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Abel Xavier: “Não me revejo no futebol”

Numa conversa em que abriu o seu coração, Abel Xavier fala sobre o que sofreu no futebol, mas confessa que não guarda mágoas.

12 de junho de 2010 às 19:00

"Quando temos uma carreira de jogador, somos julgados pelo que aparentamos. Existe uma grande diferença entre o que se vê e o que eu sou." É assim que Abel Xavier, de 37 anos, encara a vida. O ‘lourinho', como é conhecido no mundo desportivo, confessou à Vidas o que sofreu no futebol, "um meio que respeita" mas "não é um meio em que me reveja". O ex-internacional português falou ainda da separação dolorosa da mãe dos seus dois filhos, Sónia, e revela que tem esperança de encontrar a mulher da sua vida.

"Tenho dificuldade em conversar com os jogadores sobre determinadas coisas", diz, lembrando que a sua vida nos relvados esteve longe de ser fácil. Prova disso foi a acusação de doping, em 2005. "Nunca fumei nem me droguei na minha vida. Vivi em bairros de lata e tive amigos que se drogavam e que infelizmente...", afirma, cinco anos depois de um dos maiores pesadelos da sua vida.

VIDA DIFÍCIL

Apesar das adversidades que foi enfrentando, Abel Xavier tornou-se um dos grandes jogadores da sua geração mas, devido à acusação de doping, foi afastado 18 meses dos relvados. "Para mim, foi mais um desafio. Tinha duas soluções, ou resignava-me e ficava vinculado aos aspectos negativos, ou reagia. E eu reagi. Reagi sabendo que tinha sido lesado sem merecer. Aos 34 anos, ter um castigo de 18 meses?! Não estou a ver muitos jogadores que pudessem recuperar a carreira", lembra, orgulhoso.

Mesmo sem empresário, em 2007, "o telefone tocou e convidaram--me para ir para o Los Angeles Galaxy com o David Beckham. Quando ouvi a oferta, agradeci a quem acredito. Só podia ser justiça divina a dar-me a possibilidade de reencontrar os meus filhos depois de tanto tempo." A felicidade que sentiu foi ímpar. Depois de muitos meses a sonhar com uma cidade onde pudesse viver com a família, encontrou Los Angeles. No entanto, acabou por conhecer mais uma barreira: a separação da mãe dos filhos. "De facto [risos],separei-me

quando encontrei a cidade ideal para vivermos juntos. Nunca fui casado. Foi uma união de facto. Mas a minha ex-mulher teve as mesmas condições. Foi como se fosse casada comigo. Depois do divórcio, ela ficou numa posição muito privilegiada face a qualquer outra mãe com dois filhos."

A SEPARAÇÃO DE SÓNIA

Abel separou-se há três anos de Sónia Mata, mãe dos filhos, David, com 17 anos, e Lucas, com sete. "Sobre essa pessoa, sempre disse e digo que tenho muito respeito pelos filhos que me deu. Se ela entendeu que seria melhor estruturar a sua vida de outra maneira, só tenho que respeitar." É ainda com mágoa que o ex-internacional fala da ex-mulher, "essa pessoa".

Questionado sobre a forma como se refere à mãe dos seus filhos Abel Xavier atira: "Nunca refiro o seu nome?! Posso referir. Chama-se Sónia." O ex-jogador conheceu-a ainda novo, antes de se aventurar pelos grandes clubes internacionais. "Quando conhecemos alguém, as relações são puras. Mas com a evolução começa a haver uma quebra. Tem de se conviver muito bem com a pressão", diz, confirmando que a mulher ainda o acompanhou a Itália quando alinhou pelo AS Bari, o primeiro clube estrangeiro onde jogou. Mas Sónia não conseguiu adaptar-se e regressou a Portugal. "Ela é filha única e, por ter laços familiares diferentes dos meus, achei que era conveniente ser eu a fazer alguns sacrifícios, desde que mais tarde fossem reconhecidos".

Por sacrifícios, Abel Xavier entende "estar longe da família, concentrado no trabalho e a viver como um emigrante". "A vida não foi diferente da dos meus pais [‘retornados']. Mas, quando se fazem sacrifícios, temos de perceber para que é que se fazem. É para um dia vivermos em harmonia e olharmos para trás e dizermos ‘valeu a pena'." Só que, no caso do ex-jogador, "os sacrifícios não foram reconhecidos", considera.

A VIDA LÁ FORA

O "desgaste" ditou o fim da união, até porque foram muitos anos longe de Sónia, David e Lucas. "Estive seis anos em Inglaterra, onde o futebol é o melhor, era muito respeitado mas não era feliz, porque não tinha a minha família comigo."

