A viúva do popular radialista diz que desde o momento da morte do marido foi abandonada por família e amigos. Revela que vive com dificuldades
A viúva do popular radialista diz que desde o momento da morte do marido foi abandonada por família e amigos. Revela que vive com dificuldades financeiras e que foi por isso que o filho Pedro aceitou fazer um filme pornográfico.
- O seu filho Pedro diz que tem a certeza que se o pai fosse vivo o teria apoiado na decisão de fazer um filme pornográfico. Acha que o Jorge Perestrelo teria compreendido esta decisão?
- O que eu sei é que se o Jorge fosse vivo, o Pedro não teria precisado de fazer isto, porque não precisaríamos de dinheiro.
- Mas o seu filho fez esse filme apenas por dinheiro?
- Claro que sim. Com a morte do meu marido ficámos com muitas dívidas para pagar e temos passado por grandes dificuldades, inclusive para pagar os estudos. A minha filha, por exemplo, teve de desistir do sonho que tinha de tirar Veterinária, porque é um curso caro, e o Pedro teve de suspender a escola. Como se não bastasse, o meu filho ainda precisa de fazer uma série de plásticas reconstrutivas que não temos hipóteses de pagar.
- Que plásticas são essas?
- É uma história antiga. Quando o Pedro tinha cinco anos, foi queimado no infantário onde andava, o conceituado infantário do Bom Sucesso, que era gerido por freiras. Houve um dia que elas queimaram o meu filho com sopa a ferver, e ele esteve muito mal. Só não morreu graças aos médicos da Unidade de Queimados do Hospital Dona Estefânia. O Pedro hoje tem muitas sequelas que precisam de ser tratadas.
- Que sequelas é que ele tem?
- Para além das psicológicas, tem o pescoço queimado e parte do peito. Na altura, ele teve que fazer enxertos que não acompanharam o crescimento e hoje tem uma curvatura na postura por causa disso. A verdade é que nunca ninguém se preocupou com essa questão. E preocupam-se agora com um filme.
- Como é que aconteceu em concreto esse episódio da sopa?
- Foi uma empregada que entornou uma terrina de sopa por cima dele, presumo que sem intenção, mas a verdade é que aconteceu. O pior é que a escola não pagou nada e, tanto quanto sei, ainda deve dinheiro ao hospital. O meu marido meteu uma acção contra eles, mas, ainda hoje não percebo como, perdemos essa acção, treze anos depois. Ou seja, o meu filho foi considerado culpado por, aos cinco anos, terem entornado uma terrina de sopa sobre ele.
- Mas não recorreu?
- Recorri. Neste momento, o processo está no supremo. Só que, entretanto, tenho que pagar dois mil euros de custos de tribunal, que não tenho.
- Quando o seu filho lhe disse pela primeira vez que ia fazer um filme pornográfico, qual foi a sua reacção?
- Passei pelas fases todas que qualquer mãe passaria. Primeiro pensei que ele estivesse a brincar, depois fiquei chocada, mas acabei por aceitar. Eu só tenho que agradecer ao meu filho por ele ter tido a coragem de chegar ao pé de mim e contar-me.
- Mas ele contou-lhe antes ou depois de ter feito o filme?
- Contou-me no próprio dia em que ia fazer. Contou-me algumas horas antes. A única coisa que lhe disse foi para pesar os prós e os contras.
- Compreende que a sua família tenha ficado chocada com a notícia?
- Compreendo. É normal. A minha família deixou de me falar, mas a verdade é que antes também nunca quis saber de mim. Quando o meu marido morreu, ninguém foi capaz de vir ter comigo e perguntar-me, ou aos meus filhos, se precisávamos de dinheiro para comer ou para estudar. Acho mesmo que a minha família fugiu de mim com medo que eu pedisse alguma coisa.
- Sentiu-se abandonada depois da morte do Jorge?
- Sim, completamente. E não só pela família, mas também por amigos do meu marido que se diziam muito amigos dele. Só há duas ou três pessoas que sempre me ajudaram, uma delas é o Manolo Belo que chegou a ajudar-me a fazer compras de supermercado e outra é um cirurgião ortopedista chamado Manuel Passarinho do Hospital da Cruz Vermelha. Por isso, não aceito que me critiquem ou ao meu filho. Ele não roubou, não burlou e não matou ninguém. Se me ligassem a dizer que o meu filho estava preso, porque tinha sido apanhado com droga, ou que tinha morto alguém, isso sim deixava-me doente. Não percebo este drama todo por causa de um filme.
- Acha que o Pedro, de alguma forma, tomou uma decisão irreflectida, quando decidiu fazer o filme?
- O Pedro é um miúdo de 20 anos e provavelmente nunca pensou que despoletasse esta situação toda. Ele é um miúdo sem maldade nenhuma. Mas esta coisa de lhe chamarem actor pornográfico faz-me rir. Essa não é a profissão dele. Ele é pescador. Desde Setembro que conseguiu arranjar um trabalho mais ou menos fixo na apanha de amêijoa num barco e levanta-se todos os dias às quatro e meia da manhã para ir para a Trafaria.
