Notícia do rapto de um comandante israelita era falsa, como era adulterado o memorando em que Joe Biden anunciava um apoio de milhares de milhões de dólares aos israelitas.
As redes sociais encheram-se, nos dias que se seguiram ao ataque do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, com vídeos e fotografias sobre o conflito que tornaram difícil distinguir os factos da ficção.
Apesar de terem surgido muitas imagens e relatos reais do que se passou, foram misturados com outros conteúdos com afirmações falsas, usando e manipulando vídeos de outros acontecimentos.
Entre fabricações e deturpações, foram partilhadas muitas 'fake news' e desinformação: a notícia do rapto de um comandante israelita era falsa, como era adulterado o memorando da Casa Branca, em que o Presidente dos EUA, Joe Biden, anunciava um apoio de milhares de milhões de dólares a Israel.
Nas falsificações surgem também vídeos antigos do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e até imagens de um filme como se fosse real.
A Associated Press fez a verificação de vários casos e concluiu que se tratava de desinformação.
Vídeo mostra uma reportagem da BBC News que confirma que a Ucrânia forneceu armas ao Hamas?
Não. O vídeo, amplamente partilhado nas redes sociais, é fabricado, confirmam funcionários da BBC e do Bellingcat, um 'site' de investigação que é citado como alegada fonte.
As imagens, com um logótipo característico da BBC, pretenderiam reproduzir uma notícia da BBC com um relatório recente da Bellingcat sobre o fornecimento de armas ao Hamas pela Ucrânia.
"Bellingcat: Falha da ofensiva militar ucraniana e ataque do Hamas estão relacionados", lê-se no texto do vídeo, com mais de 2 500 comentários e 110 000 visualizações na rede Telegram. "Os palestinianos compraram armas de fogo, munições, drones e outras armas", alega-se ainda.
"Não chegámos a tais conclusões nem fizemos tais afirmações", escreveram os responsáveis do Bellingcat numa publicação no X (ex-Twitter) que incluía capturas de ecrã da reportagem falsa. "Gostaríamos de sublinhar que se trata de uma invenção e que deve ser tratada como tal", alegou ainda.
Eliot Higgins, fundador da organização sediada em Amesterdão, anotou, num outro post no X, que estas alegações foram amplificadas por utilizadores russos das redes sociais.
A BBC não respondeu aos e-mails que pediam comentários sobre o assunto, mas Shayan Sardarizadeh, um repórter do departamento de verificação de factos, confirmou num 'post' no X que o vídeo é falso.
A Igreja Ortodoxa Grega de São Porfírio foi destruída durante os bombardeamentos de Israel a Gaza?
É falso. Funcionários da igreja confirmaram na quinta-feira que o edifício continua intacto, mesmo após o bombardeamento, mas publicações que circulavam nas redes sociais afirmavam, erradamente, que o templo cristão, situado na secção al-Zaytun da Cidade Velha de Gaza, tinha sido alvo do ataque.
"Israel acabou de explodir a terceira igreja mais antiga do mundo", escreveu um utilizador do Instagram, acrescentado: "A Igreja Ortodoxa de São Porfírio em Gaza tinha 1.616 anos de idade." A conclusão da AP é que estas alegações são falsas.
Vídeo mostra jovem ator filmado deitado numa poça de sangue falso como exemplo da propaganda usada na guerra entre Israel e o Hamas?
O vídeo é de uma filmagem dos bastidores do filme "Empty Place", uma curta-metragem centrada na história de Ahmad Manasra, um palestiniano que foi preso aos 13 anos, em 2015, acusado do esfaqueamento de dois israelitas.
Os utilizadores das redes sociais de ambos os lados da guerra - Israel e o Hamas - estão a partilhar o vídeo, cada um alegando falsamente que se trata da prova de que o outro lado está a criar propaganda.
No vídeo, um jovem está deitado num passeio coberto de sangue, com a perna direita dobrada para trás, mas trata-se da filmagem de uma curta-metragem. Nas imagens, aparece uma equipa de filmagem à volta do ator. Outros atores circulam vestidos de soldados e com a roupa usada por muitos judeus ortodoxos.
