria desgostosa com a discriminação que se sentia alvo. Nessa altura, a operação de correcção genital era possível, mas o Estado português não permitia a mudança oficial do nome.

Depois de concluído o liceu, Valeria viajou até Itália onde adquiriu o gosto pelo fado depois de ter conhecido Amália, num dos muitos concertos da Fadista por todo o mundo. Terminado o curso superior, Valeria foi para França onde teve o primeiro contacto com o Comité francês para a Libertação da Palestina, e onde viria a participar em diversos concertos de apoio à causa.

Regressada à sua terra natal, Valeria tentou ocupar-se de uma forma que lhe possibilitasse esquecer a deficiência e a infelicidade por não ser aquilo que queria ser. Ao mesmo tempo que cantava o Fado, Valeria dava aulas no Conservatório de Música da Madeira e era jornalista do “Jornal da Madeira”. Mas a felicidade completa só surgiu quando fez a operação de correcção, uma vez que o Estado já permitia a alteração do nome de Ruy para Valeria.

“Antes tinha que esconder o meu lado feminino, usando camisolas justas para esconder o peito, que entretanto me tinha crescido”, reconheceu a fadista, admitindo a infelicidade que lhe invadia o corpo e a mente. Valéria garantiu ao CM que hoje sente-se plenamente “realizada”, quando está prestes a completar 40 anos de idade. “Agora já sinto prazer, coisa que nunca tinha sentido antes da operação”, concluiu a fadista.

Hoje Valeria vai interpretar o “Cansaço” e vai dedicá-lo à sua amiga de sempre, Amália Rodrigues, num programa dedicado ao cantor já falecido, Carlos Paião. A fadista espera que o seu depoimento ajude outras pessoas na mesma situação a lutarem por aquilo que querem e que os madeirenses deixem de ser tão preconceituosos.

AMÁLIA FOI A MINHA PSIQUIATRA.

Até chegar a Itália, para onde foi estudar, Valeria não conhecia Amália nem tão pouco cantava o Fado. Um dia viu nas ruas da cidade italiana de Perúggia, cartazes que anunciavam o concerto de Amália Rodrigues. Esse foi um dia que marcou a madeirense para o resto da sua vida. Encantada com o Fado cantado pela “Diva”, Valeria conheceu Amália nos bastidores do concerto. Uma grande afinidade surgiu entre as duas, ainda mais porque Valeria era a única portuguesa ali presente para além, da “estrela” e dos guitarristas. Desde então a madeirense seguiu a fadista para todo o lado, estando presente e cerca de 54 concertos.

Anos mais tarde e numa entrevista para o “Jornal da Madeira”, Valeria volta a reencontra-se com Amália, que a reconheceu de imediato travando desde logo uma cumplicidade muito grande entre as duas. “Amália conheceu-me antes e depois da operação. Nunca andei em terapeutas por causa do meu problema. Ela foi a minha psiquiatra”, afirmou Valeria ao CM.

A morte da “Diva do Fado”, em 1999, deixou a madeirense bastante chocada pois para além de ser perder uma grande voz tinha perdido uma “grande amiga”. “Ainda hoje choro”, concluiu.

ESTRELA POP ISRAELITA

Apesar de transexualidade ser bem diferente do hermafroditismo, a israelita Dana International adquiriu a fama depois de ter mudado de sexo e de ter ganho o EuroFestival da canção em 1998. A cantora, outrora com o nome de Yaron Cohen, gerou grande polémica no mundo artístico europeu. Nascido de uma família pobre de Telavive, Dana cedo demonstrou a sua vocação para actuar para grandes multidões.

Com 31 anos, Dana International é uma das artistas que mais vende em Israel, com um numeroso clube de fãs que a seguem e tentam imitar. Para além da componente artística, a transexual luta também pela igualdade das pessoas que não se sentem no corpo que têm e que querem mudar de sexo. “Represento um Israel Liberal, que aceita o ser o humano independentemente das tendências sexuais e raça”, afirma a cantora.

PERFIL

Valeria Mendez nasceu no Funchal em 1964 com o nome de Ruy Valério. Depois de terminar o Liceu foi para Itália e mais tarde França onde tirou o curso de Literatura Francesa e Italiana. Aos 21 anos começa a trabalhar como professora no Conservatório da Madeira ao mesmo tempo que escreve para o “Jornal da Madeira”. Em 1988 edita o único disco de inéditos da sua carreira com o nome de “Panoramas Belos”. Cinco anos mais tarde é operada e muda o nome para Valeria Mendez.

HERMAFRODITISMO

Esta é uma malformação pouco frequente mas de fácil resolução.

Trata-se de uma deficiência fisiológica genital em que uma pessoas nasce com anatomia feminina e masculina. A cirurgia de correcção é simples e depois de serem efectuados diversos testes os médicos podem atribuir um ou outro sexo à pessoa. Estas cirurgias podem ser efectuadas na infância ou na fase adulta.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8