Estudo revela que contagem de calorias nos rótulos não promove escolhas alimentares mais saudáveis
Investigadores alertam para o impacto dos resultados nas medidas de saúde pública e nas empresas.
Um estudo científico revelou que conhecer o conteúdo calórico da comida não ajuda as pessoas a escolher corretamente quais alimentos são mais ou menos saudáveis.
Quando os participantes do estudo analisaram a informação calórica dos alimentos, classificaram comida saudável como menos saudável e vice-versa, avança o jornal Independent.
“Os rótulos com calorias não ajudaram os participantes a julgar as comidas de forma mais precisa. Fizeram os participantes questionar as próprias decisões”, afirmou Deidre Popovich, um dos autores do estudo e professor de Marketing da Universidade Texas Tech, nos EUA.
Ao longo de nove experiências com mais de 2000 participantes, os investigadores testaram o modo como as pessoas usam a informação calórica para avaliar a comida. Por exemplo, os participantes olharam para alimentos normalmente considerados saudáveis, como saladas, e outros menos saudáveis, como hambúrgueres, e tiveram de os classificar.
Quando não pensavam nas calorias, os participantes notaram um grande intervalo entre comidas saudáveis e menos saudáveis. No entanto, quando tinham em consideração as calorias, as opiniões eram mais moderadas.
Numa outra experiência, os investigadores concluíram que pedir aos participantes para estimar as calorias de vários alimentos reduziu a autoconfiança na capacidade de julgar comida saudável. A diminuição de confiança levou a juízos mais moderados sobre os alimentos.
O efeito foi apenas observado quando se tratava de calorias, sendo que o mesmo não se verificou com outras informações nutricionais, como gordura ou carboidratos.
Os investigadores afirmam que o padrão se repetiu ao longo das várias experiências. “Em vez de ajudar as pessoas a aprimorar as avaliações, a informação calórica parece que criou aquilo a que chamamos de incerteza metacognitiva ou um sentimento de ‘Achava que percebia isto, mas agora não tenho tanta certeza’”, explicou Popovich.
Quando as pessoas não estão confiantes nos próprios conhecimentos, tendem a evitar partilhar opiniões extremas.
Popovich explica que, como as pessoas veem informação calórica tantas vezes, acreditam que sabem interpretá-la de forma correta. Os resultados mostram, no entanto, que estar familiarizado com a contagem de calorias pode ter o efeito contrário, criando um sentimento falso de conhecimento, que gera mais confusão, ao qual os investigadores chamam de “ilusão de fluência calórica”.
“Estes resultados têm implicações para a saúde pública e para as empresas que investem na transparência de calorias”, alerta Popovich.
As políticas de saúde publica assumem que oferecer informação sobre as calorias irá permitir escolhas mais bem-informadas. Contudo, o estudo sugere que a informação sozinha não é suficiente e pode levar as pessoas a fazer escolhas menos saudáveis.
“Isto não significa que a informação calórica deva ser removida. Em vez disso, precisa de ser apoiada com mais contexto e clareza”, sugere o investigador. “O nosso estudo realça um problema mais abrangente na comunicação de saúde: só porque a informação está disponível não significa que seja útil”, acrescentou ainda Popovich.
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