page view

Cantora açoriana lança disco

Beatriz Noronha levou quatro anos a fazer primeiro disco a solo ‘Chi-Coração’, um tratado de rotas musicais que se cruzam no mesmo espaço insular.

09 de março de 2015 às 18:31

"Sou de uma ilha. Não há volta a dar" ouve-se num dos temas de ‘Chi-Coração’, o disco de estreia de Bia, uma insular de São Miguel que faz da música uma mistura por vezes improvável entre o tradicional e o moderno. "Sou um cozido à portuguesa com cheiro a enxofre", diz, entre risos.

Assim, como durante muitos séculos os Açores tiveram uma enorme importância geoestratégica nas rotas transatlânticas, também Bia representa uma encruzilhada de rotas musicais e sonoras. ‘Chi-Coração’ abraça pop, jazz, rock, hip hop, fado e até viras, numa reinvenção muito própria do que pode ser uma música urbana moderna de cariz folclórica ou tradicional. Mas Beatriz Noronha é assim mesmo, uma cantora rodeada de música por todos os lados que ao primeiro registo se atira para fora de pé sem receio dos desconfiados e muito menos dos críticos. "Eu tinha de fazer uma coisa que fosse fiel a mim própria e eu sou isto tudo que se ouve no disco. Fazer um disco que fosse igual do início ao fim seria para mim uma coisa muito chata", explica.

Foi nos Açores que começou na música num conjunto de covers que passou por todos os palcos e coretos de São Miguel. "Fui rebelde o suficiente, mas não podia baixar as notas", conta Bia que aos 18 anos ‘desencantou’ um curso de Arquitetura em Lisboa para ‘fugir’ à ilha e justificar aos pais uma vida no continente. "Hoje já não tinha essa desculpa", diz. O curso ‘inventado’, no entanto, até acabou por dar jeito à música. "Faço pautas em autocad [software utilizado em design] e tudo. Aprendi coisas na faculdade que uso em prol de outros benefícios".

Foi com o grupo Xaile que experimentou alguns palcos nacionais e internacionais. A carreira a solo chega agora muitas lutas depois. "Primeiro fui mãe e estive muito tempo dedicada em exclusivo à minha filha. Depois levei tempo a ganhar confiança para fazer um trabalho sozinha.Também se fecharam muitas portas, tive reuniões com editoras que simplesmente não me davam respostas. Por isso, num meio em que são sete cães a um osso, tive de acreditar e não ter medo".

‘Chi-Coração’ é uma espécie de prova de vida de quem é de uma ilha e não tem volta a dar, de quem tem talento nato e força de vontade,de quem sabe que para dar dois passos à frente por vezes é preciso dar um atrás. "O trabalho de parto chama-se assim porque é uma coisa que dá trabalho. E este disco deu-me imenso que fazer [risos]" compara.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8