Teatro: Camus acusa Deus
Companhia Gato que Ladra pediu nova peça a Afonso Cruz.
O escritor português Afonso Cruz voltou a colaborar com a companhia Gato que Ladra e o resultado – que está em cena na Sala Estúdio do Teatro da Trindade, em Lisboa, até domingo, 21 – chama-se ‘Deus, o Criado de Camus’. Um trabalho inspirado na obra de Albert Camus e que questiona a função de Deus nas nossas sociedades.
O autor explica em que contexto surgiu este projeto, que é a sua terceira colaboração com o grupo de Lisboa.
"A encenadora Rute Rocha começou por me falar da peça ‘O Equívoco’, do Camus, onde descobrimos uma figura muito curiosa. Um criado de hotel que, quando chamado a intervir para travar uma situação injusta, nada faz", conta-nos Afonso Cruz.
"Apercebi-me que essa figura simboliza, no texto, o próprio Deus. Deus que nada faz perante o sofrimento dos homens, que parece ser-lhe indiferente. Foi a partir daí que construí três pequenas histórias, que entreguei à companhia."
Os textos, que foram desconstruídos e baralhados pelo colectivo (para além da encenadora, os atores Cristina Cavalinhos, José Mateus e Pedro Barbeitos), fazem-se ouvir em cena como acusações contra a impassibilidade perante o mal do Mundo. Que fazemos perante sem-abrigo, crianças doentes ou refugiados de guerra? Desviamos os olhos ou desligamos a televisão.
"É a mesma impassibilidade que a sociedade portuguesa tem face ao Governo, por exemplo", sublinha Afonso Cruz, que encontra indiferença por todo o lado. "Claro que este texto questiona a ausência de Deus, que até os crentes sentem como uma entidade afastada do quotidiano. Mas a mim preocupa-me mais o homem… Se Deus não está presente, então cabe ao homem corrigir as injustiças. Se não o faz, pactua com a injustiça."
O escritor, que confessa gostar "muito" do trabalho desta companhia, diz que "é muito possível" voltar a colaborar com o Gato que Ladra. Para já, ‘Deus, o Criado de Camus’ é para ver quarta, sexta e sábado às 21h45 e domingo às 17h00.
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