Fadista celebra 15 anos de carreira com um concerto único dia 7 de dezembro no Meo Arena, em Lisboa.
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Pelos 15 anos de carreira e pela celebração que está a preparar para a Meo Arena, a maior sala do país, presume-se que este não seja só mais um espetáculo da Cuca?
De facto não é só mais um espetáculo. Acho que este é 'o' espetáculo. É verdade que todos os meus concertos são especiais, mas este está a ser construído há um ano. É a primeira vez que vou fazer o Meo Arena, apesar de nem sequer ter sido uma decisão minha. Foi um convite que eu recebi do próprio Meo Arena, o que veio a calhar bem porque se fosse por mim eu provavelmente acharia sempre que nunca estaria preparada. Mas acho que este concerto vem agora fechar um ciclo e não querendo revelar muitas coisas sobre o que vai acontecer, tenho a certeza que as pessoas vão sair de lá inspiradas.
Mas que ciclo é este que se fecha?
É um ciclo de muita coisa que fui construindo e que me deu toda a maturidade e segurança que sinto hoje. É bonito olhar para trás e ver os medos que eu tinha, a forma como compunha, por onde comecei, qual era a minha essência e a minha raíz, o caminho que segui e onde fui parar... e agora acho que estou numa fase em que estou muito virada para o mundo. Este ano fui convidada, por exemplo, para gravar discos em três países diferentes, em Espanha, no Brasil e depois um disco em França com o agente que lançou a Amália Rodrigues no mundo, chamado Jean-Jacques Lafaye. Na altura era muito jovem mas desde a morte da Amália nunca mais tinha trabalhado com ninguém. Hoje tem quase 80 anos.
E como é que o conheceu?
Foi quando fui a Paris fazer aquele projeto Amar Amália com vários artistas portugueses, Sara Correia, Marco Rodrigues, Marisa Liz, Aurea e Paulo de Carvalho. O Jean Jacques foi um dos convidados desse concerto. No final, pediu para vir falar comigo. Estava muito emocionado e disse-me que achava que desde da morte da Amália nunca mais iria encontrar nenhuma voz que o motivasse a trabalhar.
E como foi trabalhar depois com ele?
Foi incrível, até porque ele acabou por me dar coisas inéditas da Amália, bilhetes de espetáculos, bilhetes escritos por ela e fotografias que ninguém tem. Há uma coisa que ele me disse que nem sei se me fica bem repetir (risos). Ele disse-me que a Amália lhe confidenciou que gostava de ter um bocadinho mais de esperança e que de repente ele tinha encontrado essa esperança em mim.
Já disse em várias entrevistas que tem uma missão na vida. Quando é que percebeu que tinha essa missão?
Acho que essa consciencialização teve várias fases. A primeira foi quando, mesmo no início da minha carreira, eu falei com o Gustavo Santaolalla [músico, compositor argentino e um dos maiores produtores do mundo], e ele me perguntou se eu queria ser cantora em vez de ser psicóloga, porque as duas coisas não podiam ser. Deu-me uma semana para pensar e foi nesse período que pensei pela primeira vez na palavra 'missão'. Só mais tarde, aos 30 anos, quando comecei a fazer ioga e a mergulhar na espiritualidade é que alcancei um equilíbrio que me levou a tomar consciência de que este dom que me foi dado deveria ser utilizado para levar algo até aos outros. E foi a partir daí que tudo mudou.
Mas sente que dentro dessa lógica o fado tem algo de especial?
A música é medicina e pode ser uma cura e o nosso fado em particular tem uma energia muito específica, porque passa as fronteiras todas e emociona toda a gente, muitas vezes sem estas perceberem nada da língua. O fado rompe com máscaras, sejam de quem canta, sejam de quem ouve. E quando percebemos que somos apenas um instrumento é muito mais fácil começar a perder todos os medos. Eu já cantei para o Papa, para os reis de Espanha ou da Suécia, já cantei em tantos lugares do mundo em mais de 50 países, que tudo o que tenho que fazer é isto mesmo, cantar.
Falava em medos. Que medos é que perdeu e que medos é que ainda tem?
Perdi o medo de estar em palco e de ser eu própria a cantar.
Porque é que tinha esse medo?
Porque sou muito tímida e por isso ficava sempre com medo de ter muita gente à minha frente. Sentia-me desconfortável e sempre muito intimidada. Depois pensava muito enquanto estava a cantar com medo de desafinar uma nota. Mas hoje em dia eu já não penso nisso. Entro em palco e sinto-me completamente em casa. Hoje sou mais eu própria.