"Vejam como os israelitas estão a fazer vídeos falsos a dizer que os 'combatentes da liberdade da palestina mataram crianças", lê-se num 'tweet' que, até quarta-feira, tinha recebido mais de 5.600 gostos e foi partilhado 4.400 vezes.
Uma publicação no Instagram afirmava o contrário: "Estes terroristas estão a vestir-se de soldados JUDEUS para criar vídeos falsos sobre soldados israelitas! Propaganda falsa!"
Mas nenhuma das alegações é correta. O vídeo mostra, afinal, imagens da curta-metragem de 2022, dirigida por Awni Eshtaiwe, um cineasta sediado na Cisjordânia.
Joe Biden anunciou que vai enviar 8 mil milhões de dólares em ajuda militar a Israel?
Não. A imagem de um memorando, amplamente partilhada nas redes sociais, foi fabricada: Biden nunca fez qualquer anúncio desse tipo, confirmou a Casa Branca na segunda-feira.
Nas redes sociais, começou a ser partilhada uma imagem adulterada do memorando, dias depois do ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro.
O suposto memorando está formatado a imitar uma ordem executiva, como as publicadas na página da Casa Branca na Internet, com o logótipo azul e branco da Casa Branca na parte superior e o nome de Biden na parte inferior.
"Biden assina ordem para enviar 8 mil milhões de dólares em ajuda militar a Israel", escreveu um utilizador que partilhou o suposto memorando no X (ex-Twitter).
Aparentemente, o memorando é uma versão adulterada de uma ordem executiva emitida por Biden para fornecer assistência militar à Ucrânia, no verão de 2023.
Vídeo mostra milícias do Hamas a saltarem de paraquedas para um campo desportivo antes de atacarem israelitas durante o ataque surpresa do grupo a Israel?
É falso. Embora o Hamas tenha utilizado parapentes para transportar combatentes através da fronteira entre Gaza e o sul de Israel, estas imagens estão 'online' pelo menos desde setembro, e mostram homens de paraquedas, sim, mas num campo desportivo no Cairo, Egito.
"O Hamas saltou de parapente entre cidadãos israelitas e começou a massacrá-los", lê-se no texto do vídeo. Publicado no TikTok, o vídeo foi visto mais de 38.000 vezes. Mas, na realidade, está 'online' desde, pelo menos, 27 de setembro, quando foi publicado no TikTok com a etiqueta de localização "Egito".
Os detalhes do vídeo apontam para o Egito como local. Nas imagens, aparece uma pessoa vestida com uma camisola azul em que se lê "El Nasr SC" nas costas, o nome de um clube do Cairo. E no vídeo, a multidão não parece angustiada com a chegada dos paraquedistas, como seria de esperar se se tratasse de uma força invasora. Muitas mulheres e crianças são vistas a correr em direção a eles, de telemóvel na mão, a fazer vídeos e fotografias da exibição aérea.
Dois vídeos mostram o Presidente russo a avisar os EUA para "se manterem afastados" da última guerra em Gaza?
Não. Ambos vídeos que circulam na Internet têm meses e Putin surge a falar sobre a guerra Rússia-Ucrânia e não sobre o conflito no Médio Oriente. As legendas são falsas.
"A América quer destruir Israel como destruímos a Ucrânia no passado", lê-se na legenda de um dos vídeos. "Estou a avisar a América: a Rússia vai ajudar a Palestina e a América não pode fazer nada". Uma publicação do TikTok que partilhava o vídeo tinha recebido cerca de 11.600 visualizações até há dias.
A legenda de outro vídeo de Putin, filmado num local diferente, diz o mesmo: "Estou a avisar a América para se afastar da guerra entre a Palestina e Israel." Mas os dois vídeos são muito anteriores à última guerra entre Israel e Hamas e não fazem qualquer referência a Israel.
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