Aumento dos salários, a valorização das carreiras, a reposição do vínculo público e a defesa dos serviços públicos são também motivos para a convocação da greve
Escolas encerradas com alguns professores e funcionários no interior e pais e alunos do lado de fora das grades foi um cenário repetido esta sexta-feira em vários estabelecimentos de ensino lisboetas, dia de greve nacional.
Os cerca de mil alunos da secundária Padre António Vieira, em Lisboa, encontraram hoje de manhã os portões encerrados. Lá dentro, estavam alguns trabalhadores que não aderiram à greve por melhores condições laborais. Mas eram insuficientes para manter aquela escola do bairro de Alvalade aberta.
Não muito longe dali, na básica São João de Brito, o quadro repetia-se. Portões encerrados e uma folha A4 colada no gradeamento a avisar dos efeitos da paralisação. A informação ia passando de boca a boca e pelos grupos de whatsapp. Às 08h30, o passeio em frente à escola estava novamente deserto.
No entanto, poucos minutos depois, começaram a chegar novamente crianças acompanhadas pelos encarregados de educação. Eram todos alunos do 4.º A.
"Ontem também havia greve e a escola não abriu. Só eles é que tiveram aulas, porque esta semana vão todos os dias para o Pavilhão do Conhecimento", contou Luís Borges, pai da Carolina, referindo-se ao protesto convocado para quinta-feira pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Estado, das Autarquias e de Entidades com Fins Públicos e Sociais.
Simão Martins, da sala da Carolina, estava bem ciente de que hoje poderia ser diferente, porque "pode ser o autocarro a faltar, a auxiliar a faltar, a professora ou os funcionários da cantina a faltar".
"Eu quero ficar com o avô hoje, já fui ao Pavilhão do Conhecimento o resto da semana", admitiu o menino de nove anos que chegou à escola pela mão do avô Pedro.
Pouco depois, o motorista chegou ao volante do autocarro deixando Simão ligeiramente desmoralizado, mas logo de seguida, uma responsável da escola anunciou que hoje também não haveria aulas para o 4º A.
A notícia mereceu gritos de alegria das crianças, mas deixou alguns pais preocupados.
"Eu não posso muito ficar com ela, mas como a irmã anda noutra escola, no Forte da Casa, e também não teve aulas, se for preciso vou pô-la a casa e ficam juntas. Mas sei que para alguns pais é muito difícil gerir", contou Luís Borges, explicando que a irmã tem 15 anos.
Já Renato Ferreira, apoiante da luta dos trabalhadores, receia pelas aprendizagens perdidas do filho Vasco, colega do Simão e da Carolina: "Felizmente este ano não tem sido dos piores, já houve anos em que era praticamente todas as semanas, e isso causou algumas dificuldades, mas como disse, compreendo os motivos da greve".
Mas Renato também compreende que para muitos o maior problema seja encontrar alternativas para as crianças sem aulas. "Não os podemos deixar na rua", sublinhou.
Na escola Eugénio dos Santos, várias professoras chegaram hoje acompanhadas pelos filhos. No portão principal, um cartaz avisava que a escola estava encerrada durante a manhã por "não ter condições de segurança para funcionar".
Uma das professoras que saiu da Eugénio dos Santos disse à Lusa que ia dar aulas na secundária Rainha Dona Leonor mas iria levar a filha, porque a escola da menina estava encerrada.
"A Rainha Dona Leonor nunca fecha quando há greves. Está sempre aberta e a funcionar normalmente", lamentou um aluno do 10.º ano.
Em Telheiras, o cenário era semelhante ao do bairro de Alvalade. Segundo os sindicatos que convocaram a paralisação, a greve está a sentir-se em todo o país.
Num outro ponto da capital, junto à Escola Artística António Arroio, também encerrada, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Feliciano Costa, aplaudia logo às 08h00 a forte adesão dos trabalhadores.
"Temos escolas fechadas em Viseu, Covilhã, Almada, Sintra, Vialonga, mesmo na cidade de Lisboa", relatou o dirigente da Fenprof, considerando que a greve teve hoje "uma grande expressão" com escolas em que apareceram apenas um ou dois professores.
Além da educação, são expectáveis perturbações nos serviços de saúde, nos transportes públicos, na recolha de lixo e nos restantes setores da Administração Pública abrangidos pela greve da Frente Comum contra o Governo, que acusam de degradar as condições de trabalho e de desinvestir nos serviços públicos.
O aumento dos salários, a valorização das carreiras, a reposição do vínculo público e a defesa dos serviços públicos são também motivos para a convocação da greve que abrange todos os trabalhadores do Estado.
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