- Acha então que ele não vai seguir esta coisa da pornografia?
- Não. Aliás, em Setembro, ele vai começar a tirar inglês e espanhol para ficar com duas línguas e depois fazer um curso. Um dos grandes sonhos dele é ser comissário de bordo.
- Diz que ficou com muitas dívidas para pagar depois da morte do seu marido. De onde é que vêm essas dívidas?
- O meu marido era, talvez, uma pessoa muito ingénua. Não tinha a escola de Lisboa, como eu tenho. Para o meu marido, todos eram amigos e sempre se deixou levar um pouco. O Jorge teve uma série de discotecas e negócios na noite, mas foi enganado por muita gente. Houve um dos sócios, que é o pai de um cantor africano muito conhecido, que lhe ficou a dever milhares de contos. Há um outro senhor muito famoso da nossa praça que a determinada altura pediu ao meu marido para ser fiador de um negócio, só que esse senhor que se dizia amigo fugiu para Angola e eu e o meu marido tivemos de desembolsar 80 mil euros.
- Herdou muitas dívidas com a morte do seu marido?
- Quando o Jorge morreu, fiquei com milhões de dívidas para pagar.
- Milhões?
- Sim, milhões de euros. Por isso, revolta-me que agora me critiquem e aos meus filhos por tentarmos fazer pela vida. Quando eu aponto o dedo à minha família nem é para me ajudar a pagar dívidas, mas para ajudar os meus filhos.
- E a Linda trabalha?
- Não, estou reformada. Fui obrigada a isso, não pedi a ninguém.
- Como assim?
- Sou licenciada em Análises Clínicas, mas não posso trabalhar na área da saúde por causa dos meus problemas de coluna. Foi a própria Segurança Social que me reformou, porque não me autorizava a trabalhar seis horas de pé frente a uma bancada. Já fui operada duas vezes e vou ser operada uma terceira. Depois disso, voltarei certamente a trabalhar. Tenho um amigo que tem uma clínica dentária e que ficou de me ajudar.
- Nunca foi indemnizada pela morte do seu marido?
- Não. O Jorge morreu há cinco anos e uma coisa que me deixa muito revoltada é que nunca recebemos um tostão pela morte dele. O meu marido morreu em serviço para a TSF e nunca recebi um tostão do seguro. É do conhecimento público que o meu marido sentiu-se mal e foi assistido pelo médico do Sporting antes do relato do AZ Alkmaar-Sporting. O Jorge, aliás, chegou a agradecer publicamente à equipa médica do Sporting.
- Mas o Jorge chegou a fazer o relato.
- Sim. Foi um relato de loucos. Depois de terminar o jogo, ele voltou a sentir-se mal e veio logo para Lisboa. Fui buscá-lo ao aeroporto e ele foi directamente para a Cruz Vermelha. Acho que a TSF não procedeu bem. Se não tinham feito seguro nenhum, acho que isso é ilegal. A única coisa que eles fizeram foi pagar o funeral e fazer um disco de homenagem com os melhores relatos dele. O disco foi vendido e a receita reverteu a favor dos meus filhos.
- E qual foi o valor dessa receita?
- Não me recordo ao certo, mas foi um valor insignificante.
- Alguma vez tentou contactar a TSF?
- Houve uma vez alguém de lá que me disse que não tínhamos direito a nada. Ainda hoje, há muita gente que me pergunta como é que não recebi nenhuma indemnização.
- E nunca o exigiu?
- Durante muito tempo eu queria era morrer e não tratei de nada, nem sei se ainda posso exigir alguma coisa. Acho que já prescreveu.
- Sente-se revoltada?
- Sinto-me revoltada com a morte do Jorge. Ainda hoje não a aceito.
- O seu filho terá ganho cerca de 500 euros para fazer este filme. Acha que ele foi bem pago?
- Não, acho que foi muito mal pago. Tanto quanto sei, recebem esse valor independentemente dos dias de gravação. É, de facto, muito mal pago.
- Acha então que o seu filho não vai voltar a repetir a experiência?
- Não sei. Ele, por acaso, diz que se aparecer outro convite que vai.
- Não se sentiu minimamente chocada quando viu o filme?
- Não, nada. Curiosamente, foi o meu filho que me entregou o filme para eu ver. Disse-me que preferia que eu visse antes que começassem a fazer comentários.
- E tem ouvido muitos?
- É curioso que as pessoas criticam-me e ao meu filho, mas todos sabem do que estou a falar e já todos foram espreitar o filme no site. Provavelmente também são aqueles falsos moralistas que vão às escondidas para o cinema Paraíso, em Lisboa, ou vão de binóculos para a praia.
- E como é que os seus vizinhos na Costa de Caparica a têm encarado?
- Há uns que fingem que não me vêem, outros que preferem não me dizer nada e outros que me dão os parabéns.
PERFIL
Linda Perestrelo, de 58 anos, foi casada com o radialista e comentador desportivo Jorge Perestrelo, com quem teve dois filhos, Luena (21 anos) e Pedro (20). Actualmente, encontra-se reformada devido a problemas de saúde.
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