"A harmonia do mundo depende da rectificação dos nomes." (Confúcio)
Acho que você gostaria de saber como surgiu a deturpação do mantra Yôga e o motivo de algumas pessoas com atrelamentos ideológicos se apegarem ao erro óbvio, obstinando-se em não aceitar a evidência do que está certo.
Na década de 60, surgiu o primeiro autor brasileiro a escrever sobre o assunto. Foi o general Caio Miranda.
Sendo do Rio de Janeiro, o general pronunciava os oo abertos e, por isso, dizia "a yóga". Como algumas pessoas mais bem informadas questionassem tal pronúncia, ele não fez por menos: publicou uma nova obra em 1962 pela Editora Freitas Bastos, intitulada Hatha Yóga e fez constar na capa do livro, bem como no texto interno, um acento agudo no o!
No miolo desse livro ele ainda reforçava, na página 26, declarando que existiam os dois, "a yóga" e o Yôga. Que "a yóga" era a prática do Yôga, e que este era mais profundo, era a filosofia em si. Quando isso foi escrito não era verdade, tratava-se de um equívoco; mas trinta anos depois, para este país passou a ser parte da idiossincrasia nacional. O Brasil é a única nação que possui os dois, o Yôga e “a yóga”.
Na época ninguém discutiu. Nem podia! Logo em seguida instalou-se a ditadura militar e quem instilava o erro era um general! Ainda por cima, era o Chefe da Agência Nacional, o órgão do Governo que determinava à Imprensa o que ela devia publicar. Assim, a Imprensa escrita, falada e televisionada da época curvou-se à vontade do general e passou a divulgar a palavra “yóga” no género feminino e com pronúncia aberta.
AFINAL, A PALAVRA YÔGA TEM ACENTO?
Na verdade, tem. Se alguém, supostamente entendido em sânscrito, declarar que a palavra Yôga não tem acento, peça-lhe para mostrar como se escreve o ô-ki-matra. Depois peça-lhe para indicar onde o ô-ki-matra aparece na palavra Yôga (ele aparece logo depois da letra y). Em seguida pergunte-lhe o que significa cada uma das três partes do termo ô-ki-matra. Ele deverá responder que o é a letra o; ki significa de; e matra traduz-se como acento. Ô-ki-matra traduz-se como “acento do o”. Então, provado está que a palavra Yôga tem acento.
O acento no sânscrito transliterado deve aparecer sempre que, no original, em alfabeto dêvanágarí, houver uma letra longa. A letra longa, via de regra, é representada por um traço vertical a mais, logo após a sílaba que deve ser alongada. Para indicar isso em alfabeto latino, na convenção que adoptamos, usa-se acento agudo quando se tratar dos fonemas a, i, u; ou circunflexo quando for o ou e. Estes últimos, no sânscrito, têm sempre o som fechado. Não existe o o aberto nem o e aberto.
Devemos esclarecer que o fonema ô é resultante da fusão do a com o u e, por isso, é sempre longo, pois contém duas letras.
Nesta convenção, o acento agudo é aplicado sobre as letras longas quando ocorre crase ou fusão de letras iguais (á, í, ú). O acento circunflexo é aplicado quando ocorre crase ou fusão de letras diferentes (a i = ê; a u = ô), por exemplo, em sa íshwara = sêshwara; e AUM, que se pronuncia ÔM. Daí grafarmos Vêdánta.
Bibliografia para o idioma espanhol:
- Léxico de Filosofía Hindú, de Kastberger, Editorial Kier, Buenos Aires.
Bibliografia para o idioma inglês:
- Pátañjali Aphorisms of Yôga, de Srí Purôhit Swámi, Faber and Faber, Londres.
- Encyclopædia Britannica, no verbete Sanskrit language and literature, volume XIX, edição de 1954.
PALAVRA É MANTRA: PRONUNCIE CORRECTAMENTE COM Ô FECHADO
Pronunciar um mantra erradamente pode desencadear forças desconhecidas com efeitos imprevisíveis. Vale a pena recordar aqui o caso daquele professor de "yóga" do Rio de Janeiro (Vayuánanda, aliás, capitão Carlos Trota) que ensinava o bíjá mantra errado para o chakra do coração – usava pam no lugar de yam – e morreu de ataque cardíaco. Uma coincidência, certamente!
