MÁRIO VIEGAS... E TUDO!
“Revelações sensacionais. Segredos político-teatrais nunca divulgados”, nem manchete de jornal nem palavra de ordem, é a primeira página da ‘Auto-Photo Biografia Não Autorizada’ de Mário Viegas.
Santarém está a homenagear o filho da terra com a reposição da mostra documental ‘Um Rapaz Chamado Mário Viegas’. Cascais não faz por menos e avança com o relançamento da fotobiografia do actor que ali se fez profissional: “Foi o dia mais feliz da minha vida”, da legenda da fotografia da estreia de ‘O Comissário de Polícia’. Era o dia 16 de Fevereiro de 1968.
O livro, uma edição da autarquia, tem o inusitado formato A3 e é uma edição fac-similada, segundo o original do autor. E se há quem lhe lamente o ar artesanal, quase grotesco, não falta quem ali, a pouca distância do caos, se sinta como quem descobriu um tesouro... Imagine-se um sótão, desses como já não há, com arcas e baús velhos, muito velhos, por onde espreitam senão segredos, memórias: a memória do mestre.
NO SÓTÃO DO MESTRE
O mestre cita por mestres Luiz Pacheco e Mário Alberto. Elege herói absoluto Zeca Afonso. Culpa os filmes de Walt Disney da fragilidade da ternura e defende-se dela com a risada antes do riso com que neutraliza sorrisos de circunstância como os que acompanham a fotografia do 10 de Junho de 1994 que o fixou Comendador da Ordem do Infante: “Estão todos a rir-se de mim. E eu também”.
Mestre porque soube pôr mestria em tudo quanto fez e até na memória que deixou das coisas por fazer: do humor à poesia, do teatro ao cinema, da rádio à televisão e aos palcos, qualquer palco... E não foram poucos os da resistência em nome da poesia, com a PIDE em cima e Adriano ou Zeca ao lado. Fez pela cidadania o melhor que um homem pode fazer: ‘Europa não, Portugal, nunca’ (S. Luiz, 1994). Fez pela poesia tudo o que um poeta pode fazer, até televisão, onde deixou por preencher os lugares antes ocupados por ‘Palavras Ditas’ e ‘Palavras Vivas’ ou ‘Peço a Palavra’: “Nunca mais fui convidado a fazer nada para crianças, na RTP, depois deste enorme êxito de 76/77. Nunca uma destas crianças (centenas) se me dirigiu mais tarde. Um grande desgosto que tenho”. Teve mais.
Provocador, acumulou paixões e ódios em partes iguais e intensidades convergentes. São 250 páginas de textos e fotos, cartas e notas, bilhetes e excertos do diário, bandas desenhadas e cartazes, recortes de arquivo... Como o da fotomontagem do seu casamento com a actriz Fernanda Torres: “Mentira do 1.º de Abril do Sete”, legendou. Por isso, quando no dia 1 de Abril de 1996 as manchetes deram a notícia, ‘Morreu Mário Viegas’, ninguém acreditou. Ninguém.
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