Filipa Cardoso: "Não seria outra coisa que não fadista"
Filipa diz que o fadista atua sempre sem rede.
Numa altura em que o fado anda, mais do que nunca, pelos palcos do Mundo, é importante devolver o fado aos bairros e aos espaços típicos?
Cantar em Portugal é muito diferente de cantar no estrangeiro?
Como é que explica o sucesso do fado lá fora?
… emociona-se muito a cantar?
Alguma vez teve de parar um espetáculo por estar emocionada?
Alguma vez teve de parar um espetáculo por estar emocionada?Aconteceu-me uma vez em Espanha, em que eu voltei ao palco para cantar um fado que habitualmente não canto, que é o Fado Menor, que para mim é o rei dos fados. Quando regressei, o público estava todo de pé. Foi muito emocionante.
O fadista atua sempre sem rede?
E faz alguma preparação especial para os espetáculos?
A sua carreira discográfica não é condizente com os anos que tem de trabalho. Não gosta do estúdio ou tem sido falta de oportunidade?
E já dá para revelar alguma coisa?
É um disco que não vai estar muito longe daquilo que eu sou, mas que não tem só fado tradicional. Eu não seria outra coisa que não fadista, nem quero. Tenho a noção de que não saberia cantar outra coisa, mas dentro do fado há um leque enorme de coisas que se podem cantar, como o folclore, as marchas, os fados musicados. Ou seja, no novo disco vou estar menos presa ao tradicional. Vai ser um disco mais livre.
E porquê o fado e não outro género qualquer?
Recorda-se da primeira vez que ouviu um fado?
E como é que uma criança com essa idade se deixa arrebatar por uma música como o fado?
E como é que uma criança com essa idade se deixa arrebatar por uma música como o fado?Eu sempre andei pelos ambientes do fado, graças à minha avó e à minha tia. Elas é que me levavam aos teatros, às revistas e às casas de fado. Lembro-me de uma vez ir a uma coletividade perto de onde moro e de estar lá a cantar um senhor chamado Fernando Maurício, que na altura muitos chamavam o rei do fado.
E como é que foi essa experiência?
Vem de uma geração para a qual era 'foleiro' gostar de fado. Há fadistas que dizem que ouviam fado às escondidas dos amigos!
Mas durante muito tempo os jovens sempre tiveram um certo preconceito contra o fado!
E como é que respondia a isso?
Eu dizia-lhes sempre: ‘Vocês nem sabem!’ [risos]. Curiosamente, hoje em dia esses meus amigos da escola vão ver os meus concertos.
Mas hoje as coisas estão diferentes. Os jovens passaram a interessar-se pelo fado porque o fado também se soube abrir!
E isso quer dizer que existe o tão falado fado novo?
E há limites para essas novas roupagens?
Não. O fado pode estar onde nós quisermos. E depois ninguém sabe dizer o que é o fado realmente, onde é que ele nasceu, como começou. Há muitas teorias, mas em concreto ninguém sabe explicar. E essa é a grande beleza do fado: o mistério.
"Queria ser obstetra"
Recorda-se da primeira vez que cantou fado em público?
Recorda-se da primeira vez que cantou fado em público?Foi no casamento de uma prima. Peguei no microfone e comecei a cantar um fado a cappella. Mas eu sempre cantei para a família depois da hora do café ou do chá. Eu pedia mesmo: "Agora apresentem-me que eu vou cantar."
E quando é que percebeu que esse seria o caminho a seguir?
E quando é que percebeu que esse seria o caminho a seguir?Isso foi bem mais tarde. Quando era miúda, queria ser obstetra, mas como sou péssima a matemática a coisa ficou pelo caminho. Aos 16 anos, fui ao aniversário de uma colega minha, que era neta de Raul Silva, um violista de fado, que me pediu para cantar com o avô. Eu só sabia um fado da Hermínia Silva, A Sina. Cantei e o senhor disse-me logo: "À noite vens comigo à Taverna do Embuçado." Fui pedir autorização à minha mãe e lá fui eu. Quando cheguei, quem é que encontrei? Paquito e Ricardo Rocha, dois monstros. Quase nem merecia a pena cantar só para os ouvir [risos]. Fui logo contratada. Quase ao mesmo tempo, comecei a cantar também na Taverna d’El Rey.
Mas houve uma altura em que esteve dez anos afastada. Porquê?
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