Mia Couto e um conto vital para "nos salvar como humanidade"

'As Sementes do Céu' é o título do mais recente livro de Mia Couto, lançado pela editorial Caminho.

19 de dezembro de 2025 às 01:30
Mia Couto Foto: Pedro Catarino / Correio da Manhã
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‘As Sementes do Céu’, um conto repleto de sensibilidade e poesia, ilustrado por Susa Monteiro, e que convida à reflexão sobre a preservação do meio ambiente e ao diálogo entre gerações, é o novo livro do escritor moçambicano Mia Couto.

A história, uma conversa entre avô e neto, que tem por mote o trágico desaparecimento de uma imensa floresta na montanha, “é absolutamente vital para nos salvar como humanidade”, explicou ao CM o escritor. Também ele é avó de vários netos que o “instigam a falar com eles por via de mundos inventados”.

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“A história tem mais a ver com esses netos do que com o meio ambiente. Eles sabem que eu viajo com árvores nos bolsos. Sou biólogo e trago sementes e pequenas estacas porque as árvores nos superam a nós, os animais, nessa possibilidade de renascerem a partir de um pedaço do corpo”, começa por explicar. Por isso, é tão urgente partilhar afetos e sabedoria entre gerações.

“Somos humanos porque temos histórias e memórias para partilhar. Para sermos humanos é preciso que o mundo e a vida façam sentido. E esse sentido é produzido não tanto pela informação trocada mas pelo afecto e pela presença física da voz, do olhar, dos silêncios fabricados em conjunto. A invasão dos ecrãs sucede pelo déficit desse vínculo criado por esses momentos de partilha entre todos nós”, lembra. Pelo meio, é ainda preciso salvar o planeta mas, para isso "ainda vai ser preciso que ocorram mudanças na gestão política e no modelo predador de economia", frisa Mia. 

"É ainda mais urgente aprendemos que o lugar da nossa espécie não é no centro nem no topo de uma ilusória pirâmide. Ninguém nos legitimou como administradores dos erradamente chamados 'recursos' naturais. A vida é uma orquestra em que todos os instumentistas são maestros e o palco dessa orquestra é o planeta inteiro", conclui.

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