A edição de hoje
A novela brasileira ‘Sinhá Moça’, em exibição na SIC, foi acusada de racismo. O Ministério Público da Bahia instaurou um inquérito para investigar se a obra, de Benedito Ruy Barbosa, não estaria a prejudicar a auto-estima da população negra e afro-descendente ao deturpar a história da escravidão.
A trama da Rede Globo aborda o romance de ‘Sinhá Moça’ (Débora Falabella) e o advogado ‘Rodolfo’ (Danton Mello), entremeada pelas disputas políticas que tomam conta do Brasil nas vésperas da abolição da escravatura, na segunda metade do século XIX.
Segundo o promotor de Justiça Almiro Sena Soares Filho, a novela erra ao mostrar o negro como uma pessoa passiva e sofredora, que precisa de heróis brancos para se libertar.
“A novela é questionável. Aquilo não é bem a história do negro brasileiro, é uma história deturpadíssima, que omite os ‘quilombos’ e as revoltas lideradas por negros. Tudo indica que a novela é racista, ainda que o autor não tenha tido a intenção”, afirmou o promotor.
A Rede Globo defende-se dizendo que ‘Sinhá Moça’ é uma obra literária e que o objectivo da novela é “entreter, informar e educar”. “O caminho dos negros é longo, árduo e penoso, mas a liberdade aguarda-os no fim, tal qual aconteceu na história do Brasil”, adianta a Globo, numa carta enviada ao Ministério Público da Bahia.
Mas, estas afirmações não convenceram o promotor: “Não se pode abordar um facto destes [300 anos de escravidão] sem responsabilidade histórica.”
Soares Filho espera a perícia de dois especialistas em história para tomar uma decisão. “Vou negociar uma reparação.”
José Falcão, presidente da associação portuguesa SOS Racismo, não conhece a história de ‘Sinhá Moça’. “Não vejo a novela, portanto não me posso pronunciar. De qualquer forma, e reportando--me apenas ao que diz a notícia, a ser verdade, é condenável que não se mostre a realidade histórica”, conclui.
ORIGINAL FEZ SUCESSO EM 1986
A novela que a SIC e a Globo estão a exibir é uma nova versão da ‘Sinhá Moça’ – obra de Benedito Ruy Barbosa inspirada no livro homónimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes – que fez sucesso em 1986.
A novela é realizada por Ricardo Waddington, que garante que o “texto está a ser preservado” e não esconde “a vontade de contar de forma diferente a trama” que já encantou milhões de espectadores. “Será uma outra novela, já que as equipas de criação e produção são outras, o que necessariamente traz um novo olhar para a obra.”
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