Rui Borges confessa-se: as alegrias, os amores, as perdas e as mágoas do treinador campeão do Sporting

Assume-e uma pessoa "simples", "direta", "meiga" e "recatada", que gosta de estar no seu "canto" e que "nunca ultrapassou os limites de liberdade". Sempre viveu "sem luxos", "com o dinheiro quase contado" mas "sem deixar faltar nada à família". Por causa do futebol, no entanto, deixou algumas coisa para trás, mas nunca pensou chegar tão cedo ao Sporting, onde acabou de se sagrar campeão nacional e vencedor da Taça de Portugal, aos 43 anos.  

Tem no seu pai o grande ídolo e assume uma saudade desmesurada pelo avô. Mulher há só uma, Ana Luísa, com que casou há 24 anos. Já o filho, Mário, diz que é o maior amor da sua vida. “É um bom miúdo. Orgulho-me da pessoa que é, até porque olho para ele e vejo uma pessoa com um caráter bem definido".      

Rui Borges, o atual técnico do Sporting, esteve este sábado à conversa com Daniel Oliveira, no 'Alta Definição', da SIC, e revelou alguns dos seus sentimentos mais íntimos e alguns dos momentos mais pessoais e marcantes da sua vida.  

Filho de um antigo jogador ("nos tempos de hoje teria sido muito mais valorizado, tinha características próprias muito boas", diz sobre o pai), Rui Borges sabe o que é fazer sacríficios por causa do futebol e condenar à ausência aqueles que mais ama. A mulher e o filho foram os mais sacrificados, quando ainda era um atleta à procura do sonho.  “O mais difícil foi abdicar de muito tempo perto da minha mulher e do meu filho. Custa-me muito, porque abdiquei de muito tempo com o meu filho”, reconheceu, emocionado. Ainda assim, admitiu: "Não fui um grande jogador".

Sobre a mãe, revelou que "quer sempre saber tudo", que várias vezes lhe envia mensagens "a dar uma dura sobre alguma coisa que disse" e que "vontade não lhe falta de dar em algumas pessoas umas chineladas". 

Rui Borges tinha apenas 19 anos quando Mário nasceu. “Fui pai novo e a mim custou-me. Olho para trás e vejo que perdi momentos da vida dele, agora ao olhar para as minhas afilhadas e os meus sobrinhos. Não desfrutei do meu filho, que é a pessoa que mais amo no mundo”. Mário também é hoje jogador de futebol e alinha num clube da Guarda.

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Já sobre a mulher, Ana Luísa, o treinador dos leões recordou a história de amor que começou ainda na escola e que perdura ao final de 24 anos (casaram-se quando descobriram que iam ser pais).  “Apaixonei-me porque era muito bonita, muito tranquila, como eu, meiga. Ela passou por muita coisa ao longo da vida e sabe que lhe dou muito valor. Tentei sempre, de alguma forma, valorizar tudo o que tem feito por mim. É uma pessoa que amo muito”, referiu, elogiando ainda: “Acima de tudo, agradeço-lhe por tudo o que tem feito por mim, mesmo na minha ausência, com os meus erros em alguns momentos, ela jamais deixou de estar do meu lado”.

Mas o grande desgosto da vida de Rui Borges tem a ver com o desaparecimento do avô Zé Pedro. "Sinto saudades dele todos os dias. Tenho o meu avô tatuado no braço. Sinto e peço todos os dias, era sapateiro. Foi a primeira pessoa que me veio à cabeça [quando ganhou o campeonato]". 

"No dia em que faleceu para mim, marcou-me. Jogava futebol, ele vivia em casa dos meus pais, estava sempre a espera de mim para levar a cortar o cabelo, ir ver a casa. Naquele dia ele passou o dia todo a perguntar quando o Rui chegava. Naquele dia cheguei mais tarde. Passei em casa, viu-me, 20, 30 minutos, falei com ele um bocadinho, a minha mae dizia o avô hoje não está bem, só perguntou por ti. Tive com ele um bocadinho... passado umas horas a minha mãe ligou-me a dizer que o meu avô estava a passar mal. Marcou-me porque acho que ele não quis ir sem se despedir do neto. Tenho muitas saudades dele".

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