A SCML preparou ao pormenor a reabertura dos 20 centros de dia que gere na cidade de Lisboa, para garantir um regresso em segurança para todos.
22 de abril de 2021 às 07:531 / 5
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) reabriu este mês os seus centros de dia na cidade de Lisboa, após um ano de encerramento devido à pandemia. Em entrevista ao CM, Etelvina Ferreira, diretora da Direção do Desenvolvimento e Intervenção de Proximidade da SCML, explicou como foi preparada, ao pormenor, a reabertura e partilhou memórias de um dia de "alegria e entusiasmo para todos".
Dos 20 centros de dia da SCML, 18 reabriram no passado dia 12. Como foi preparado o retorno à normalidade possível?
Começámos por fazer um levantamento de quantas pessoas poderiam ou quereriam regressar e em que condições viriam, em cada centro de dia. Foram também identificadas as necessidades extra que a situação exige, tendo-se dado resposta prévia a essas situações de forma a garantir o cumprimento de todas as exigências antes da reabertura. Foi atualizado o plano de contingência para a área relativa aos centros de dia, com base na documentação emanada pela DGS, adaptada aos equipamentos e à realidade da SCML.
Como é minimizado o risco de contágio?
Ao nível da SCML, procurou- -se responder a todas as exigências para a resposta social em causa, tais como a utilização de todos os equipamentos de proteção individual adaptados a cada situação; adequação do número de utentes por forma a garantir as regras de distanciamento, quer no espaço físico, quer no meio de transporte disponibilizado; colocação de acrílicos; disponibilização de desinfetantes; adaptação das atividades.
Que balanço faz relativamente à vacinação do pessoal afeto a estes equipamentos?
Até 12 de abril, os profissionais de centro de dia não estavam considerados como grupo prioritário no processo de vacinação mas, após decisão de abertura destes estabelecimentos, a posição da SCML foi considerar estes profissionais como grupo prioritário. Foi enviado ao Ministério da Saúde por parte da Direção de Saúde da SCML um pedido de inclusão como grupo prioritário, para que fossem cedidas vacinas, à semelhança do que foi feito com os funcionários das ERPI, por exemplo.
O processo devia ser mais célere?
Claro que poderia ser mais célere mas o fornecimento e disponibilização de vacinas tem implicações em todo o processo. Contudo, estamos otimistas e acreditamos que num curto espaço de tempo teremos também estes profissionais vacinados.
E relativamente aos utentes, a vacinação já alcançou todo este grupo?
Relativamente aos utentes de centros de dia temos uma percentagem de 60% de vacinados, cerca de 34% com a primeira dose e 26% com a vacinação completa. Temos informação que muitos utentes estão a receber as convocatórias para vacinação no final de abril e início de maio.
Neste momento, já todos os utentes voltaram aos centros, ou alguns estão renitentes?
Apesar de se encontrarem muito saturados por estarem em casa, há alguns que estão ainda renitentes, outros em que os familiares optaram por manter o apoio até que os processos de vacinação estejam completos.
Relativamente às atividades ocupacionais, já foram retomadas? Em que moldes?
Sim, estas atividades iniciaram-se com a abertura dos centros de dia. São atividades pensadas ao pormenor, cumprindo todas as orientações da DGS, dirigidas a cada utente em especial e conforme as suas necessidades físicas, emocionais ou cognitivas. Temos sempre a preocupação de ir ao encontro das expectativas década pessoa, proporcionando-lhe momentos de bem-estar e de prazer, recorrendo a ações de caráter lúdico, recreativo e de estimulação cognitiva. São exemplos destas atividades os passeios na natureza, as atividades artísticas e/ou a utilização das novas tecnologias digitais.
Como foi o reencontro? Muita alegria e entusiasmo?
Os utentes e colaboradores estavam felizes e muito entusiasmados. Foi um longo período em que estiveram privados de tudo. Para as pessoas, ter a companhia de alguém, poderem sair de casa, conversar, estar com quem gostam e com quem têm maior ligação não tem preço. Cantaram, dançaram, riram e reencontraram os locais onde são felizes.
Notou que todo este tempo de afastamento afetou a saúde e o bem-estar emocional dos utentes? Apesar dos centros de dia terem estado encerrados desde 18 de março de 2020 até 12 de abril de 2021, procurou-se assinalar as datas festivas, tais como aniversários ou datas comemorativas, como foi o caso do Natal, Páscoa, Santos Populares, entre outras. O apoio às necessidades básicas manteve-se sempre e foi constituída uma equipa de apoio psicológico via telefone, para ajudar a combater a solidão e apoiar os idosos em situação de maior vulnerabilidade. Ainda assim, e apesar de todos os esforços, houve situações em que o bem-estar físico e emocional ficou comprometido com todo este tempo de confinamento.
Para as famílias foi também difícil não poder contar com este apoio?
Em alguns casos, as famílias tiveram de fazer um esforço de reorganização, como recorrer ao teletrabalho exclusivo, de forma a poder dar apoio aos idosos durante o dia e conjugar esse apoio com a restante dinâmica familiar.
Porque continuam ainda dois centros fechados?
Num caso, há obras a decorrer. O outro por ter estado como unidade de retaguarda de apoio à Covid-19. Esta unidade está a ser desativada e logo que o estabelecimento esteja preparado reabrirá as suas portas.
Sente que a pandemia irá fazer repensar os centros de dia e todo o apoio prestado aos idosos nas cidades?
A pandemia trouxe-nos essa exigência. Veio trazer a necessidade de nos reposicionarmos face à utilização das novas tecnologias e a importância que as mesmas podem ter no combate ao isolamento e à solidão, aproximando as pessoas nas suas relações familiares, sociais e ou de proximidade, reforçando através delas a participação e a cidadania.
Que lições podemos retirar da pandemia no que respeita ao apoio aos mais velhos?
O centro de dia pode no futuro constituir-se como uma estratégia para a desconstrução de preconceitos face ao idadismo, e esse seria um grande passo no caminho para uma sociedade mais justa e equitativa. A literacia digital será outro passo para a dignificação da pessoa e para o retomar de relações por vezes frágeis ou quebradas pela distância, que se refletem no pleno bem-estar das pessoas mais velhas. A intervenção e as respostas às pessoas mais velhas terá de se pautar pelo princípio da universalidade e da garantia de que ninguém fique para trás.
Para inscrever-se nos centros de dia da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa deverá dirigir-se às instalações do próprio centro de dia ou recorrer ao serviço de atendimento e acompanhamento social da sua área de residência. Estes equipamentos estão disponíveis para cidadãos residentes na cidade de Lisboa. Pode obter mais informações atravésatravés do site oficial da Santa Casa: www.scml.pt