Heróis CM: “Salvei-a como se fosse minha filha”

As labaredas saíam pujantes da janela do segundo andar, por entre o fumo, como línguas de fogo. Natália segurava Mónica, sem a largar. A menina de dez anos chorava sem parar. Na madrugada de 26 de novembro do ano passado, a rua de Moçambique, em Olival Basto, Odivelas, ficou a conhecer um herói. Chama-se Luís Enjai, tem 54 anos e é natural da Guiné. Conseguiu salvar a criança e depois a mãe da menina, subindo à janela e trazendo-as para baixo. "Salvei a Mónica como se fosse minha filha. Gritei com a mãe para ela confiar em mim e largar a filha. Ela não queria. Acabei por salvar as duas", diz Luís Enjai com modéstia.

Pai de quatro filhos, cria ainda como se fosse filho um menino que ficou órfão . Hoje diz não ter tido medo de perder a vida. "Fazia tudo da mesma maneira. Não me lembro de ter medo. Apenas queria que a minha vizinha confiasse em mim. Às vezes penso que podia ter morrido, mas eu também já tenho 54 anos, já vivi muito, e aquela menina e a mãe ainda tinham muito para viver", diz o herói, atualmente desempregado. Quase um ano depois, Luís Enjai emociona-se ao recordar a história. "A menina já não vive ao pé da minha família, mas quando me vê dá-me sempre um beijinho", conta ao CM. O incêndio, provocado por um curto-circuito, provocou duas mortes. Salvaram-se Natália e Mónica, pelas mãos de Luís Enjai.