Luciano Pavarotti, de 71 anos, morreu ontem de madrugada na sua casa de Modena, Itália, de onde era natural, vítima de um cancro no pâncreas. As cerimónias fúnebres realizam-se amanhã na Catedral de Modena, cidade cujo teatro local vai herdar o nome do tenor.
O estado de saúde de Pavarotti piorou a 8 de Agosto, dia em que foi hospitalizado, mas a 25 regressou a casa e à família. Pavarotti não era visto em público desde a cirurgia ao pâncreas em Julho de 2006, realizada em Nova Iorque, cinco meses após a última actuação.
Na ocasião o tenor apressou-se a manifestar a intenção de retomar a digressão de despedida iniciada em Maio de 2004 – que incluía um concerto no Pavilhão Atlântico em Abril de 2006 – que o estado de saúde obrigou a interromper.
“Com esta doença nunca se sabe mas acho que Luciano se vai safar. Ele está bem. Está a terminar um quinto ciclo de quimioterapia e não perdeu um único cabelo e, acima de tudo, não emagreceu”, palavras ditas no início do Verão por Nicoletta Mantovani, a segunda mulher, com quem Pavarotti contraiu matrimónio em 2003 e com quem teve uma filha, Alice.
Luciano Pavarotti, que com José Carreras e Plácido Domingo constituía o trio de ouro mundialmente conhecido como Os Três Tenores (ver caixa), era um homem afável de barba rija e sorriso franco, a quem encantavam Puccini, boas massas e melhores vinhos. E mais, poucos sabem, tinha um ritual: cantava todos os natais na igreja matriz da terra natal.
Em Portugal o Rodolfo de ‘La Bohème’, papel de estreia na sua ópera preferida, actuou duas vezes: uma em Lisboa e outra no Algarve.
Para este gigante de 1,90 m de altura e um peso problemático que oscilava entre os 85 e os 120 quilos, a desmedida grandeza do talento nem por isso dispensava a humildade com que reagia ao reconhecimento.
“Inclino-me cheio de emoção e gratidão pelo prémio que acaba de me ser atribuído porque me dá a oportunidade de continuar a celebrar a magia de uma vida ao serviço da arte”, afirmou, em comunicado, na quarta-feira, reagindo ao anúncio de um prémio de excelência cultural de que foi o primeiro galardoado.
Luciano Pavarotti – dois casamentos e quatro filhas – nasceu no dia 12 de Outubro de 1935 em Modena, norte de Itália, numa família humilde mas com tradição musical. Tendo começado por se dedicar ao ensino, fez estreia operática em 1961, curiosamente na sua ópera preferida, ‘La Bohème’, de Puccini, no papel de Rodolfo. Outros papéis relevantes foram: Radamés (‘Aida’), Manrico (‘Il Trovatore’), Nemorino (‘L’elisir d’amore’) ou Cavaradossi (‘Tosca’). A versatilidade do reportório nem sempre lhe foi favorável e conseguiu mesmo a fúria dos críticos, ao formar duetos com Sting, Joe Cocker ou Mariah Carey, o que fez em nome de causas humanitárias.
"QUANDO O FIZERAM DEITARAM O MOLDE FORA"
“Temos de o lembrar como o grande artista que era, o homem de maravilhosa e carismática personalidade que também era mas, sobretudo, como bom amigo e grande jogador de póquer...” Assim reagiu José Carreras à morte do companheiro de pautas e de palcos desde que, em 1990, o Mundial de Futebol que então se disputava em Itália juntou Os Três Tenores: Pavarotti, Carreras e Domingo.
“Sempre admirei aquele dom de Deus que era a sua voz; aquele irrepreensível timbre que se mantinha desde a base até ao topo da escala de tenor. Quando o fizeram deitaram fora o molde”, comentou Plácido Domingo em Los Angeles. Os Três Tenores actuaram juntos durante mais de uma década e gravaram, em 1994, um álbum do mesmo nome que continua a ser o mais vendido de sempre da música clássica.
BONO ESCREVE TRIBUTO AO TENOR NO SITE DOS U2
“Alguns sabem cantar ópera, Pavarotti era uma ópera. Ninguém conseguia habitar essas melodias acrobáticas como ele.” Assim começa o tributo de Bono, vocalista dos U2 (colocado no site da banda irlandesa), ao amigo para quem o grupo escreveu um dos seus êxitos, ‘Miss Sarajevo’, com o intuito de angariar fundos para as crianças bósnias. “A sua vida e o seu talento eram grandes mas o seu sentido de ajuda aos fracos e vulneráveis era maior”, escreve o músico, referindo-se à faceta humanitária do tenor italiano, que criou os concertos, os discos e os DVD ‘Pavarotti & Friends’ com o propósito de ajudar quem precisa. Uma mistura da clássica com a pop, com palco em Modena, que muitos não viram com bons olhos mas que criaram momentos de excepção nos duetos com U2, Sting, Mariah Carey, Zucchero, Susanne Vega, Bob Geldof, Mike Oldfield. Pavarotti era, segundo Bono, “intelectualmente curioso e não se ficava pela sua geração: adorava ideias novas, pessoas novas, novos formatos de canção”.
“Era incrível estar junto dessa voz e cantar em coro com ela. Era um homem repleto de bondade”
Joan Sutherland (soprano)
“Era um ser único [...] pela imensidão da sua bondade. Adorava-o e admirava-o ainda mais”
Montserrat Cababallé (soprano)
“É a perda da mais bonita voz de tenor dos meus tempos e de um ser humano extraordinário”.
Ioan Holender (director Ópera de Viena)
“A mais bela voz de tenor que conhecemos; a mais fácil e mais notável. É chocante perder-se uma voz e um talento únicos”
Ana Paula Russo (soprano)
“A sua voz era tão característica que bastava ouvir alguns compassos para se saber que era ele.”
Russell Watson (tenor)
“Tinha uma voz natural, com uma cor e um brilho que chegavam ao coração das pessoas.”
Pedro Chaves (dir. Comp.Portuguesa de Ópera)
“Foi o maior fenómeno de comunicabilidade na cena lírica mundial. Mais do que um músico era um cantor.”
Gabriela Canavilhas (dir. Orq. Metropolitana)
“Era um homem que tinha o sol na sua voz.”
Andrea Silvestrelli (baixo-barítono)
“Tinha uma voz aberta, clara, brilhante, penetrante, sonora, emocionante. Actuava com a voz.”
Jeremy Isaacs (ex-dir. Royal Opera House)
“É um dia triste para a ópera europeia.”
Durão Barroso (Pres. Comissão Europeia)
“Houve tenores e depois houve Pavarotti.”
Franco Zeffirelli (cineasta)
AMIGA REAL
A princesa Diana estava entre os incondicionais do “maior tenor de sempre depois de Caruso”, como era chamado por muitos melómanos.
AMIGO ESPIRRITUAL
Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos, foi um dos amigos que testemunharam a generosidade com que o tenor abraçou causas humanitárias.
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