Quem a viu já este ano no Casino da Póvoa guarda poucas dúvidas de que estamos perante uma estrela que só o tempo fará chegar ao ponto máximo.
Diagnosticaram-lhe, com a pressa sentenciosa que é habitual nos que não sabem esperar para ver, o estatuto de “satélite artificial de Norah Jones”. Podia ser uma condenação precoce, acabou por ser um bálsamo para Katie Melua, aliviada da pressão logo no seu álbum de partida, ‘Call Off The Search’.
Tanto como as canções, viradas para um público mais velho do que a própria intérprete [tem agora 21 anos, por incrível que pareça], impressionava a frescura ainda juvenil da sua voz. E, percebe-se agora muito melhor, Miss Melua não cantava ao acaso; começava, isso sim, a escolher um reportório sólido e capaz de fazer o cruzamento feliz por várias espécies de audiências.
Quem a viu já este ano no Casino da Póvoa de Varzim (e pode vê--la no excelente DVD que é ‘On The Road Again’) guarda poucas dúvidas de que estamos perante uma estrela, ainda à procura de um brilho que só o tempo, a variedade de experiências, uma ainda maior eficácia na escrita e no moldar das cantigas farão chegar ao ponto máximo. Simples, simpática, sem arremedos de estrela, Katie faz-se rodear – no palco como no disco – pela segurança dos veteranos. Lá estão as guitarras dos grandes Chris Spedding e Jim Cregan (que vimos em Portugal, há mais de vinte anos, como parceiro de Rod Stewart), a bateria ‘quanto baste’ de Henry Spinetti (que, entre outros, foi músico eleito por Eric Clapton, Bob Dylan, Paul McCartney, George Harrison, Joan Armatrading e Gerry Rafferty) e, a comandar, Mike Batt (um controverso mas famoso compositor, produtor, arranjador e maestro inglês que trabalhou com Justin Hayward, dos Moody Blues, Art Garfunkel, Elkie Brooks e os Steeleye Span).
É daqui, destas presenças, que vem uma parte da tranquilidade dos discos de Katie Melua, nomeadamente daquele que agora está em questão, ‘Piece By Piece’. O que não é, de todo, sinónimo de meias-tintas, já que o embrulho arrumadinho não afasta nem anula as inquietações de quem as canta. Trata-se, tão só, de tornar coerente (e, em boa verdade, irresistível) um disco que concilia um ‘standard’ de Harold Arlen e Johnny Mercer, ‘Blues In The Night’, com um tema superior da geração rock de 80, ‘Just Like Heaven’, dos Cure.
De resto, Batt assina diversas canções (entre as quais o primeiro ‘single’, o pictórico ‘Nine Million Bicycles’) e Katie reserva para si umas quantas (a que dá o título ao álbum, por exemplo, é uma clássica balada de ruptura, enquanto ‘Spider’s Web’ já aborda a questão do racismo e da necessidade de convivência e respeito, deixando para fecho um momento com dedicatória a uma qualquer Mary, ‘I Cried For You’, e um manifesto de crédito ao amor, ‘I Do Believe In Love’, apesar de tudo…).
Falta aqui, se me permitem, a canção que Katie Melua dedicou aos irlandeses e reservou exclusivamente para os ‘downloads’ e para os espectáculos, ‘Belfast (Penguins and Cats)’, que acrescentaria outro lastro a este disco que se percorre com a mesma sensação de frescura que sentimos quando mergulhamos as mãos na água de um regato. Limpo, despoluído, sem fundos lodosos, belo de se ver – ou ouvir – ainda que saibamos que foi ali colocado estrategicamente para nosso usufruto. ‘Piece By Piece’ é, em suma, um firme passo em frente para que esta nativa da Geórgia, não a de Ray Charles mas a antiga república soviética, continue a ganhar adeptos e fiéis à sua voz e ao seu inquestionável gosto musical. Ela merece. E nós também.
Boas notícias: os veteranos SIMPLE MINDS não publicavam um álbum consistente como ‘Black & White 050505’ há dezena e meia de anos (desde ‘Street Fighting Years’) e não dispunham de uma canção poderosa como ‘Home’ há uma década (desde ‘She’s a River’). Desta vez, Jim Kerr não se perde em exageros e a guitarra de Charles Burchill recupera toda a magia. A crítica vai ignorar: eles não estão na moda. Mas estão eficazes e inspirados, a surpreender os subscritores da respectiva certidão de óbito.
Ao arrepio de todas as modas, fazendo fé na simplicidade melódica dos anos 50 e 60, apostando na rugosidade das guitarras da ‘new wave’, criando delícias com harmonias a três vozes, eis os MAGIC NUMBERS. Dois casais de irmãos, os Stodart e os Gannon, vestem-se de negro e deixam o colorido para canções como ‘Love Me Like You’, ‘I See You, You See Me’, ‘Wheels On Fire’ e a pérola que é ‘Hymn For Her’ (o ‘single’, apesar de fechar o CD). A ingenuidade compensa? Em casos como este, claro que sim.
A personalidade musical dos WATERBOYS sempre se confundiu com a do seu líder e cantor, Mike Scott. Assim, não espanta que num álbum de palco com assinatura de grupo, ‘Karma To Burn’, se misturem canções de ‘This Is the Sea’ (sim, ‘The Whole of the Moon’, mas não só) e de ‘Fisherman’s Blues’ (o tema título) com as dos discos de Scott. Duas óptimas versões (uma delas para um original de Rodney Crowell) ajudam à festa, muito mais do que a prova de vida. Não merecia de todo ser ignorado por cá.
Tem edição – que já devia ter chegado a Portugal – em triplo CD, ‘Threesome’, mas corresponde a três álbuns distintos: ‘Don’t Ask, Don’t Tell’ é o mais sério, com canções de ressaca de um divórcio a mostrarem como a jovem de ‘The Texas Campfire Tapes’ cresceu; ‘Mexican Standoff’ cruza o ‘mariachi’ com o ‘blues’ solista; e ‘Got No Strings’ viaja, com instrumentação inesperada, pelos temas da Disney e não só. Três facetas complementares de MICHELLE SHOCKED, em plena forma e sem preconceitos.
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