Siga as nossas dicas para poupar e evitar o desperdício de milhares de litros de água.
31 de março de 2022 às 13:57Os especialistas têm vindo a alertar para a gravidade crescente da seca no mundo. Portugal segue a tendência: há cada vez menos água disponível e menor margem de segurança para gerir situações de seca ou de aumento de procura – cenários que colocam o país num risco elevado de escassez de água
Esta não é uma previsão futurística. É real e atual. Basta pensar que, desde 1931, não tínhamos um período tão seco como o de outubro de 2021 até meados de março deste ano. A chuva veio aliviar a situação, é certo. Portugal deixou de ter zonas em seca extrema. Ainda assim, a seca continua a ser um problema em quase todo o território – a maior parte do país (82%) está em seca moderada e 2% em seca fraca.
Também não é uma situação única, esporádica. É um fenómeno cada vez mais regular (com episódios durante todo o ano, seja verão, seja inverno) e vai ser “o novo normal”. É preciso estarmos preparados para isso.
Não há como negar. A água é um bem cada vez mais escasso, com impactos reais na vida humana. Daí a importância da gestão da disponibilidade de recursos hídricos. A estratégia para lidar com a seca em Portugal tem sido uma situação de gestão de emergências, mas de nada vale poupar quando o recurso já não existe ou está em escassez. É preciso antecipar e aplicar medidas que, efetivamente, minimizem o impacto da seca. É preciso agir, agora. Um gesto pode evitar o desperdício de milhares de litros de água. Uma das alternativas para um uso sustentável dos recursos hídricos passa pela reutilização de águas.
Porquê reutilizar água?
Na lógica de economia circular – que defende a redução, recuperação e reutilização, evitando o consumo de matérias-primas, em muitos casos escassos, como é a água –, é imperativo que a sociedade adote práticas mais sustentáveis, entre elas, a reutilização da água, preservando esse capital natural e garantindo um planeta mais sustentável para as próximas gerações.
É também uma alternativa para fazer face à procura e é possível tratá-la de forma adequada aos usos para as quais é produzida – produção agrícola e pecuária, indústria, usos recreativos... São necessidades que têm vindo a impor uma pressão crescente sobre os recursos hídricos e que “obrigam” a uma melhor gestão, com a reutilização a apresentar-se como uma solução viável.
E se está preocupado com a possível falta de qualidade destas águas reutilizadas, desengane-se. O decreto-lei nº 119/2019, de 21 de agosto, estabelece o regime jurídico de produção de água para reutilização, obtida a partir do tratamento de águas residuais, bem como da utilização da mesma, de forma a promover a correta utilização garantindo a proteção da saúde e do ambiente
Este decreto-lei estabelece que a reutilização de água deve seguir uma abordagem “fit-to-purpose” (adequada ao fim a que se destina). Em vigor desde agosto de 2019, define os requisitos para a qualidade e monitorização da água e principais tarefas de gestão dos riscos, de forma a garantir a reutilização da água em segurança, tanto para a saúde como para o ambiente, e o regime de licenciamento associado.
Com a reutilização segura e regulamentada, as águas residuais tratadas passam, assim, a ser vistas como uma nova fonte de água, adicional ou alternativa e que pode ser utilizada novamente para múltiplos fins compatíveis. Trata-se de uma medida sustentável e de adaptação às alterações climáticas (como resposta direta aos mais frequentes e intensos períodos de seca e de escassez de água) e um exemplo de boas práticas.
Vantagens da reutilização de água
A água para reutilização produzida nas infraestruturas das empresas do Grupo Águas de Portugal é aproveitada para utilizações internas em diversos processos de tratamento, rega de espaços verdes, e está disponível para uma série de projetos em desenvolvimento com parceiros externos que apostem nesta alternativa sustentável.
Os diversos projetos de reutilização nos quais o Grupo Águas de Portugal está envolvido, em diferentes escalas e contextos regionais – rega agrícola, campos de golfe e espaços verdes urbanos, lavagens de ruas e equipamentos urbancos e industriais –, têm sido bem-sucedidos, o que tem resultado num aumento de procura em regiões do país onde a escassez de água ainda não é crítica.
Saiba como a reutilização de água pode ser aplicada
Em contexto urbano, as águas residuais tratadas podem ganhar uma nova vida para reutilização para fins não potáveis, como rega de jardins, lavagem de ruas, lavagens de viaturas ou equipamentos urbanos, climatização de edifícios e até mesmo para uso industrial...
Encontramos um bom exemplo desta utilização em Lisboa. Fruto de uma parceria entre a Águas do Tejo e Atlântico, a Câmara Municipal de Lisboa e a Agência Portuguesa do Ambiente, a Fábrica de Água de Beirolas produz água para reutilização na rega de espaços verdes na zona norte do Parque das Nações, no âmbito do projeto municipal "Parques e Jardins de Lisboa: o mesmo verde, a água é outra. Rega sustentável com água+".
Esta área que será regada com água+ tem quase 295.000m² e, estima-se, um volume de água anual para rega de 300.000m³. A nova "rega sustentável" passa a utilizar água+ produzida na Fábrica de Água de Beirolas, como alternativa às captações naturais. Este é o primeiro projeto licenciado em Portugal para reutilização de água na rega de jardins municipais, tendo arrancado a 22 de março deste ano, precisamente no Dia Mundial da Água.
A 22 de março, arrancou no Parque das Nações, em Lisboa, o projeto "Parques e Jardins de Lisboa: o mesmo verde, a água é outra. Rega sustentável com água+", o primeiro a ser licenciado em Portugal para a reutilização de água na rega de jardins municipais.
Este é um passo importante no caminho para a sustentabilidade ambiental das cidades portuguesas.
Cada um de nós pode, também em casa, dar uma nova vida à água. A regra é: poupar, sempre. Isto significa que, além de reduzir consumos, podemos (e devemos!) introduzir o hábito de reutilização da água, até mesmo em casa. Já pensou em voltar a utilizar a água que usou para lavar vegetais e frutos para regar o jardim? E aproveitar a primeira água do banho para encher o autoclismo ou lavar o chão?
Há vários gestos que pode adotar dentro de portas. Usar caixote do lixo na casa de banho (para evitar descargas desnecessárias), pôr a máquina da roupa e loiça a lavar apenas com a carga máxima, colocar redutores de água no autoclismo e torneiras, fazer duches mais rápidos (um temporizador pode ajudar). Tão simples quanto isto.
Já agora, alguma vez pensou em reduzir o consumo de carne para poupar água? Não é uma ligação imediata, sabemos. Mas a agropecuária é o setor que mais contribui para o consumo de água. Um simples gesto como consumir menos carne pode ajudar na missão de combate ao desperdício de água. Tal como optar por alimentos sazonais e produção local e regional.
Dicas: duas formas de reutilizar água
1. Em contexto urbano: utilizar águas residuais tratadas para fins não potáveis como regas de jardins ou lavagens de pavimentos, viaturas ou contentores de lixo;
2. Em casa: utilizar a água usada para lavagens de chão ou descargas na sanita.
Sendo este um recurso essencial à vida, é urgente ser consciente, adotar boas práticas e usar a água de forma eficiente e reutilizando-a muito mais. Todos juntos, com pequenos gestos, podemos evitar o desperdício de milhares de litros de água. Não se esqueça: dê uma segunda vida à água, reutilize-a, preserve o planeta e garanta o futuro das novas gerações!