Mas ainda tem medos ou não?
Sim. Gostava de conseguir falar como canto. Não tenho tanta facilidade em exprimir-me em palavras como tenho em música. Gostava de conseguir passar algumas mensagens com a facilidade com que passo nas redes sociais. Aliás eu escrevi um livro porque a Porto Editora me seguia e me convenceu que eu escrevia coisas muito interessantes.
Quinze anos parece muito ou pouco tempo para tudo aquilo que já fez?
Quinze anos parece efetivamente muito tempo, mas por outro lado também parece que passou a correr. Mas eu acho que ainda tenho muito para aprender. Quando fui convidada para cantar com o Andrea Bocelli comecei a ter aulas de canto lírico seis meses antes e apaixonei-me pelo lírico.
Ainda vamos ver a Cuca na ópera?
Não estou a pensar nisso, mas descobri um mundo novo. Descobri, por exemplo, que não utilizava 50 por cento da minha voz. Descobri que sou uma soprano ligeiro que são umas vozes muito agudas. E nesse sentido há um mundo inteiro por explorar.
Dizia que já viajou para mais de 50 países para cantar. Para quem passa muito tempo fora de casa, como é que se concilia isso com a vida familiar ainda para mais quando tem dois filhos?
Desde que o meu marido [João Lapa] se tornou agente FIFA e veio para casa, ele tem viajado muito comigo porque ele pode trabalhar de qualquer parte do mundo. Quanto aos meus filhos, o maior problema é a escola, porque o Lopo não pode faltar muito. Mas este ano até viajámos bastante. Eu fiz uma digressão na América Latina e o João foi lá ter com a Benedita e conseguiram estar comigo 15 dias. Fiz uma digressão grande em Cabo Verde e eles também estiveram muito comigo.
E eles assistem sempre aos seus espetáculos?
Sim, sim, a menos que a Benedita esteja cansada. Mas estes dois últimos anos foram fantásticos nesse sentido.
E como é a relação da sua família com a sua música e com a sua exposição?
A Benedita percebe que as pessoas querem tirar fotografias comigo e vai ter com elas para lhes dizer que é a minha filha (risos). No outro dia perguntou-me se podia escrever no TikTok que é filha da Cuca Roseta (risos). Ela já está a ter o gosto, até porque já apareceu no The Voice a cantar.
Foi mesmo uma surpresa para si?
Claro que foi, se ela nem canta para os amigos lá em casa, cantar em televisão era algo que eu achava impossível. Mas acho que ela desbloqueou ali qualquer coisa, porque mesmo nos meus concertos ela pede sempre para cantar.
Mas vê apetência para o fado?
Eu não sei se ela gosta muito de fado, neste momento parece-me que está mais virada para a pop e para as músicas do Fernando Daniel, da Bárbara Tinoco ou da Nena, por exemplo.
E o Lopo?
O Lopo começou a ter aulas de piano há um ano e estamos impressionados porque ele tem um jeito para tocar piano inacreditável, aos 16 anos. Também é muito afinado mas não gosta de cantar.
Acredita que herdaram talento de si?
Acredito que estas coisas passam sim. Na minha família o meu avô já tocava e a minha avó também já cantava bem. No caso dos meus filhos eles parece que já tem uma afinação natural. Agora, podem vir a cantar ou não. Os meus irmãos também são todos muito afinados mas nenhum deles canta como profissional.
Falava das mudanças que ocorreram consigo ao longo destes quinze anos, mas é comum ouvir os artistas falar da importância de não perder a essência. Ainda se reconhece naquela Cuca que começou na música quase por acidente?
Curiosamente eu acho que o Meo Arena vem trazer-me precisamente à essência mas com mais segurança e maturidade. Há coisas da minha essência que se mantêm e outras que não eram tão boas e com as quais fui lutando.
Por exemplo?
Olha, eu antes magoava-me muito com as críticas das pessoas, até nem dormia bem e agora estou muito bem resolvida. Hoje as críticas já não me tocam e já não me magoam. Hoje podem estar a criticar-me que tudo o que recebem de mim é um sorriso. E acho que a espiritualidade me ajudou muito nisso. Por isso hoje, mais do que nunca, sinto que não tenho nada a esconder e que posso fazer o que bem me apetecer.
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