Se o mantra que designa esta filosofia de poder, saúde, amor e união, se pronuncia Yôga, com ô fechado, quem pronunciar erradamente "yóga", com ó aberto, não conseguirá entrar em sintonia com o seu clichê arquivado no inconsciente coletivo ou registro akáshiko. Por isso, tais pessoas não conseguem poder, saúde, amor nem união, mas seus opostos.
Quando os Mestres ancestrais determinaram o som mântrico Yôga, com ô fechado, para designar a nossa filosofia, eles sabiam muito bem o que estavam fazendo e a ninguém mais cabe a arrogancia de achar que pode alterar impunemente o nome do Yôga.
Muito da força que os mantras possuem deve-se ao conhecimento dos Mestres que souberam elaborá-lo numa alquimia de vibrações. Mas outro tanto do seu poder é adquirido com o passar dos séculos, cujo tempo o impregna cada vez mais profundamente no inconsciente colectivo da humanidade. E, ainda, um outro tanto é gerado pela multiplicação quantitativa de pessoas que usam e veneram tais mantras, imantando-os com o poder dos seus próprios inconscientes individuais, prána, mente e anima. No caso da palavra Yôga, com ô fechado, temos todos esses três factores:
a) foi criado pelos Mestres ancestrais;
b) tem milhares de anos de antiguidade;
c) vem sendo utilizado e venerado por milhões de pessoas em cada geração, há milénios.
Tudo isso, porém, só se aplica à pronúncia correta do mantra Yôga com ô fechado. Depois destas explicações, você ainda acha justificável o argumento evasivo de que "estamos no Brasil e aqui se fala a yóga"? Essa premissa é falsa: no nosso país pronuncia-se o Yôga, sim senhor, numa percentagem bem elevada, especialmente entre os que mais entendem do assunto.
Não se trata de um simples detalhe sem valor. Trata-se de uma filigrana da mais alta importância, que utilizamos para separar o joio do trigo. Uma pessoa que entenda do assunto pronunciará o Yôga, enquanto que um ensinante sem boa formação pronunciará "a yóga".
Por isso, quando alguém diz que está fazendo "yóga", é exactamente isso o que está fazendo. Noutras palavras, não está praticando aquela filosofia que na antiguidade recebeu o nome de Yôga e assim tem sido chamada durante milénios, no mundo inteiro.
Quem diz que faz ou ensina "yóga", está se referindo a uma outra modalidade totalmente distinta, que teve origem no século vinte, aqui mesmo no Brasil. A "yóga" tem outra finalidade. Não pode ser confundida com o Yôga.
Ainda há aqueles que argumentam:
– Yôga, yóga, tanto faz; com acento, sem acento, não faz diferença.
Quer dizer que não há diferença entre sábia, sabia e sabiá? Pois as diferenças entre uma pessoa sábia e um sabiá são as mesmas que existem entre o Yôga e a "yóga". Não sabia?
Quando pronunciamos corretamente os fonemas abertos ou fechados, isso estabelece distinções de significado. Veja, por exemplo, a frase: “Meu molho (mólho) de chaves caiu dentro do molho (môlho) de tomate.” Imaginou inverter para um “môlho” de chaves e um “mólho” de tomates? As chaves teriam que ser deixadas dentro da panela com água, e os tomates estariam em um feixe. Considere agora este outro exemplo: “Aquela menina travessa quebrou a travessa de comida.” Mais uma vez, a pronúncia, fechada no primeiro caso e aberta no segundo, determina significados totalmente diferentes.
Quanto à escrita, o y e o i no sânscrito têm valores fonéticos, semânticos, ortográficos e vibratórios totalmente diferentes. O i é uma letra que não se usa antes de vogais, enquanto que o y é fluido e rápido para se associar harmoniosamente com a vogal seguinte. Mesmo as palavras sânscritas terminadas em i, frequentemente têm-na substituída pelo y se a palavra seguinte iniciar por vogal, a fim de obter fluidez na linguagem. Esse é o caso do termo ádi que, acompanhado da palavra ashtánga, fica ády ashtánga.
Vamos encontrar a palavra "ioga" sem o y no Dicionário Aurélio, com a justificativa de que o y "não existe" no português! (1) Só que no mesmo dicionário constam as palavras baby, play-boy, playground, office-boy, spray, show, water polo, watt, wind surf, W.C., sweepstake, c
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