Quando foi convidado para LA "já havia alguma saturação. Era uma mudança radical, estamos a falar de outro continente... E o casamento acabou."

"Tentei que fosse possível mas não foi, e temos de respeitar." Agora, o ‘lourinho' deseja que Sónia "encontre uma relação estável, que lhe possa dar tudo o que eu não consegui." Ocasamento terminou há três anos, altura em que o ainda futebolista aprofundava já o seu interesse pelo islamismo, religião que lhe deu força. "Nela encontrei um apoio interior justo."

REFÚGIO NO ISLAMISMO

Abel ainda sofre com a separação. E há ano e meio fez uma tatuagem, a última das que tem, "em memória" do passado. "Fiz umas asas nas costas. Foi a minha terapia de cinco meses do meu divórcio. Deu-me tranquilidade, paz. Fiz umas asas para voar. Faz sentido?" Além das asas, o ex-jogador tem tatuado o nome dos filhos e duas expressões. "I am what I am [eu sou o que sou]. Soa a arrogância?! Mas não é. É sentimento", garante. A outra é "What doesn't kill you make you stronger [O que não te mata torna-te mais forte]".

Apesar do reconhecimento público que a vida de futebolista lhe proporcionou, Abel teve poucas mulheres. "Sempre fui um homem de poucas paixões. Só tive quatro grandes paixões", revela, confirmando que Sónia foi uma delas. Abel Xavier, que diz que "por amor fazia tudo", confessa que "neste momento" está sozinho. "Desta vida só levamos sentimento. Por isso, as coisas que conseguimos, e eu gosto das coisas boas, são para partilhar com a pessoa certa."

Apesar de se ter convertido ao islamismo, religião que admite a poligamia, o ex-jogador admite: "Encontrar a pessoa certa, que não veja o aspecto material, é muito complicado. Mas vai aparecer." Assumindo-se "um romântico", diz que no amor projecta "as coisas de uma maneira lunática", e elas "fogem por não acreditarem e pensarem que nunca vão ter segurança".

EMPRESÁRIO

"A minha carreira no futebol foi simplesmente uma etapa", diz, lembrando que agora tem viajado por África, Médio Oriente... "Quero ser um activista. E estou a juntar todos os contactos que fiz num projecto inovador onde vai imperar a acção humanitária. Estamos a identificar as zonas de calamidade, pobreza, conflito, em que possamos intervir." Recusando dar mais dados, lembra que, "em África, morrem todos os dias 20 mil crianças".

"ELA QUIS CASAR... MAS EU..."

Foi em Los Angeles que Abel conheceu Gabrielle Tuite, uma modelo e actriz com quem namorou e que trouxe a Portugal em 2009 para conhecer os seus filhos. "Tivemos uma relação muito profunda. Mas, quando ela me propôs um passo mais vinculativo, eu não estava preparado para esse passo." Ela quis casar? "[risos] Pois. Ela quis... mas eu..."

"GOSTO DE SER AMIGO DO DAVID"

Foi no Los Angeles Galaxy que Abel Xavier conheceu David Beckham. "Se gostei de trabalhar com ele? Fundamentalmente, gosto de ser seu amigo, o que é mais importante para mim. Qualquer jogador gostava de estar numa equipa com o David, e eu tive esse privilégio. Estando perto dele, apercebi-me de muitas coisas, aprendi muitas outras, conheci pessoas que nunca pensei conhecer e frequentei casas que nunca pensava frequentar."

"NASCI NUMA ZONA MUÇULMANA"

Abel Xavier surpreendeu todos quando, em Janeiro, anunciou que se tinha convertido ao islamismo e adoptado o nome Faisal. "Eu nasci no Norte de Moçambique, numa zona muçulmana", lembra, contando que o seu interesse pelo Islão se adensou em 2003 quando esteve na Turquia a jogar no Galatasaray. Foi neste credo que encontrou apoio e, por gratidão, optou e revelou a decisão.

"FALEI COM ELA DUAS VEZES"

Abel Xavier desmente qualquer relação com a ex-mulher de Deco, Jaciara, que encontrou há duas semanas na discoteca Gossip. "Só falei com ela duas vezes, e foram conversas de circunstância, ‘olá, estás boa?'. É público que ela foi mulher de um colega meu."

"ELES SÃO OS MEUS AMORES"

"Se há amor profundo, o maior que tenho é pelos meus filhos", David, de 16 anos, e Lucas, com sete. "São os meus amores. Quando olho para trás, vejo que podia ter alterado muitas coisas. Tenho algum ressentimento de não ter crescido com eles. Mas temos uma grande relação", sublinha.

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