Com uma inflação galopante e a depreciação do kwanza, as famílias têm cada vez mais dificuldades em pagar as suas contas e adquirir os alimentos da cesta básica,
João Lourenço foi eleito presidente de Angola há quatro anos, depois de quase 40 décadas de poder de José Eduardo dos Santos, com promessas de mudanças num país que atravessa atualmente uma crise económica e social.
As promessas -- 500 mil empregos, combate sem tréguas contra a corrupção e o nepotismo, melhorar o que está bem e corrigir o que está mal -- visavam dar resposta aos principais anseios e preocupações dos angolanos, segundo o chefe de Estado.
Mas no seu quarto ano de mandato -- termina em 2022 -- muito das promessas de João Lourenço estão ainda por concretizar e o entusiasmo dos angolanos, duramente atingidos por uma crise económica que se arrasta desde 2017 agravada pelos efeitos da pandemia e descida dos preços do petróleo, esmoreceu, segundo analistas.
Com uma inflação galopante, que se fixou em julho nos 25,72%, um máximo desde outubro de 2017, e a depreciação do kwanza, as famílias têm cada vez mais dificuldades em pagar as suas contas e adquirirem os alimentos da cesta básica, sendo a produção nacional ainda claramente insuficiente para compensar a redução das importações, de acordo com dados oficiais.
Quanto aos empregos, e apesar de, em 2019, João Lourenço garantir já ter cumprido um terço da sua meta de criação de 500 mil empregos, em outubro de 2020, já em plena pandemia, o chefe do executivo angolano admitia a dificuldade em criar postos de trabalho numa conjuntura tão adversa.
Com o país praticamente parado em 2020, fruto das restrições impostas, primeiro, pelo decreto que impôs o estado de emergência e depois pelo estado de calamidade, que tem sido sucessivamente renovado, as atividades económicas ressentiram-se, levando muitas empresas a fechar portas e arrastando ainda mais pessoas para o desemprego, sobretudo jovens, que representam 66% da população até aos 24 anos.
Para obter receitas e reduzir a intervenção do Estado, procurando aumentar a participação dos privados no tecido económico, o executivo lançou um ambicioso programa de privatizações (que acabou por integrar também ativos recuperados) que rendeu até ao momento pouco mais de 490 milhões de euros aos cofres estatais, através da alienação de 35 das 195 empresas que se previa privatizar, total ou parcialmente, até 2022.
Muitos dos concursos públicos que têm sido lançados acabam por ver o seu prazo prorrogado à espera de melhores oportunidades ou para esclarecer dúvidas dos investidores.
Nos últimos meses, João Lourenço voltou a apostar forte na diplomacia económica e concluiu recentemente um périplo que incluiu o Gana, a Guiné-Conacri e a Turquia, trazendo mais promessas de investimento estrangeiro e reforço das ligações aéreas para estimular o comércio.
Na frente da luta anticorrupção, as autoridades judiciais avançaram com vários processos e apreensões de imóveis, bens e contas bancárias, visando sobretudo familiares do antigo Presidente ou políticos a si ligados, levando alguns analistas a sugerir que este combate ao crime financeiro, que João Lourenço continua a erguer como bandeira, tem um caráter seletivo. Uma opinião que o chefe de Estado tem rebatido, argumentando que a "resistência organizada" que tem encontrado não o fará refrear as medidas em curso.
Para já, apenas alguns dos processos mais mediáticos chegaram à fase de julgamento em tribunal, como os do filho do ex-Presidente José Filomeno "Zenu" dos Santos e do antigo ministro da Comunicação Manuel Rabelais, ambos condenados a penas de prisão, mas cujas sentenças ainda não transitaram em julgado. A exceção foi o ex-ministro dos Transportes Augusto Tomás, que cumpre pena de prisão na cadeia de S.Paulo, em Luanda.
João Lourenço prometeu também ser um Presidente mais aberto ao diálogo, ao debate e à troca de ideias, promovendo a liberdade de imprensa e de expressão, mas após um início em estado de graça, organizações do setor e da sociedade civil têm denunciado recuos.
Este ano, o executivo forçou o encerramento de três canais de televisão, alegando inconformidades legais, e atualmente a informação televisiva é veiculada apenas pelos canais públicos, enquanto vários jornalistas, com processos judiciais em curso, queixam-se de estar a ser perseguidos.
O seu partido tem estado pressionado pela oposição, que anunciou recentemente uma Frente Patriótica Unida para derrotar o MPLA nas eleições gerais de 2022, num ambiente de crescente tensão política entre as duas principais forças, MPLA e a rival UNITA, que tentam mostrar a sua capacidade de mobilização convocando milhares de pessoas em ações de rua, apesar dos ajuntamentos estarem proibidos devido à covid-19 e servirem, noutras ocasiões, de pretexto para travar protestos.
Ativistas e membros da sociedade civil já convocaram, ao longo destes quatro anos, manifestações exigindo empregos, melhores condições de vida e realização de eleições autárquicas, protestos que nem sempre acabam da melhor forma, tendo havido já mortos e feridos a lamentar.
João Lourenço tem, entretanto, intensificado a aproximação aos seus eleitores.
Depois de visitar, no Bengo, um dos maiores grupos agroindustriais do país, um dos pilares de diversificação económica que o executivo angolano que desenvolver, o Presidente da República deslocou-se ao Cunene para avaliar os efeitos da seca no sul, já considerada a pior dos últimos 40 anos e que está a afetar cerca de 3,5 milhões de pessoas.
João Lourenço tem cerca de 12 meses para mostrar o valor das suas promessas até às próximas eleições, cujo adiamento descartou, apesar de estar em curso um projeto para uma nova divisão político-administrativa.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.